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'Datena de Minas' faz candidatos de Lula e Bolsonaro comerem poeira em BH

O candidato favorito para se eleger prefeito em Belo Horizonte é conhecido por dançar no palco com uma boneca de pano, jogar bola vestindo terno e sapato, posar com uma "tesoura de Itu" na frente da câmera e agredir o chão com um martelo de brinquedo quando está irritado.

As cenas, exibidas ao som de forró na abertura do programa Balanço Geral MG, da TV Record, são o cartão de visitas do deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos). Ele comanda a atração local há 16 anos.

O candidato lidera a corrida na capital mineira com 27% das intenções de voto, segundo o último Datafolha, e tem uma plataforma inusitada. Conta com o apoio do governador Romeu Zema (Novo) e do ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD), rivais que se estapeavam até pouco tempo.

Adversários na disputa pelo Palácio Tiradentes em 2022, Zema e Kalil ainda não se bicam, e um só vai aos atos públicos do neoaliado se o outro não for.

O endosso do ex-prefeito a Tramonte é considerado insólito, já que o caminho natural seria apoiar seu ex-vice, atual prefeito e candidato à reeleição Fuad Noman (PSD), que tem como candidato a vice outra personalidade da TV mineira: o repórter policial e vereador Álvaro Damião (União).

Noman soma 10% das preferências do eleitor, sempre de acordo com o Datafolha.

Hoje quem mais ameaça o favoritismo de Tramonte é o antecessor dele no Balanço Geral da TV Record Minas: o também apresentador e hoje senador Carlos Viana (Podemos), que tem 12% das intenções de voto.

Na cidade, os candidatos oficiais de Lula e Jair Bolsonaro ainda não deslancharam.

O deputado Rogério Correia (PT) aparece com 7% das intenções —o partido derrapa em Minas desde que o ex-prefeito, ex-governador e ex-estrela petista Fernando Pimentel passou a frequentar o noticiário policial (não como apresentador).

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Já o bolsonarista e também deputado Bruno Engler (PL) pontua 10% na mesma pesquisa. Pouco para quem tem o apoio de aliados barulhentos nas redes, como o também deputado Nikolas Ferreira (PL) e o senador Cleitinho, do Republicanos —sim, o mesmo partido de Tramonte, a quem nega o apoio.

O racha tanto na direita quanto na esquerda ajuda a entender o desempenho dos candidatos oficiais de Lula e Bolsonaro na cidade.

Correia concorre com os votos de Duda Salabert (PDT), sua colega na Câmara a quem o PT negou apoio. E Engler não só não conseguiu colocar no palanque o bolsonarista Romeu Zema como, aos 27 anos, pena para concorrer com quem desfilava populismo na TV antes de ele sequer aprender a calçar os sapatos.

Ao menos neste início de campanha, é possível dizer que as estrelas da TV em BH conseguiram o que José Luiz Datena (PSDB) não conseguiu em São Paulo: converter em (intenção de) votos a popularidade de mais de duas décadas à frente de um popular programa policial. Possivelmente porque, ao se vender como outsider, Datena conseguiu afastar os votos dispersos tanto dos fãs de Lula quanto de Bolsonaro —algo que os favoritos na capital mineira têm conseguido absorver mesmo com dois candidatos oficiais, do PT e do PL, em campo.

Nas redes, Carlos Viana intercala mensagens sobre Deus e família com memes de duplo sentido e gosto duvidoso. Como a foto de uma almofada (em referência a um adversário "almofadinha") com a legenda "Keep Calm e Foca no Trabalho". Uma foca bigoduda e sorridente acompanha a mensagem.

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Já Tramonte tem se apoiado em duas figuras populares da política mineira para prometer sair dos gabinetes e ouvir a população, sobretudo a periférica.

Faz o tipo bonachão, sem demonstrar um perfil ideológico definido ou se envolver nas grandes disputas nacionais. Prefere desejar bom domingo aos seguidores em frente a um forno giratório repleto de frango assado. Sim, a famosa televisão de cachorro. De TV, todo mundo ali entende.

Foi com uma conversa mansa parecida, ao estilo mineirinho, que Alexandre Kalil, mais conhecido até então como ex-presidente do Atlético Mineiro, conseguiu ser eleito prefeito de BH duas vezes. Não à toa, ele e Tramonte caminham juntos em 2024. Com um grande acordo municipal, com Zema, com tudo.

Opinião

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