Rivais em 2012, PMDB e PSOL lançam candidatos simultaneamente no Rio
Gustavo Maia
Do UOL, no Rio
Os dois partidos mais votados nas últimas eleições para a Prefeitura do Rio de Janeiro, em 2012, lançaram oficialmente, na tarde desta quarta-feira (20), as candidaturas para o pleito deste ano, em outubro. Candidato do PMDB em uma coligação com outros 15 partidos, o ex-secretário da Casa Civil da prefeitura Pedro Paulo promete a continuidade do projeto político do principal aliado, o atual prefeito, Eduardo Paes, do mesmo partido. Já o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), que tenta pela segunda vez consecutiva se tornar prefeito da capital fluminense, aposta no discurso de democratização da cidade e diz contar com os mais de 900 mil votos que recebeu em 2012 para chegar pelo menos ao segundo turno.
Distantes ideologicamente, os eventos ocorreram a menos de três quadras um do outro, no centro do Rio. A sede estadual do PMDB, no oitavo andar de um prédio comercial, foi tomada por centenas de pessoas durante a convenção do partido. No térreo, havia uma longa fila diante dos elevadores.
O PSOL realizou a oficialização da candidatura de Freixo na sede do partido. À tarde, logo após o evento de Pedro Paulo, o deputado estadual concedeu entrevista coletiva dentro de uma sala de aula alugada pela legenda em uma escola técnica privada. O evento atraiu dezenas de apoiadores, entre integrantes do partido e representantes de movimentos sociais.
Declarações de Eduardo Paes sobre Freixo na convenção do PMDB repercutiram na entrevista do candidato do PSOL. "Nós estamos discutindo nessa eleição, e é comparação sim, se um rapaz cheio de boas ideias, mas inspirado no mundo do século retrasado, da primeira metade do século passado, que tem como exemplo e inspiração a Venezuela - onde as pessoas nem comem mais hoje -, se o deputado Freixo vai ser o prefeito dessa cidade", declarou o prefeito, ao defender Pedro Paulo.
Aos 49 anos, o deputado estadual brincou dizendo ter gostado de ter sido chamado de "rapaz", mas rebateu as afirmações do peemedebista. "O prefeito está mais preocupado com presidentes de outros países. A gente tem que ser mais honesto e mais maduro", disse, provocando risadas entre os presentes - o adjetivo é também o sobrenome do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.
"São sinais de desespero. E isso é um bom sinal para a gente. Eu não vou cair nessa armadilha de fazer um debate tão tosco e tão baixo. A gente está se preparando para governar a cidade. Atrasado é ter uma cidade tão desigual. Atrasado é o IDH da Rocinha ser tão diferente do IDH da Gávea. O pensamento que não é atrasado é um pensamento democrático, com transparência. Atrasado é bater em mulher", disse Freixo, em referência ao caso pelo qual Pedro Paulo é acusado de agredir a ex-mulher. "E eu nunca fui à Venezuela, eu não conheço a Venezuela. Eu estudo o Rio de Janeiro."
No fim de seu discurso na convenção, o candidato peemedebista citou menosprezou os "críticos". "Essa campanha agora vai ser dura, difícil. Aqueles que vão falar, apontar o dedo, são os mesmos que diziam que a Olimpíada não iria dar certo. Mas deixe eles falarem, a gente ainda tem muito para fazer."
Em entrevista logo depois, ele falou abertamente sobre o caso das acusações de ter agredido a ex-mulher. Disse ter ficado muito feliz quando a Polícia Federal sugeriu o arquivamento do processo ao MPF (Ministério Público Federal), em junho. "É meu interesse que esta história seja esclarecida o quanto antes."
A revelação das agressões, ocorrida no ano passado, provocou dúvidas sobre a viabilidade da candidatura do então secretário, que é deputado federal licenciado - integrou o governo Eduardo Paes desde 2008.
Com a confirmação oficial, nesta quarta, o presidente do partido no Rio, o deputado estadual Jorge Picciani, disse que o partido confia no esclarecimento do episódio e que os adversários espalham boatos sobre Pedro Paulo, "porque têm motivos para temer sua candidatura".
Em seu discurso, Pedro Paulo defendeu ser o candidato mais qualificado para dar prosseguimento às obras iniciadas na atual gestão. "O povo do Rio tem que decidir se quer continuar ou interromper o que tem dado certo". Lembrou ainda que estava sempre esteve "sempre ao lado" de Paes nos momentos difíceis da cidade. "E muitas vezes na frente dele", completou.
"Se for para o segundo turno, ganho a eleição"
Questionado sobre a viabilidade da campanha do PSOL, coligado apenas com o PCB, Freixo afirmou que "em qualquer pesquisa" está em segundo lugar. "Na eleição de 2012 eu tive 28% dos votos. Se eu mantiver essa votação, a gente chega no segundo turno, e se a gente chegar, a gente ganha a eleição, seja contra quem for."
Segundo ele, em 2012 houve pouco tempo para formular a campanha a estrutura era mais precária. "Ainda é precária, mas agora é melhor. É uma maneira diferente de fazer política. Não tem barganha", disse. "Nós temos uma força de militantes que ninguém tem. E a nossa militância não é paga. Eles estão aqui por ideologia, por sonho. Eles vão para as ruas e vão ocupar os territórios e tem poder de convencimento."
Freixo também fez críticas ao projeto político do PMDB. "A cidade não pode funcionar para um milhão de pessoas se ela tem mais de seis milhões de moradores. A gente quer uma cidade de direitos, para as pessoas. Não queremos uma cidade indiferente. A cidade que convive com a diferença é uma cidade mais feliz. Chega dessa cidade-balneário, cartão-postal. O Rio hoje é não é uma cidade maravilhosa. O Rio é um maravilhoso cenário para uma cidade", afirmou.
O deputado estadual disse ainda que mobilidade será o primeiro ponto que enfrentaria caso seja eleito. "Mobilidade é cidade. A gente não pode achar normal que alguém que more em Campo Grande leve duas, três horas para chegar ao centro. Essa pessoa não tem direito à cidade".
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