A ONG ClientEarth abriu hoje (9) um processo contra a diretoria da Shell em uma das cortes superiores do Reino Unido por falta de gerenciamento dos riscos que as mudanças climáticas representam para a empresa. Acionistas da própria companhia, incluindo fundos de pensão de Reino Unido, Suécia e Dinamarca, apoiam diretamente a ação, além de administradoras que têm mais de R$ 2,6 trilhões (500 bilhões de dólares) em ativos da petroleira sob gestão. O processo foi aberto após a Shell anunciar lucro recorde de mais de R$ 200 bilhões (40 bilhões de dólares) em 2022, o maior em 115 anos, e quase o dobro do resultado de 2021. "A Shell pode estar obtendo lucros recorde agora devido à turbulência do mercado global de energia, mas o destino está escrito para os combustíveis fósseis a longo prazo", diz o advogado sênior da ClientEarth, Paul Benson. Segundo a ação, os 11 diretores da Shell infringiram seus deveres legais sob a Lei das Empresas do Reino Unido ao não adotar e implementar uma estratégia de transição energética em linha com o Acordo de Paris. Em 2021, um tribunal dos Países Baixos condenou a Shell por não dar transparência ao seu volume de emissões e por não ter um plano concreto para cortar sua poluição, o que viola a lei climática holandesa. Ao final daquele ano, a companhia mudou sua sede para a Inglaterra. Em outubro de 2022, a empresa perdeu a apelação na corte holandesa. "A mudança para uma economia de baixo carbono não é apenas inevitável, ela já está acontecendo. No entanto, a Diretoria está persistindo com uma estratégia de transição que é fundamentalmente falha, deixando a empresa seriamente exposta aos riscos que a mudança climática representa para o sucesso futuro da Shell - apesar do dever legal da diretoria de administrar esses riscos", explica Benson. "A longo prazo, é do melhor interesse da companhia, de seus empregados e de seus acionistas - bem como do planeta - que a Shell reduza suas emissões com mais força e rapidez do que a Diretoria está planejando atualmente", completa o jurista. O grupo de investidores que apoia a reivindicação do ClientEarth - a primeira ação derivada contra um Conselho de Administração por falta de preparação adequada para a transição energética - diz que o caso também é do interesse deles como acionistas. "Os investidores querem ver a ação alinhada com o risco que a mudança climática apresenta e vão desafiar aqueles que não estão fazendo o suficiente para fazer a transição de seus negócios", disse Mark Fawcett, Diretor de Investimentos da Nest, que faz parte do grupo. "Esperamos que toda a indústria de energia se sente e tome nota", completa Fawcett. Para a chefe de Investimento Responsável da CIV de Londres, Jacqueline Amy Jackson, a maior preocupação é a falta de ação da diretoria da Shell em um problema que vai afetar a empresa. "Um Conselho de Administração de uma empresa de alta emissão tem o dever fiduciário de gerenciar os riscos climáticos e, ao fazê-lo, considerar os impactos de suas decisões sobre a mudança climática, e reduzir sua contribuição para ela.", diz a executiva. "Consideramos que a reivindicação do ClientEarth é do interesse de nossos clientes como acionistas da Shell, e nós a apoiamos". A AkademikerPension, um fundo de pensão dinamarquês que se desfez de papéis da Shell em 2019 para proteger seus investimentos dos riscos climáticos de longo prazo, também se manifestou em apoio à reivindicação. "Se a reivindicação do ClientEarth fosse bem sucedida e a estratégia da Shell fosse se alinhar a Paris, a empresa poderia se tornar novamente um investimento atraente", declarou Anders Schelde, chefe do setor de investimento do fundo. |