Amostradinha: como a cigarra faz para cantar alto como uma britadeira?
Do UOL*, em São Paulo
16/09/2024 05h30
A chegada da primavera - no próximo dia 22 - já anuncia: é o tempo das cigarras. É durante as temporadas de calor que esses insetos "soltam a voz" — ou melhor, os músculos. Mas por que e como isso acontece?
O canto das cigarras
Apenas os machos conseguem reproduzir o som. Eles têm um par de músculos no abdome vibram para sair o som.
E o "canto" tem um propósito: a reprodução. As cigarras macho utilizam o som para atrair as fêmeas para acasalar. "O órgão se chama tímpano, mas não tem relação com o tímpano humano", explica o biólogo Kayron Passos.
O som das cigarras pode chegar até 120 decibéis. A maioria, no entanto, emitem por volta de 100 decibéis.
A Neotibicen tibicen é a que tem o maior alcance e o som é maior que o rugido de um leão, ou uma britadeira de obras. E essa espécie especifica pode usar isso pra afastar predadores.
Kayron Passos, biólogo
Depois do acasalamento, as cigarras depositam ovos em caules de plantas hospedeiras. Após os ovos eclodirem, a jovem cigarra desce por fios de seda até o solo.
Diferentemente da crença popular, a cigarra não "canta até explodir". O que acontece, na verdade, é apenas a troca do exoesqueleto. O inseto é um artrópode, ou seja, tem são invertebrados e têm o esqueleto para fora do corpo. "Esse esqueleto não acompanha o crescimento. Quando os músculos ficam muito grandes, eles abrem esse esqueleto e eles esperam outro crescer em cima", explica o biólogo. Esse processo se chama ecdise e, a olho nu, pode parecer que há uma explosão, mas, na verdade, é apenas parte do processo de crescimento da própria cigarra.
Como é a vida da cigarra?
A família das cigarras é composta por mais de 3.000 espécies em todo o mundo. Elas passam a maior parte da vida sob o solo em estado larval.
Emergem como adultos para realizar a metamorfose e acasalar. Algumas espécies fazem isso todos os anos, enquanto outras, conhecidas como cigarras sazonais, sincronizam sua aparição a cada 13 ou 17 anos.
O ciclo de vida delas duram em média um a dois anos. Segundo o Núcleo de Divulgação Científica da UFV, fora do solo, as cigarras não vivem mais que três meses. No entanto, em outros países, como os Estados Unidos, as espécies podem viver até 17 anos. Elas são alimentos para pássaros e, quando ninfas, podem ser atacadas por outros animais como besouros, tatus e até mesmo formigas predadoras.
Na agricultura, elas podem ser consideradas como uma praga. Quando ninfas, elas sugam a seiva das plantas pela raiz e injetam toxinas. Já adultas elas também se alimentam da seiva, mas desta vez pelos caules e folhas. Alguns exemplos de plantas que são alvo das cigarras são a ingazeira, os eucaliptos e abacateiros. Elas também causam danos no cultivo de café, causando queda precoce das folhas da planta.
Mudanças climáticas podem estar afetando comportamento delas. Chris Simon, da Universidade de Connecticut, que estuda as mudanças químicas no DNA das cigarras, adverte que os efeitos do aquecimento global estão alterando os relógios internos das cigarras. "Prevejo que mais cigarras de 17 anos se transformarão em cigarras permanentes de 13 anos", disse ele à AFP, "e eventualmente esse traço será assimilado geneticamente". Ainda é difícil prever as consequências a longo prazo para a espécie.
*Com informações da AFP