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Youtubers homens que usam maquiagem colocam os cosméticos no debate de gênero

Tim Owens, conhecido como Skelotim nas redes sociais, segura um pacote de doces. Ele se inspira nos pacotes para produzir sua maquiagem - The New York Times
Tim Owens, conhecido como Skelotim nas redes sociais, segura um pacote de doces. Ele se inspira nos pacotes para produzir sua maquiagem Imagem: The New York Times

Amanda Hess

20/10/2016 06h00

Minha pessoa favorita no Instagram hoje é um rapaz que combina a maquiagem com a cor das calças.

Seu nome é Tim Owens, mas online ele atende por Skelotim, e é um homem careca, sempre de barba por fazer, que se vira muito bem com um kit de maquiagem. Na semana passada ele postou um vídeo aplicando a si mesmo uma sombra de olho roxo-escuro, delineador azul-celeste, cílios postiços e um ousado batom uva. Depois de disparar para a câmera uma série de olhares picantes, ele levantou um sanduíche industrializado Smucker’s Uncrustables, de manteiga de amendoim com geleia de uva, revelando sua inspiração culinária para o look do dia.

Ver Skelotim trabalhando é hipnótico. Ele habilmente executa sua rotina de maquiagem com música pop retumbante, transformando-se de um sujeito normal em uma visão brilhante do estranho e fabuloso. É exatamente como Cinderela, girando e girando, até que se vê usando um volumoso vestido de baile azul, só que Skelotim está virando um Cheeto Super Picante. Na era do selfie, que tela é mais apropriada para um artista da internet que seu próprio rosto?

Skelotim é um dentre alguns rapazes que abriram caminho com suas sombras e brilhos para o mundo basicamente feminino da maquiagem no Instagram e no YouTube. Angel Merino (1,2 milhão de seguidores no Instagram), um "artista de makeup" celebridade, abala nos visuais glam, de alto brilho, e possui uma compreensão quase sobrenatural dos melhores ângulos para fotos. Jake-Jamie Ward, o "Beauty Boy" do YouTube, 24 anos, prefere uma abordagem mais natural: seu popular manual em vídeo, "Makeup for Men" [Maquiagem para homens] inclui dicas sobre como esconder manchas e aparar a barba. E Patrick Starrr filma elaborados manuais de maquiagem para o YouTube (onde ele tem 1,7 milhão de assinantes), depois ruma para o Instagram para publicar fotos de si mesmo passeando por Las Vegas e Bora Bora.

Não importa o que esses caras façam, parece um pouquinho excêntrico. Um homem celebrar a si mesmo com maquiagem é um ato subversivo.

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James Charles, um estudante de Nova York que tem mais de 724 mil seguidores no Instagram e um popular canal de Youtube, é o mais novo rosto da marca de cosméticos CoverGirl
Imagem: CoverGirl via The New York Times

E de repente a indústria de cosméticos quer saber. Na semana passada, a marca de cosméticos "CoverGirl" nomeou seu primeiro cover boy, James Charles, 17, do Estado de Nova York, que atraiu um público de 724 mil seguidores no Instagram para selfies de seu rosto pintado com cores Lisa Frank, visuais inspirados em Roy Lichtenstein e paisagens viajantes. Sem deixar para trás, a Maybelline encontrou seu próprio It Boy em Manny Gutierrez, um astro da beleza conhecido no Instagram e no YouTube como Manny Mua, que posta maquiagens inspiradoras, tutoriais espertos e monólogos sobre sua jornada de menino mórmon a homem maquiado. Na semana passada ele foi nomeado para a lista anual de astros em ascensão da revista "People", "Ones to Watch".

Esses "beauty boys", como às vezes são chamados, não estão apenas sendo aceitos na corrente dominante do mundo da beleza. Estão ajudando a dar à indústria de cosméticos uma reforma moderna muito necessária. O mantra da Maybelline --"Talvez ela tenha nascido assim. Talvez seja Maybelline"-- chamava as mulheres a corrigir seus defeitos com truques de maquiagem e apresentar-se como belezas naturais. Os gurus da beleza masculina desconstroem essa ilusão. Colocam a maquiagem não como um suplemento para as deficiências naturais, mas como uma forma de criação divertida.

Grande parte do apelo do beauty boy está em sua adoção do artifício lúdico da maquiagem. Ben J. Pierce, que chama a si mesmo de "apaixonado ativista da sobrancelha", filmou vídeos no YouTube maquiado como uma abóbora e um ovo sexy. A metade da graça de ver os clipes de Gutierrez é captar os olhares assumidamente bobos de "Zoolander" que ele atira para a câmera entre os truques de maquiagem. E a dedicação de Charles ao excesso foi o que o projetou ao estrelato: recentemente, ele levou sua própria iluminação "ring light" à sessão de fotos para garantir, como disse, que "minha luz estivesse total". A ideia se tornou viral.

Enquanto esses homens se empastam de maquiagem, estão revelando normas de gênero. Os especialistas em beleza masculina no YouTube e no Instagram não são drag queens, artistas que usam a maquiagem para se transformar em uma miragem de excessos femininos. Muitos deles adotam suas feições tradicionalmente masculinas --barba rala ou espessa, carecas. Como diz Patrick Starr em um de seus vídeos, "Eu sou um homem. Sou um homem com maquiagem. E adoro maquiagem".

Nos comentários que se desenrolam abaixo de seus clipes, homens se reúnem para trocar conselhos sobre bronzeadores sem brilho, mas também para falar de suas ansiedades sobre gênero e identidade sexual. (Como perguntou um observador curioso: "Se eu fizer isso, é gay?" Não, respondeu a turma.)

Os especialistas em beleza masculina sofrem assédio na internet --patrulheiros habitualmente marcam os vídeos de Skelotim no Instagram como inadequados, simplesmente porque mostram um homem maquiado-- e criam novos vídeos para enfrentar os críticos.

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Manny Gutierrez, conhecido como Manny Mua no Youtube e Instagram
Imagem: Manny Mua via The New York Times

Depois que Pierce encontrou um conhecido que lhe disse que homens não deveriam usar maquiagem, ele filmou um monólogo satírico, "Por que os meninos NÃO podem usar maquiagem", em que ele adota a personagem de um homem contrário à maquiagem --"Quer dizer, a maquiagem não vai me ajudar a ganhar 'Call of Duty'"-- enquanto calmamente aplica, com perfeição, todo tipo de cores a seu rosto.

Como disse Starr em um clipe no mês passado, "estamos trazendo consciência à igualdade, um cílio de cada vez".

As especialistas em maquiagem feminina que formaram uma comunidade online em torno da beleza, como Michelle Phan e Zoe Sugg, fizeram muito para elevar a aplicação de maquiagem a um ato transgressor. Diferentemente da modelo da capa típica, elas costumam aparecer sem maquiagem, depois revelam o que os cosméticos podem fazer (e o que não podem). Seus vídeos mostram a aplicação de maquiagem como um exercício individualista, em oposição à realização de expectativas culturais. Quando a maquiagem está pronta, o vídeo termina.

Mas o relacionamento de uma mulher com a maquiagem é carregado de bagagem cultural. Enquanto assisto aos gurus da beleza feminina fazerem seu trabalho, pode ser difícil desligar a parte destrutiva do meu cérebro que está sempre me provocando a me comparar fisicamente com outras mulheres. E é difícil destrinchar o verdadeiro entusiasmo pela arte da maquiagem dos padrões de beleza tóxicos que incentivam as mulheres a gastar toneladas de dinheiro em seu visual.

Como mulher, porém, ver homens se transformarem com maquiagem também foi transformador para mim. Esses homens e meninos deixam muito claro o poder subversivo da maquiagem. Quando se besuntam de batom, a imagem é o oposto do conformismo.

Seu exemplo é algo que levarei ao meu próprio espelho de maquiagem, onde posso usar os cosméticos para parecer incrivelmente estranha, em vez de adequadamente feminina. Mulheres e homens podem comemorar: a maquiagem não é mais uma coisa só para meninas.