Belo Horizonte repete São Paulo, e "não político" Kalil (PHS) é eleito
Carlos Eduardo Cherem
Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte
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Ualen Valério/O Tempo/Estadão Conteúdo
Alexandre Kalil (PHS), prefeito eleito de Belo Horizonte
O empresário e ex-presidente do Clube Atlético Mineiro Alexandre Kalil (PHS) foi eleito prefeito de Belo Horizonte (MG) neste domingo (30), após se colocar como terceira via na campanha: o "não político", que era contra o confronto PT versus PSDB.
"Acabou coxinha. Acabou mortadela. Agora é kibe", provocou Kalil, de origem síria, em seu primeiro pronunciamento após a vitória. "Coxinha" e "mortadela" são termos pejorativos associados a tucanos e petistas, respectivamente.
Com 100% das urnas apuradas, Kalil teve 52,98% dos votos contra 47,02% de João Leite (PSDB). No primeiro turno das eleições, Leite havia chegado à frente com 33,4% dos votos, enquanto Kalil teve 26,5%.
"Sei as responsabilidades que tenho. Que Deus nos ilumine e nos ajude. Vamos tratar desse problema com dignidade. A partir de janeiro, esta cidade será humanizada", disse Kalil em seu primeiro pronunciamento após a vitória.
Ao falar com jornalistas, Kalil disse que ainda não tinha recebido um telefonema de Leite para parabenizá-lo pela vitória, mas que o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), já havia falado com ele.
Sobre a campanha, o prefeito eleito disse que foi um processo cansativo e citou uma frase adaptada por ele do pacifista indiano Mahatma Gandhi: "Primeiro eles desprezam, depois ignoram, depois agridem e no final perdem". Após a citação, Kalil afirmou que agora é hora de apaziguar os ânimos.
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O prefeito eleito declarou que irá conversar com todos os envolvidos para que seja feita uma boa administração. "Vamos conversar com todos, com o PSB, com o prefeito [Márcio Lacerda], com o PT do governador, com o PSDB, vamos tentar com Geraldo Alkmin [governador de São Paulo], vamos tentar conversar com lideranças", disse.
"Vamos procurar também o PMDB e [o presidente] Michel Temer. Vamos conversar com todos partidos. Nós somos apartidários", disse.
Questionado sobre se iria procurar o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que apoiou Leite, o prefeito eleito disse: "Só peço que me respeitem. Não quero futriquinha de imprensa. Eu vou procurar quem eu acho que devo procurar".
Ao final da declaração, disse que está cansado e irá descansar na próxima semana, só após esse período irá tratar da transição.
Leite se diz preocupado
Leite se pronunciou na sede do partido ao lado de Aécio Neves. O candidato derrotado, que não abriu perguntas à imprensa, disse estra preocupado com o índice de ausentes nas eleições na capital mineira: 22,77%.
"Como homem público, saio dessa eleição preocupado. O alto índice de abstenção, de voto branco e nulo mostra um grande distanciamento da sociedade com a política. Isso me preocupa, a política não pode ser negada porque a democracia se dá no âmbito da política."
Aécio Neves também fez um pronunciamento rápido e também não respondeu nenhuma pergunta. Ele ressaltou a importância de Leite para Belo Horizonte e falou sobre a "vitória do PSDB em todo o país".
Jornalistas presentes ainda tentaram perguntar a Aécio Neves se o resultado em Belo Horizonte enfraqueceria a candidatura à Presidência em 2018, mas o senador não respondeu.
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3> Quem é Kalil?
Empresário do segmento de construção civil, Alexandre Kalil, 57, foi diretor e presidente do Clube Atlético Mineiro, num período de grandes vitórias do time, como a conquista da Libertadores, em 2013.
A vitória de Kalil simboliza uma derrota política para o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Em 2014, após ver o Galo ganhar a Libertadores da América, Kalil tentou se lançar candidato a senador, inicialmente, e depois deputado federal, o que lhe foi negado pelo PSB, sob forte influência do tucano.
Preterido pelo grupo político de Aécio, Kalil filiou-se então ao nanico PHS e anunciou neste ano a candidatura à prefeitura com um vice que era do PT e agora está na Rede, o deputado estadual Paulo Lamac.
O PV completou a sua coligação. Assim, grupos políticos ligados ao governador do Estado, Fernando Pimentel (PT), acabaram apoiando sua candidatura. Kalil evitou ligar sua imagem à dos petistas, negando ter esse apoio.
A campanha no segundo turno foi marcada por uma elevação na temperatura, a agressividade predominando nos debates, nos programas eleitorais gratuitos de rádio e TV e na campanha de rua.
Com o engajamento do senador Aécio Neves (PSDB-MG) na campanha, Leite foi ao ataque principalmente depois que as pesquisas de intenção de voto mostravam o adversário na frente. Acusou Kalil de não pagar indenizações trabalhistas e de se recusar a pagar o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) dos imóveis de suas empresas.
Nos debates e na propaganda de TV, Kalil respondeu que os apoiadores do oponente estavam envolvidos "em escândalos e na Operação Lava Jato", fazendo referência a Aécio e também ao ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) José Maria Marin, preso nos Estados Unidos acusado de fraudes quando estava à frente da entidade.
O último dia de campanha foi marcado por trocas de acusações, resultado no pedido da campanha de Kalil para ter direito de resposta na TV. O TRE-MG (Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais) havia permitido o direito de respostam, de um minuto, entre 20h30 e 20h50 de sábado (29).
Na decisão do juiz Bruno Terra Dias, da Comissão de Propaganda Eleitoral da Capital, a propaganda do adversário João Leite (PSDB) foi considerada ofensiva por ter veiculado mensagem fazendo referência a "mais uma covardia do Kalil". A frase foi considerada de "caráter injurioso" pelo juiz.
Mais tarde, o juiz de plantão no TRE-MG (Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais) Antônio Mesquita Fonte Boa cassou no início da noite a liminar que concedia o direito de resposta.
O juiz disse que "a troca de críticas na campanha de segundo turno em Belo Horizonte não ultrapassou os limites ao ponto de merecer resposta". "A mensagem não ultrapassou os limites do jogo eleitoral", afirmou o juiz em sua decisão.
O "não político" e o "sem cacique"
Na campanha, Kalil repetiu o mote utilizado pelo prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), apresentando-se como "gestor" e "não político". Kalil também projetou para seu eleitorado a imagem de "terceira via", colocando-se contrário à polarização PSDB versus PT. "O prefeito não pode ser um político, tem de ser um servidor público", disse durante a campanha.
Leite, por sua vez, apresentou-se como um parlamentar "experiente" e "independente", que não possui padrinhos políticos. O tucano procurou se desvencilhar de qualquer relação com a administração do prefeito Márcio Lacerda (PSB). A existência de tal ligação foi a principal acusação que o prefeito eleito fez a seu adversário durante a campanha eleitoral.
No último debate na TV, realizado na sexta-feira (28), pela TV Globo, Kalil e João Leite mantiveram os ataques mútuos presenciados durante a campanha e buscaram, como forma de crítica, vincular o adversário a lideranças políticas mineiras.
Enquanto Kalil procurou ligar a candidatura de Leite ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), o candidato tucano acusou Kalil de esconder o apoio que receberia do governador Fernando Pimentel (PT).
João Leite voltou a acusar Kalil de ter dívidas previdenciárias na Justiça com empregados de suas empresas e de "gritar" com essas pessoas. Kalil respondeu que Leite "nunca teve uma loja de vitamina" e que não saberia dirigir empresas "com 150 mil empregados", a exemplo dele.
A Belo Horizonte de Alexandre Kalil
Kalil vai administrar uma cidade com 2,5 milhões de habitantes. Belo Horizonte tem um PIB (Produto Interno Bruto) per capita de R$ 32.844, de acordo com dados de 2013 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), acima da média nacional para aquele ano, que foi de R$ 26.445. O PIB per capita é calculado a partir da divisão pelo número de habitantes do valor total de bens e serviços produzidos numa cidade.
A cidade possui um IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) de 0,810, índice considerado muito alto (a média nacional é de 0,727 --quanto mais perto de 1, mais desenvolvido o município).
Segundo a pesquisa Mapa da Violência, que compilou dados de 2014, a cidade tem uma taxa de 31,2 homicídios por arma de fogo por 100 mil habitantes (a média no Brasil é de 30,3 por 100 mil habitantes).
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