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Última missa por Alencar em Brasília reúne choro de Lula e sobriedade de Dilma

Maurício Savarese<BR>Do UOL Notícias<BR>Em Brasília

30/03/2011 22h43Atualizada em 30/03/2011 22h57

Na segunda e última missa de corpo presente do ex-vice-presidente José Alencar no Palácio do Planalto, o clima sóbrio foi quebrado pelas lágrimas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou junto da sucessora, Dilma Rousseff. Amigos e aliados políticos do mineiro, eles mostraram rostos diferentes durante a celebração nesta quarta-feira (30). A visitação pública continuou aberta após o fim da cerimônia, mas foi encerrada no final da noite. Nesta quinta-feira, o corpo de Alencar segue para Minas Gerais, onde será novamente velado e cremado.

Lula chorou várias vezes, beijou a testa de Alencar e conversou bastante com Josué Gomes da Silva, filho que comanda o império têxtil deixado pelo ex-vice-presidente, morto de câncer na terça-feira (29). Em seu único momento de descontração na noite, ao lado do caixão, fez à viúva, Mariza Gomes da Silva, um gesto com o polegar como se estivesse bebendo.

Também vestida de preto, Dilma prestou homenagens de forma mais sóbria ao amigo e trocou apenas algumas palavras com a viúva, Mariza Gomes da Silva, a quem abraçou no fim da celebração. Fez o mesmo para a ex-primeira-dama, Marisa Letícia. Mais ouviu do que falou. Sorriu quando Lula fez o gesto com o polegar. E o tocou depois que ele voltou a chorar.

Os dois chegaram de helicóptero ao Palácio do Planalto, depois de uma viagem a Portugal na qual Lula recebeu prêmio de doutor honoris causa pela Universidade de Coimbra. Dilma também visitava o país. Ambos anteciparam o retorno ao país por conta do velório. A primeira missa foi celebrada durante a manhã, presidida pelo representante do Vaticano no Brasil, dom Lorenzo Baldissieri.

No início da cerimônia, a presidente, que ofereceu o Palácio do Planalto e honras de chefe de Estado para o velório de Alencar, mirou o caixão longamente, interrompida apenas por Lula falando ao pé do ouvido. Cumprimentou outros familiares do ex-vice-presidente e também acenou para ministros –convocados por ela para estarem presentes nas duas missas no palácio.

Na missa propriamente dita, o secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Dimas Lara Barbosa, classificou Alencar de “guerreiro vitorioso”. Ele disse ainda que por conta da doença, detectada pela primeira vez em 1997, “nosso irmão já estava preparado” para o fim da vida.

A segurança do Planalto informou que mais de 8.000 pessoas passaram pelo funeral em Brasília. Diversas autoridades e curiosos estiveram presentes. Há quatro anos combatendo um câncer no intestino, doença que matou José Alencar, a aposentada Ezimar Vieira se emocionou e disse que Alencar soube enfrentar a doença sem se abater. "Ele foi um grande exemplo para muitas pessoas que têm câncer. Ele foi um grande herói, que me inspirou e me deu força."

Já a ex-servidora do Planalto Marlene Celestino de Araújo furou o bloqueio que separava o público do caixão do ex-vice-presidente e colocou um terço nas mãos dele. Depois, ela abraçou a viúva de Alencar, Mariza Gomes da Silva.

Velório e cremação em MG

O corpo de Alencar será velado também com portões abertos ao público a partir das 9h de quinta-feira (31), no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, ex-sede do governo de Minas Gerais.  A previsão é que o velório se estenda até às 13h. Lula e Dilma estarão presentes na cerimônia.

A assessoria do ex-vice-presidente José Alencar confirmou que o corpo do político será cremado amanhã, às 14h, em Belo Horizonte.

Mineiro de Muriaé, na Zona da Mata mineira, José Alencar é uma figura ilustre no Estado e, por isso, o governo espera um grande número de admiradores para o último adeus na quinta-feira. Antes de se tornar vice-presidente de Luiz Inácio Lula da Silva, o político foi candidato derrotado ao governo estadual em 1994. Quatro anos depois, em 1998, elegeu-se senador por Minas com 2,9 milhões de votos.

De acordo com o cerimonial do governo de Minas, o corpo será transportado por um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), que parte de Brasília e pousará na base aérea da Pampulha às 7h30.

A BHTrans, empresa responsável pelo trânsito na capital mineira, reúne-se nesta terça-feira com representantes das Forças Armadas para definir detalhes sobre o deslocamento do cortejo até o Palácio da Liberdade, onde o corpo deve chegar por volta das 8h30.

Biografia

Filho de um pequeno comerciante de um vilarejo mineiro, José Alencar Gomes da Silva começou a trabalhar cedo e deixou a família quando tinha 14 anos para empregar-se numa loja na sede do município de Muriaé (MG).

Em 1947, atrás de um emprego melhor, mudou-se para Caratinga, cidade em que conheceu Mariza, com quem se casou. Aos 18 anos, foi emancipado pelo pai (na época, a maioridade civil ocorria aos 21 anos) e, com apoio financeiro de um irmão, abriu uma loja na cidade.

Hoje, a Coteminas S.A., controlada pela família de Alencar, é a maior empresa do setor têxtil do país e um dos mais importantes grupos econômicos do Brasil.

Alencar causou surpresa, à esquerda e à direita, ao aceitar a posição de vice na vitoriosa chapa de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, na campanha de 2002. Quatros anos depois, foi reeleito vice-presidente.

Alencar lutava contra um câncer na região abdominal há 13 anos e chegou a fazer 17 cirurgias durante o tratamento contra a doença.

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