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Acusado por Duterte de ligação com drogas, prefeito filipino é morto pela polícia

Moradores observam inspeção da polícia após operação que culminou com a morte do prefeito Samsudin Dimaukom, em Makilala, nas Filipinas - AP
Moradores observam inspeção da polícia após operação que culminou com a morte do prefeito Samsudin Dimaukom, em Makilala, nas Filipinas Imagem: AP

Felipe Villamor e Richard C. Paddock

Em Manila (Filipinas)

29/10/2016 06h01

Depois de o presidente Rodrigo Duterte tê-lo citado publicamente como suspeito de envolvimento com drogas em meados do ano passado, o prefeito de uma pequena cidade filipina disse não estar preocupado.

"Se você não é culpado, porque teria medo?" disse o prefeito, Samsudin Dimaukom, ao "New York Times" em agosto.

Na sexta-feira (28), ele e outros nove homens foram mortos a tiros em uma barreira policial de estrada, no que a polícia descreveu como uma operação antidrogas.

Dimaukom e seus companheiros estão entre as cerca de 2.000 pessoas que foram mortas na campanha de Duterte contra as drogas desde que este tomou posse em 30 de junho.

A campanha sangrenta é criticada por governos estrangeiros, incluindo o dos Estados Unidos, assim como pela ONU e por grupos internacionais de direitos humanos. Mas ela provou ser muito popular nas Filipinas, onde os moradores dizem que a morte dos suspeitos de crime tornou as ruas mais seguras.

Segundo a polícia, Dimaukom, o prefeito de Datu Saudi-Ampatuan, uma cidade de cerca de 20 mil habitantes na rebelde ilha de Mindanao, no sul, foi morto depois que seus guardas abriram fogo contra os policiais.

O inspetor-chefe Elias Colonia, um porta-voz da polícia local, disse que as autoridades tinham informação de que Dimaukom e seu grupo estavam transportando uma carga de shabu, uma forma barata de metanfetamina amplamente vendida nas Filipinas.

Segundo a polícia, uma barreira foi armada ao longo de sua rota esperada, na cidade de Makilala, a cerca de 110 quilômetros por estrada a leste de Datu Saudi-Ampatuan. O prefeito e seu grupo chegaram por volta das 4 horas da manhã, disse Colonia.

"Os suspeitos estavam altamente armados e dispararam contra os policiais, que prontamente responderam fogo", segundo um relatório policial. "Como resultado, 10 malfeitores foram feridos e levados a um hospital, mas foram declarados mortos assim que chegaram."

Fotos tiradas no local mostravam várias armas e o que pareciam ser sachês de shabu perto de um utilitário esportivo com buracos de bala no para-brisa dianteiro.

Nenhum policial foi ferido, disse a polícia.

26.out.2016 - O presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, faz discurso após encontro com o premiê do Japão, Shinzo Abe, em Tóquio - /David Mareuil/Reuters - /David Mareuil/Reuters
O presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte
Imagem: /David Mareuil/Reuters


A maioria dos mortos na campanha antidrogas até agora era pobre e à margem da sociedade. Suspeitos de uso e venda de metanfetaminas, eles eram baleados pela polícia após resistirem à prisão.

Mas em agosto, Duterte identificou várias autoridades que ele disse estarem envolvidas no narcotráfico, incluindo juízes, policiais, oficiais militares, prefeitos e membros do Congresso, ameaçando ir atrás deles. Esse grupo incluía Dimaukom.

Na quinta-feira, Duterte disse que sua campanha entrou em uma nova fase e agora visaria essas autoridades.

Argumentando que a "narcopolítica" tomou conta do país, ele disse que tinha compilado os nomes de 5.000 líderes locais e 6.000 policiais envolvidos no narcotráfico.

"Esta lista de nomes, é isso", ele disse, acenando um maço espesso de papéis. "Esta é a indústria das drogas nas Filipinas."

No que pareceu ser uma ameaça de matar todos em sua lista, ele acrescentou: "O pessoal de direitos humanos cometerá suicídio se eu eliminar todos estes."

Duterte não tornou a lista pública, e críticos atacaram sua abordagem como macarthismo, levantando dúvidas sobre como os nomes foram compilados e por que em vez disso não foram indiciados.

Não ficou claro se a barreira policial que pegou Dimaukom fazia parte da nova fase da campanha.

Em agosto, quando Dimaukom ouviu seu nome ser anunciado pela televisão como suspeito de envolvimento no narcotráfico, ele disse ter ficado chocado.

"Ficamos realmente surpresos quando o presidente fez o anúncio", ele disse ao "Times" por e-mail. "Nunca estivemos envolvidos com drogas. Na verdade, nós combatemos as drogas. Eu apoio a guerra do presidente contra as drogas."

Ele disse ter sido colocado equivocadamente na lista de suspeitos por causa das falsas acusações disseminadas por seus adversários políticos. Ele disse que não temia uma investigação.

"Primeiro, nossa defesa é a verdade", ele disse. "Se você não é culpado, porque teria medo?"

Duterte ordenou que aqueles que ele citou nominalmente se entregassem em 24 horas, caso contrário seriam caçados.

Sem se arriscar, Dimaukon se apresentou à polícia local horas depois. Em um excesso de cautela, ele voou para Manila para se encontrar com o comando da polícia na manhã seguinte e disse que cooperaria com qualquer investigação.

Ele disse que a população em sua cidade sabia que ele não estava envolvido no narcotráfico e que compareceu para recebê-lo quando voltou de Manila. Como apoiador da campanha antidrogas, ele disse, ele pediu por exame antidrogas obrigatório para todos os funcionários municipais.

"Estou preparado para um exame do estilo de vida, ou um exame antidrogas ou qualquer outra investigação a qual possamos ser submetidos", ele disse na época.

Mas fez objeção à abordagem de exposição e humilhação.

"A primeira coisa afetada aqui é a minha família", ele disse. "É muito doloroso ser julgado injustamente."