ESCÂNDALOS NO CONGRESSO

32. Conversas interceptadas pela PF revelam ligação entre deputado André Vargas e doleiro

Data de divulgação
1.abr.2014

O deputado federal André Vargas (SP) utilizou um avião pago pelo doleiro Alberto Youssef para viajar a João Pessoa, na Paraíba, em 3.jan.2014.

Youssef foi preso em 17.mar.2014 na operação Lava Jato, da Polícia Federal, que apura esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões em operações suspeitas, segundo reportagem publicada no jornal "Folha de S.Paulo".


À época da revelação da viagem, Vargas era vice-presidente da Câmara dos Deputados e filiado ao PT. Após o escândalo, renunciou ao cargo de vice-presidente da Casa e desfiliou-se do partido.

As mensagens interceptadas pela PF mostram que a viagem a João Pessoa foi discutida entre os dois no dia 2 de janeiro. Youssef agendou o voo em jato particular para Vargas. 

Em outra conversa, Vargas e Youssef discutem assunto de interesse do doleiro no Ministério da Saúde, segundo a PF. Na transcrição, a empresa citada é a Labogen que, segundo a Operação Lava Jato, teria sido usada por Youssef para lavagem de dinheiro e pagamento de propina. Em uma das mensagens, o doleiro diz: "Acredite em mim. Você vai ver o quanto isso vai valer. Tua independência financeira e nossa também, é claro."

Uma das hipóteses da PF é que Vargas e o doleiro seriam sócios na Labogen. O laboratório obteve um financiamento de R$ 31 milhões do Ministério da Saúde, durante a gestão de Alexandre Padilha (PT),  para produzir citrato de sildenafila, usado em hipertensão pulmonar. O financiamento foi cancelado após a divulgação do escândalo.

Outro lado

Vargas declarou que conhecia o doleiro há mais de 20 anos e que pediu o avião porque voos comerciais estavam muitos caros no período. Ele disse não ter nenhuma relação com os supostos crimes atribuídos ao doleiro.

No plenário da Câmara, André Vargas admitiu que cometeu um "equívoco" ao utilizar uma aeronave emprestada do doleiro Alberto Yousseff. "Em relação ao avião, eu reconheço: fui imprudente, foi um equívoco. Deveria ter exigido contrato, deveria ter quitado, não deveria ter exposto minha família. É o que me machuca nessa hora", declarou.


O que aconteceu

A Justiça Federal enviou ao Supremo Tribunal Federal, no dia 7.abr.2014, todos os documentos da Operação Lava Jato que ligam o doleiro ao deputado, já que André Vargas, na condição de parlamentar, tem foro privilegiado. No mesmo mês, Vargas pediu licença de 60 dias do mandato para se dedicar à sua defesa.

O presidente do PT, Rui Falcão, reuniu-se com deputados da bancada do PT na Câmara e cobrou a renúncia de Vargas, em 23.abr.2014. Sob pressão, André Vargas desfiliou-se da legenda dois dias depois.

O Conselho de Ética da Câmara abriu processo, no dia 9.mai.2014, para apurar a conduta do deputado. O colegiado vai averiguar se houve quebra de decoro parlamentar, o que pode resultar na cassação do mandato de Vargas pelo plenário. 

O deputado reassumiu seu mandato na Câmara em 14.mai.2014.

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