País tem o dever de trazer de volta aqueles que desistiram da escola
A divulgação do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) revela um cenário preocupante: os adolescentes e os jovens brasileiros não estão desenvolvendo nem metade de seus potenciais de aprendizagem. Nos anos finais do ensino fundamental, o país tem nota 4,5. Já no ensino médio, o cenário é ainda mais grave, visto que, há quatro anos, o Ideb não ultrapassa os 3,7.
Embora o Ideb não possa ser usado como único indicador para analisar o cenário educacional brasileiro, ele traz importantes alertas que precisam ser levados em conta. Os números mostram que a melhoria do acesso à escola –conquista que o Brasil não deve abrir mão– não veio acompanhada da qualidade necessária. O país ainda tem uma grande dívida social com suas crianças e, em especial, com os adolescentes. São estes os que mais sofrem com a baixa qualidade do ensino.
Os dados que foram divulgados confirmam um alerta que o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) vem fazendo nos últimos dez anos: os investimentos na primeira infância só se consolidam se forem mantidos nas demais etapas da vida. O foco na infância é essencial para o desenvolvimento humano, e é preciso investir mais e com mais eficiência.
Na educação, estamos diante de uma situação em que as melhorias produzidas nos anos iniciais do ensino fundamental –que vão do 1º ao 5º ano– não são observadas nas etapas seguintes. Baixos níveis de aprendizagem, altos índices de distorção idade-série (atraso escolar), abandono e evasão fazem parte do atual cenário a que são expostos adolescentes e jovens.
Para muitos, a escola não é atrativa. Falta conexão entre aquilo que se aprende nas salas de aula com um projeto de vida junto da realidade desses meninos e meninas. Prova disso são as inúmeras ocupações de escolas que têm sido vistas pelo país, desde o final de 2015. Ao mesmo tempo, falta investimento nos professores e na valorização da carreira docente, na infraestrutura escolar e também no desenvolvimento e na disseminação de boas práticas e de pesquisas pedagógicas.
É preciso dar atenção às crianças e aos adolescentes que estão fora da escola, sendo a maioria oriunda de populações vulneráveis. São meninos e meninas negros, indígenas, quilombolas, pobres, do campo, sob risco de violência e de exploração e/ou com deficiência. É preciso também olhar para as crianças e para os adolescentes que, dentro da escola, não têm garantido seu direito de aprender devido a diversas razões e vulnerabilidades. Um dos principais fatores de risco para a permanência das crianças na escola é o fracasso escolar, representado pela repetência, o que provoca elevadas taxas de distorção idade-série.
O país tem o dever de garantir a aprendizagem de quem está na escola e trazer de volta aqueles que desistiram. Porém, não basta resgatar esses adolescentes e jovens e oferecer a eles o mesmo modelo de ensino. É preciso fazer da escola um espaço de cultura que respeite as linguagens e as dinâmicas dos meninos e das meninas que estão nessa etapa de escolarização. A escola tem que se voltar mais à interação e às práticas pedagógicas capazes de estimular essa geração a contribuir para o desafio de construir um ensino médio de qualidade, algo tão essencial para o Brasil.
Para todas as etapas, vale o mesmo princípio: valorização dos professores, mais investimento, mais consistência pedagógica, e mais comprometimento político. Nesse sentido, a melhor representação da vontade política de um governo não é o número de projetos de lei aprovados para incluir ou para proibir conteúdos nas escolas, mas a quantidade de recursos realmente investidos para fazer acontecer as mudanças necessárias na educação, que são a base para um desenvolvimento sustentável de, sem exceção, qualquer nação.
Não há soluções mágicas. Trata-se de medidas conhecidas, que começam pela garantia da universalização do acesso a todos os ciclos da educação básica. Contudo, o Unicef está convencido de que essa universalização apenas se tornará realidade com uma educação de qualidade que, por sua vez, só será possível com investimentos, com a produção de conhecimento e, é claro, com o envolvimento da comunidade e a participação ativa dos estudantes. A educação de qualidade para cada criança e cada adolescente precisa ser, de fato, uma prioridade nacional.
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