Crivella (PRB) e Freixo (PSOL) vão ao 2º turno para a Prefeitura do Rio
Gustavo Maia
Do UOL, no Rio
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Arte UOL
Marcelo Crivella, do PRB, (à esquerda) e Marcelo Freixo, do PSOL, (à direita)
O senador Marcelo Crivella (PRB), 58, e o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), 49, vão se enfrentar no segundo turno das eleições para a Prefeitura do Rio de Janeiro. Os dois foram os mais votados no pleito deste domingo (2), confirmando o cenário apontado nas primeiras pesquisas de intenção de voto divulgadas no período eleitoral. Crivella terminou o primeiro turno com 27,8% dos votos válidos, seguido por Freixo, que obteve 18,37%.
Pedro Paulo (PMDB), que teve 16,07% dos votos válidos e ficou no terceiro lugar do pleito, encabeçava a chapa para sucessão do atual prefeito, Eduardo Paes (PMDB). Ele e Freixo protagonizaram uma disputa acirrada pela vaga no segundo turno.
Após a confirmação do resultado, Crivella afirmou que ele e seus aliados rejeitam a possibilidade de firmar uma aliança com o candidato do PMDB, Pedro Paulo Carvalho, no segundo turno da eleição.
"Não conversei e nem tenho intenção [com o PMDB]. Vou conversar com todas as demais forças políticas para formar um arco de aliança. Estamos indo em paz, caminhando em paz para governar em paz. Esse é o meu lema. Vamos procurar todas as forças que pensam como eu para cuidar das pessoas", disse.
"O PMDB deixar de ir para o segundo turno é extremamente importante para a política de forma geral. É didático. Traz esperança para todos os políticos. É algo extraordinário e que não se esperava", completou.
Freixo comemorou a ida para o segundo turno diante de milhares de militantes na Lapa, no centro da cidade.
"Essa cidade é nossa. Derrotamos o PMDB em homenagem à democracia brasileira, contra esse partido golpista. E foi na praça pública", declarou.
"Fora, Temer", responderam os militantes, lembrando o presidente Michel Temer (PMDB). Pouco antes da confirmação, os apoiadores do candidato do PSOL já gritavam: "Alô, Crivella pode esperar, a sua hora vai chegar".
Ele também comemorou a eleição de pelo menos seis vereadores do partido para a Câmara Municipal. Entre eles estava o candidato a governador do Rio em 2014, Tarcísio Motta, também posicionado ao lado de Freixo e um dos mais votados do pleito deste domingo.
Bispo, cantor e engenheiro
Carioca, Crivella se tornou conhecido por sua atuação na Igreja Universal do Reino de Deus --fundada por seu tio, o bispo Edir Macedo-- e como cantor gospel. Engenheiro, professor universitário e escritor, viveu quase uma década na África como missionário, nos anos 1990, e, ao voltar ao Brasil, desenvolveu um projeto beneficente no sertão da Bahia.
Casado há 36 anos e pai de três filhos, entrou na política em 2002, já como candidato ao Senado pelo Rio, para o qual se elegeu com mais de 3,2 milhões de votos. Em 2010, foi reeleito para o mandato, que chega ao fim em 2018.
Sua carreira, no entanto, foi marcada por quatro derrotas em pleitos para o Executivo --à prefeitura, em 2004 e 2008, e ao Governo do Estado, em 2006 e 2014. A ligação com a Universal foi alvo de frequentes ataques durante as campanhas, nas quais enfrentou alto índice de rejeição.
Entre 2012 e 2014, foi ministro da Pesca da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Em maio deste ano, entretanto, votou pela admissibilidade do processo de impeachment contra ela no Senado.
Professor e inspiração para filme
Freixo nasceu em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. Enquanto cursava história, aos 21 anos, começou a dar aulas em presídios como voluntário, e se engajou na defesa dos direitos humanos, atuando também na direção de sindicatos e conselhos.
Foi filiado ao PT por duas décadas, mas deixou o partido em 2005 para ingressar no recém-criado PSOL. No ano seguinte, foi eleito para um mandato na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) pela primeira vez, reelegendo-se nas duas eleições seguintes. Na última, em 2014, foi o deputado estadual mais votado do país, com 350 mil votos.
Como parlamentar, esteve no comando da CPI das Milícias, em 2008, que resultou no pedido de indiciamento de 226 pessoas. A sua atuação lhe rendeu ameaças de morte e a história inspirou o filme "Tropa de Elite 2". Em 2011, passou um período na Espanha por conta de ameaças, a convite da Anistia Internacional. Seu irmão, Renato, foi assassinado a tiros por milicianos em 2006.
Nas eleições de 2012, candidatou-se pela primeira vez à Prefeitura do Rio, ficando em segundo lugar, com 915 mil votos.
Campanha
Com vaga praticamente garantida no segundo turno, sempre ocupando a liderança isolada nas pesquisas eleitorais, Crivella lidera a coligação "Por um Rio mais humano" (PRB / PTN / PR), que tem o quinto maior tempo de propaganda eleitoral na televisão: um minuto e 11 segundos.
Candidato da chapa "Mudar é possível" (PSOL/PCB), Freixo teve um dos programas mais curtos dessa eleição, com 11 segundos de duração.
Durante a campanha, o índice de rejeição de Crivella chegou a cair 11 pontos percentuais entre dois levantamentos consecutivos do Ibope, de 35% para 24%. Freixo foi um dos candidatos com menor rejeição da disputa.
Nos debates e em propagandas de adversários, Crivella foi chamado de bispo e acusado de, se eleito, entregar o comando do governo à Igreja Universal. Ele nega que irá misturar política com religião.
"É impressionante como eles inventam essa conversa, esses boatos. É verdade que eu fui bispo, e tenho muito orgulho disso, mas fui também motorista de praça, fui professor, sou engenheiro, senador e fui ministro da Pesca", afirmou, no último debate antes do pleito, na última quinta-feira (29).
Já o candidato do PSOL foi alvo de críticas de Pedro Paulo de que não conhecia a zona oeste da cidade e era um candidato da zona sul.
O deputado estadual foi quem recebeu o maior número de doações individuais de eleitores --foram mais de 3.500. Crivella, por sua vez, foi o candidato com a segunda maior arrecadação, sendo o destinatário de mais de R$ 3,6 milhões do próprio partido. O valor total foi menor que a metade do recebido pelo adversário com maior arrecadação, Pedro Paulo (PMDB).
Segunda maior cidade do Brasil
O vencedor do pleito vai governar a segunda cidade mais populosa do Brasil, com cerca de 6,5 milhões de habitantes --atrás apenas de São Paulo.
Com um PIB de R$ 282,5 bilhões, de acordo com os dados mais recentes do IBGE, de 2013, a capital fluminense tem índice de mortalidade infantil de 12 por mil nascidos vivos (a média do Brasil é de 13,8 por mil) e taxa de analfabetismo de 2,75 % (5º lugar entre as capitais brasileiras).
A cidade tem 18,6 homicídios por cem mil habitantes (22º pior índice entre as capitais brasileiras, segundo estatísticas de 2015) e 9,6% de domicílios com renda per capita mensal até 1/4 do salário mínimo. O Rio de Janeiro é também, desde 2012, a cidade mais cara para se morar no país.
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