'Bolo', 'Tio Paulinho', 'arma' oculta: a estreia dos candidatos de SP na TV

Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) chamaram reforço para se apresentar aos eleitores na estreia da propaganda eleitoral gratuita. Foi um raro momento em que puderam falar com o público sem serem interrompidos por alguma molecagem de Pablo Marçal (PRTB).

Com todo o dinheiro do mundo, o empresário ficou de fora da propaganda porque, ao que parece, não se ligou que, se era para alugar um partido, melhor que o os proprietários tivessem ao menos tempo de TV. Não era o caso.

Aqui algumas impressões sobre o primeiro programa dos candidatos:

Ricardo Nunes, o Tio Paulinho da eleição

Sem as intromissões do adversário, o maior esforço do prefeito de São Paulo e candidato à reeleição não foi nem mostrar que ao seu lado estava, firme e forte (risos), Jair Bolsonaro (PL). O maior esforço foi aparecer sorrindo na tela ao som de funk e pagodinho.

A estratégia, ao que parece, era se apresentar como homem do povo, cria da "perifa", com gingado, remelexo, etc. Mas Tio Paulinho, o defunto levado ao banco pela sobrinha para tomar empréstimo, tinha mais expressão corporal em sua derradeira aparição.

Como resumiu um tuiteiro (sim, a rede de Elon Musk ainda pulsava até o fim deste post), Nunes encarou uma missão ingrata: o paulistano agora só acredita em influencer que vende fumaça e fake news da extrema direita. Da suposta centro-direita, que mostra e esconde o lado extremista, ninguém dá pelota.

Vai ser difícil mostrar onde cabe o espólio em disputa de Bruno Covas (PSDB) na mesma roda de samba de Bolsonaro e Tarcísio de Freitas. Covas foi reeleito em 2020 justamente criticando o negacionismo bolsonarista no auge da pandemia.

A volta do café com Boulos

O candidato do PSOL também caprichou na maquiagem. Retomou a linha do candidato paz e amor que sorri cordialmente e serve bolo (bolo, Boulos, entendeu?) para as visitas - no caso, um presidente Lula vestido de azul acompanhado da primeira-dama.

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Longe das feições de quem quer estapear um autodenominado coach que caiu de paraquedas na campanha, Boulos, de camisa branca e fala mansa, como quem ergue a hashtag #paz, mostrou de relance a família na tentativa de dizer que é gente como a gente, não sobe mais em carro de som de jaqueta preta e nem quer ocupar o cômodo de ninguém - como gritam os opositores.

As apostas de Nunes e Boulos são semelhantes. Ambos querem crescer na periferia, onde há mais pessoas sem acesso à internet na cidade.

Um estudo da USP mostrou que cerca de 3,3 milhões de pessoas praticamente não acessam smartphone na capital paulista, sobretudo nas classes D e E. Daí a importância da estratégia para a rádio e a TV, mais acessíveis nestes espaços. E também do anúncio, feito por Lula, de que Marta Suplicy (PT) está em campo como vice do aliado.

Datena retorna ao estúdio

Espremidos com o parco tempo de TV que não conseguiram juntar em uma chapa natimorta, José Luiz Datena (PSDB) e Tabata Amaral (PSB) usaram os segundos disponíveis da propaganda para objetivos distintos.

Datena assumiu de vez o modo apresentador do Brasil Urgente. Voltou ao estúdio para atacar adversários como se estivesse lendo um discurso em teleprompter. Só faltou pedir IBAGENS. "Se for vagabundo vai cair fora", vociferou, numa das muitas cenas gravadas nos últimos dias pelos Mercadões Municipais da capital, o único ponto da corrida eleitoral que faz os adversários comerem poeira.

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Tabata guardou a arma

Já Tabata, para frustração de quem esperava outro petardo contra Marçal, optou por, veja só, adotar a linha low profile e listar os problemas de São Paulo.

Quem esperava na TV um filme de ação teve que, como sempre, buscar dopamina nas redes.

Lá, enquanto os adversários desfilavam civilidade, Marçal seguia berrando com um vídeo de Os Vingadores em que se veste de Capitão América e se une a Bolsonaro (em versão Thor) para combater o sistema (Thanos, no vídeo original).

O eleitor que viu as peças dele e de Nunes poderia ficar confuso sobre quem o ex-presidente, afinal, está de fato apoiando. Bom, isso nem o comando do PL sabe.

Por enquanto, a estratégia dos candidatos com direito a TV é ignorar o neófito que já disputa as cabeças da corrida eleitoral só com ajuda das redes. Resta saber até quando.

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