'Divã coletivo', Facebook sublima o sofrimento e estimula invenção
Desde sempre, a cultura e a arte foram consideradas formas de sublimação do sofrimento psíquico. A catarse por meio do gênero dramático -que engloba a tragédia e a comédia, ou seja, as lágrimas e a risada- é, além de uma expressão estética, remédio para crises existenciais, para a angústia, para a depressão, para o pânico, enfim, para o desassossego da alma.
Escrever ou ler um poema e compor ou ouvir uma música são tipos de mecanismos de fuga, durante os momentos de ansiedade, pelo "ato de vazio", ou seja, pelo ato que joga o indivíduo na solidão.
Se desde os rabiscos nas cavernas, ao registrar sua passagem por este mundo, o ser humano tenta superar a tanatofobia (o medo da morte), hoje, no universo da megapolis, a pessoa, ilhada nos acampamentos verticais dos gelados compartimentos do egocentralizado, encontra uma rota de escape extraordinária.
No automóvel com os vidros fechados, no banheiro do apartamento ou insone na cama, o sujeito -através da simultaneidade e da instantaneidade de seus dedos- se comunica, se expõe, se impõe e se aproxima de gente que jamais viu ou que tenha ideia e percepção sensorial desses seres virtuais íntimos.
Porém, vai criando um mix. Uma rede de afinidades, de amigos e inimigos, jogando com emoções e chegando até o êxtase erótico, encontros e desencontros intelectuais, solidariedade e confrontações ideológicas.
O fato é que, em vez de antidepressivo, o ato de localizar a alma gêmea ou o inimigo transforma, num verdadeiro abracadabra, o Facebook em uma espécie de divã coletivo, em que se deitam milhões de pessoas.
Através do Facebook, com confissões das mais secretas e explosões de manifestos sociais, o que o individuo transmite pode ser autêntico ou a invenção de um personagem. Contudo, em qualquer uma das hipóteses, se amplia os contatos, num paradoxo imenso, pois este também se insere na alienação. Essa habitação na "nuvem", e que expande outras imigrações, apavora os tiranos e os monopólios do poder.
Nunca a liberdade esteve tão próxima das mãos, da lógica e da matemática sentimental. Neste mundo de fantasia, pode-se refugiar a frustração e mobilizar a invenção. E quando a tela interagir com o "o que você está pensando?", a ansiedade finda. Alguém se interessa por você.
- O texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
- Para enviar seu artigo, escreva para uolopiniao@uol.com.br
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.