Maduro presenteia Lula com a chance do reposicionamento
Ao apostar na hipótese da divulgação das atas eleitorais venezuelanas, Lula se comportou como um sujeito que bate com a cabeça na parede na esperança de que em algum momento a parede viraria uma porta. De repente, num golpe de sorte, o esforço de Nicolás Maduro para elevar o patamar da crise com o Brasil presenteou o inquilino do Planalto com a possibilidade de se reposicionar em cena.
Nesta quinta-feira, um dia depois de Maduro ter empurrado o Brasil para a anressala do rompimento diplomático, a Polícia Nacional Bolivariana revelou num post que o alvo de Caracas não é o Itamaraty nem o assessor palaciano Celso Amorim, tachado num comunicado da véspera de "mensageiro do imperialismo norte-americano". O alvo é Lula.
Na postagem, a polícia de Maduro exibiu a silhueta borrada de Lula com a bandeira brasileira de fundo. Abaixo, há uma hashtag —"Quem mexe com a Venezuela se dá mal"— e uma mensagem de timbre ameaçador —"Nossa pátria é independente, livre e soberana. Não aceitamos chantagem de ninguém, não somos colônia de ninguém. Estamos destinados a vencer."
Está entendido que Maduro usa o veto brasileiro à entrada da Venezuela no Brics como pretexto para acomodar Lula num círculo vicioso. Com a grandeza da vista curta, o ex-companheiro bolivariano deixou de ser a mosca na sopa do Brasil. Converteu-se na própria sopa.
Não se espera que Lula prove a mistura gosmenta, caindo na provocação de Maduro. Mas talvez tenha chegado a hora de devolver o conselho dado pelo ditador quando Lula se disse assustado com a promessa de Maduro de promover um "banho de sangue" na Venezuela caso não fosse reeleito. "Que tome chá de camomila."
Lula poderia, de resto, encomendar ao PT uma errata da nota em que o partido reconheceu a legitimidade das fraudulentas eleições venezuelanas.
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