Topo

Por que um grupo de sem teto em SP está acampado em frente à Presidência?

Integrantes do MTST ocupam a frente ao escritório da presidência da República em SP Imagem: Alice Vergueiro/Estadão Conteúdo

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

16/02/2017 15h36

O acampamento promovido por integrantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) desde a noite dessa quarta-feira (15), em São Paulo, não tem prazo para deixar a avenida Paulista –um dos principais cartões postais da cidade. O ato acontece em frente ao prédio onde fica o escritório da Presidência da República e espera que alguém do governo federal negocie com o grupo –o que, segundo a Presidência, não deve ocorrer.

Ao todo, cerca de 200 manifestantes armaram tendas e barracas na calçada em ação semelhante à que grupos favoráveis ao impeachment da ainda presidente Dilma Rousseff (PT) fizeram, há cerca de um ano, na calçada da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

Veja também

Segundo o movimento, desde a gestão Dilma, encerrada em abril com o afastamento provisório da petista –e o definitivo em agosto–, que o governo federal não entrega unidades do Minha Casa voltadas à faixa 1, a famílias que recebem até R$ 1.800 mensais.

“A resposta do governo federal à demanda das famílias foi a da repressão, ao pedirem a Tropa de Choque para proteger o escritório. Estão acabando com o Minha Casa, Minha Vida como programa social e retomando a política antiga do BNH [Banco Nacional de Habitação]: tratam moradia popular como linha de crédito do governo, como ativo financeiro. E 84% do déficit habitacional no país, hoje, está justamente na faixa 1 do programa”, afirmou Guilherme Boulos, coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).

No começo do mês, a União anunciou o aumento do limite de renda para participação do Minha Casa, Minha Vida em algumas faixas do programa: na faixa 1,5, o teto passou de R$ 2.350 para R$ 2.600; na faixa 2, foi de R$ 3.600 para R$ 4.000; na faixa 3, que contempla financiamentos com recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), o teto aumentou de R$ 6.500 para R$ 9.000.

"O programa está ficando restrito a quem tem capacidade de crédito imobiliário; está ficando com um viés imobiliário e de balcão de banco, quando, na realidade, deve ser um programa social”, reforçou Boulos. “Não houve uma única moradia entregue pelo governo Temer na faixa 1 do programa. Estão secando o Minha Casa para quem ganha menos”, concluiu.

O MTST trabalha com o déficit de moradias divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que é de 6,1 milhões de unidades –quase a metade da população da cidade de São Paulo.

“Quando o presidente fala em ‘ousadia’ como marca de sua gestão, deveria substituir por ‘retrocesso’ ou ‘ousadia do mal’. Estão destruindo os direitos dos trabalhadores”, afirmou o coordenador do movimento antes de explicar que, durante o dia de hoje, os manifestantes farão debates sobre as reformas da Previdência e trabalhista, em curso em Brasília, e sobre a indicação de Alexandre de Moraes para uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal). “Vamos falar sobre o descalabro e o escândalo que é uma indicação dessas”, classificou.

"Não há negociação em curso com líderes do ato", diz governo Temer

Procurada pela reportagem para repercutir as declarações de Boulos sobre o programa Minha Casa, Minha Vida e para saber se haverá negociação a respeito do protesto, a Secretaria de Comunicação da Presidência encaminhou a seguinte nota: “O governo federal não irá fazer posicionamento em relação ao movimento e não há negociação em curso com líderes do ato.”

Também o Ministério das Cidades, que gerencia o programa, não respondeu, até esta publicação, os questionamentos sobre os números do Minha Casa –sobretudo à faixa 1 dele.

Quando elevou os limites para outras faixas que não a 1, o governo argumentou que a ideia era ampliar o acesso do programa. "Esse mecanismo amplia a quantidade de pessoas que terão acesso e atinge a classe média com o programa Minha Casa, Minha Vida", afirmou o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, na ocasião.

O acampamento dos sem teto na Paulista é feito com lonas e pedaços de bambu.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Por que um grupo de sem teto em SP está acampado em frente à Presidência? - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade


Política