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A necessidade de uma leitura ampla de uma guerra que não é regional

Sistema anti-míssil de Israel abatendo artefatos em ataque realizado pelo Irã Imagem: Amir Cohen/Reuters

Claudio Lottenberg*

Colunista convidado

29/04/2024 11h19

Democracia liberal é um sistema político que, embora já tenha sido definido de diversas maneiras, por diferentes especialistas, tem um núcleo que combina elementos de democracia representativa com princípios liberais. Entre eles, alguns exemplos são o Estado de direito, a separação de poderes e a proteção de direitos individuais e liberdades civis. Nesse sistema, os cidadãos têm a liberdade de participar do processo político por meio de eleições livres e justas.

Várias alternativas à democracia liberal foram propostas e implementadas em diferentes contextos ao longo da história. Fato é que há como aprimorar a plataforma da democracia e ampliar a participação popular sem que se faça uma defesa intransigente do liberalismo.

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Desde pelo menos a Revolução Iraniana (1978/79), a política do Oriente Médio tem sido dominada por movimentos islamistas - que o Ocidente descreve como "fundamentalismo islâmico". Tais movimentos, nessa interpretação, buscam "regenerar" a sociedade por meio de um regresso aos ensinamentos originais do profeta Maomé.

O que parecia uma vitória das lutas anticoloniais dos anos 1950 e 1960, e que levaria afinal as sociedades mais esclarecidas e menos repressivas, acabou por gerar forças que parecem olhar para trás. Forças essas que impõem uma sociedade mais restrita - que obriga mulheres ao purdah (que, como define o Cambridge Dictionary, é o costume de permitir que elas só sejam vistas por homens se forem seus parentes diretos e mesmo as obriga a viverem em partes separadas da casa) e usa o terror para esmagar o pensamento livre, com castigos dos mais bárbaros a quem desafia seus decretos. Esta é a realidade do fundamentalismo islâmico.

Isso afeta tanto liberais como a esquerda - que, comprometida com bandeiras como a da luta contra o imperialismo, assiste ao ressurgimento de uma doutrina obscurantista, apoiada por forças tradicionalmente reacionárias mais semelhantes ao fascismo. O islamismo conseguiu amealhar lealdades com seu apelo religioso, passando uma mensagem, direta e objetiva, de consolo aos pobres e oprimidos. Foi dessa forma que o islamismo e a luta contra o imperialismo se amalgamaram.

Uma das consequências dessa aliança entre esquerda e Islã é o surgimento de uma nova forma de antissemitismo - na qual judeus passaram a ser associados ao imperialismo e à supremacia branca.

Faz sentido que a batalha entre movimentos que lutem por maior justiça social, legítimos como possam ser, faça isso propagando o antissemitismo e demonizando o Estado de Israel? Acesso, equidade, inclusão - a defesa dessas e de outras causas similares, todas nobres e justas, só é possível à custa de propagar ainda mais intolerância e discurso de ódio, varrendo-se países do mapa? Não - muito ao contrário: se tais objetivos só fossem alcançáveis com o uso de táticas como essas, eles não seriam nem nobres, nem justos. Mas vivemos uma era de narrativas, que estão sempre ao alcance da vista, em qualquer direção que se olhe.

O entendimento mais amplo é uma necessidade incontornável, e é preciso insistir nele. Porque valorizar as diferenças entre pessoas e culturas é, do modo como vejo, uma das fontes da inesgotável riqueza da humanidade - mas isso está em perigo. A tática de enganar com visões rasas ou incompletas é usada para manipular e influenciar a opinião pública sobre determinados assuntos. Isso se faz com propaganda, desinformação, manipulação emocional e distorção de fatos, criando a narrativa que serve aos interesses do manipulador. Esses instrumentos são próprios de regimes autoritários, grupos extremistas - e mesmo indivíduos e organizações em sociedades democráticas.

Conscientizar sobre o uso dessas estratégias e estimular e fortalecer o pensamento crítico são importantes para resistir à manipulação e promover a discussão pública informada e saudável. O risco de não se fazer isso é assistir à corrosão da própria democracia - na qual deve existir o respeito aos direitos de minorias e grupos marginalizados, que devem ter voz igual na sociedade, sem que sua identidade sirva para excluí-los ou discriminá-los.

Israel luta por nós todos contra esse fundamentalismo. Esta, sim é a nossa grande resistência para um mundo livre. Jovens universitários têm sido captados para lutar por um mundo mais justo. Infelizmente, seu ímpeto e disposição acabam por ser manipulados por indivíduos, grupos ou instituições que tentam legitimar, com argumentos de moralidade que mal disfarçam seus interesses egoístas ou prejudiciais contra o mundo livre.

Temos que entender a leitura do processo, interferir e não permitir que o tal mundo justo repita, com a doutrina do fundamentalismo islâmico, a história do fascismo.

*Claudio Lottenberg é presidente da Confederação Israelita do Brasil e presidente da Conib (Confederação Israelita do Brasil)

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