ESCÂNDALOS NO CONGRESSO

34. Doleiro comprou gado para deputado Luiz Argôlo e orientou ações na Câmara, diz PF

Data de divulgação
6.mai.2014

O deputado Luiz Argôlo (SDD-BA) teria recebido dinheiro do doleiro Alberto Youssef para comprar gado na Bahia, segundo conversas entre os dois, de dezembro de 2013, interceptadas pela Polícia Federal. No diálogo, Argôlo aparece como "LA" e informa a Youssef duas contas bancárias para depósito no total de R$ 110 mil, de acordo com reportagem do jornal "Folha de S.Paulo".

Uma das contas é de Júlio Gonçalves de Lima Filho, comerciante de gado na Bahia, que teria recebido R$ 60 mil. A outra é em nome de União Brasil Transportes e Serviços, na qual teria sido depositado R$ 50 mil.

"Esses 110 resolvem tudo, 50 de um e 60 de outro, diga que você consegue, vá", escreve Argôlo para o doleiro. Youssef responde: ''Ok, vou correr atrás para fazer bjo." No final do dia o deputado procura novamente Youssef, que confirma o pagamento.

O comerciante teria vendido dois caminhões carregados de bezerros de até quatro anos. Teriam sido aproximadamente 60 bezerros, na faixa de R$ 1.000 cada um, segundo a reportagem.

Os diálogos apontam ligação do deputado com o laboratório Labogen, controlado por Youssef, o qual a Polícia Federal suspeita ter sido usado para fazer remessas ilegais de dólares, segundo a "Folha"

Além disso, o parlamentar teria usado verbas da Câmara para viajar e se reunir com o doleiro, segundo a PF. Youssef teria também orientado ações do deputado na Casa. Em troca de mensagens no dia 9 de outubro de 2013, Argôlo pergunta a Youssef: "Vc acha q devo pegar a vice lide ou a comissão de orçamento?? Ou nada??". "Pega a vice liderança (...) tem que estar perto do governo", responde o doleiro.


O relatório da PF indica que o congressista e o doleiro trocaram 1.411 mensagens de 14 de setembro de 2013 a 14 de março de 2014.

As investigações fazem parte da Operação Lava Jato, que prendeu o doleiro em 17.mar.2014 sob suspeita de integrar um esquema de lavagem de dinheiro.

Outro lado

O chefe de gabinete de Argôlo declarou que o deputado não teria nenhum contato com o "pessoal da Labogen" e nunca "abriu portas" para a equipe do laboratório no ministério da Saúde.

Em defesa entregue ao Conselho de Ética da Câmara, o deputado argumenta que a representação é baseada em um "vazamento criminoso de supostas trocas de e-mails" entre Argôlo e Youssef, segundo matéria da "Folha". 

A defesa afirma ainda que as informações da PF não poderiam ter sido divulgadas porque o inquérito corre em segredo de Justiça, "sendo crime a sua divulgação sem autorização judicial".

O que aconteceu

Em maio de 2014, o deputado Luiz Argôlo perdeu o cargo que ocupava na Vice-Liderança do Solidariedade na Câmara do Deputados. O partido analisa o caso para uma eventual expulsão do parlamentar.

O deputado é investigado em dois processos por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Câmara. Um deles já foi aprovado pela Corregedoria da casa e o outro será analisado. O deputado Marcos Rogério (PTD-RO) é relator dos dois processos.

Em 3.jun.2014, o deputado pediu afastamento por 15 dias das atividades na Câmara alegando ser portador de um problema cardíaco. 

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