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Temer e Doria são criticados e vaiados em 1º de Maio de ex-aliada Força Sindical

Evento de 1º de Maio da Força Sindical na zona norte de São Paulo Imagem: Danilo Verpa/Folhapress

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

01/05/2017 13h18

Discursos com fortes críticas ao presidente Michel Temer (PMDB) e ao prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), marcaram no final da manhã desta segunda-feira (1º) o evento de 1º de Maio organizado pela Força Sindical, na zona norte de São Paulo. Além das críticas, Temer e Doria também tiveram seus nomes saudados por uma forte vaia por parte do público presente --segundo bombeiros civis que trabalham no evento, estimado em pouco mais de 200 mil pessoas; segundo a Força, foram 700 mil.

As críticas a Temer foram centradas nas reformas trabalhista e previdenciária em curso no Congresso. O secretário-geral da Força, João Carlos Gonçalves, o Juruna, leu um manifesto contra as medidas firmado em conjunto com outras centrais sindicais. A ideia é que o documento seja lido em todos os atos pelo Dia do Trabalho, nesta segunda-feira, pelo Brasil. 

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As endereçadas ao prefeito --que, no ano passado, pré-candidato ao Executivo municipal, foi ao 1º de Maio da Força Sindical pedir apoio-- tiveram como alvo as declarações de Doria sobre a greve geral da última sexta-feira (28). No dia da greve, o tucano classificou como "vagabundos" e "preguiçosos" os trabalhadores que aderiram à paralisação. Doria ainda defendeu as reformas propostas Temer e disse que "só quem pensa pequeno" se posiciona contra as medidas.

Pesquisa Datafolha divulgada nesta segunda (1) revela que sete em cada dez brasileiros se afirmam contrários à reforma da Previdência --de modo que a rejeição chega a 83% entre os funcionários públicos. O segmento representa 6% da amostra e figura entre os grupos mais ameaçados pelas mudanças nas regras para aposentadorias e pensões.

"Prefeitinho" fez "cretinice", criticam sindicalistas

Hoje, em seu perfil no Twitter, Doria saudou pelo 1º de Maio "todos trabalhadores, homens e mulheres, que diariamente saem de casa para defender de forma honrosa o sustento de suas famílias". No evento da Força, porém, a saudação encontrou pouco ou nenhum eco entre os discursos.  "Vem esse prefeitinho chamar a gente de vagabundo? Na hora de nós pedirmos votos para você [Doria], não fomos vagabundos. Você nos respeite e limpe a sua boca para falar", disse a presidente do Sindicato das Costureiras de São Paulo, Eunice Cabral. 

Deputado estadual pelo PSDB de São Paulo, Ramalho da Construção também não poupou o prefeito e seu correligionário. Ele afirmou que ajudou Doria a se eleger e cobrou do prefeito um pedido de desculpas não só pelos xingamentos aos grevistas, como pelo gesto hostil, ontem, a uma ciclista que lhe deu flores pelos mortos em acidentes nas marginais. Abordado pela mulher quando deixava um evento na avenida Paulista, Doria lançou o ramalhete no chão. 

"Que coisa mais feia, ontem, o prefeito jogar como lixo as flores dadas por uma senhora com toda a delicadeza. Para quem prega a 'cidade linda', o senhor está errado", alvejou o parlamentar, que sugeriu: "O senhor veio ano passado aqui pedir votos, venha hoje pedir desculpas também por sujar as ruas de São Paulo. Sou do PSDB, mas não concordo com uma cretinice dessas."  

Imagem: Renato S. Cerqueira/Futura Press/Estadão Conteúdo

Que coisa mais feia o prefeito jogar como lixo as flores dadas por uma senhora com toda a delicadeza. Para quem prega a 'cidade linda', o senhor está errado. O senhor veio ano passado aqui pedir votos, venha pedir desculpas por sujar as ruas. Sou do PSDB, mas não concordo com uma cretinice dessas

Ramalho da Construção, deputado estadual (PSDB-SP)

"Este aqui é um recado ao Doria: os trabalhadores e trabalhadoras não são vagabundos, eles estão lutando por seus direitos, afirmou o presidente do Sindicato dos Condutores, Chiquinho Pereira, ligado à UGT (União Geral dos Trabalhadores). Sem menção direta ao prefeito, o representante do Sindicato dos Frentistas de São Paulo, Luís Arraes, resumiu: "Vagabundos são eles que estão mamando no governo". Pelo sindicato dos Trabalhadores em Edifícios e Condomínios, o presidente Paulo Ferraz foi direto: "Não sou vagabundo como o prefeito está falando. Não somos playboizinhos", ironizou. 

Pouco antes de os sindicalistas discursarem no ato político, a dupla sertaneja Bruno e Marrone perguntou ao público sobre o prefeito. "O que vocês acham do prefeito Doria? Ele é um cara legal, né?", indagou Marrone, com um joia nas mãos. A reação da plateia foi fria.

Procurada, a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de São Paulo afirmou que o termo “vagabundos” foi usado pelo prefeito João Doria para "se referir aos grevistas que pretendiam bloquear sua passagem ao local da agenda na última sexta-feira [do prefeito], sem sucesso". "O prefeito não se referiu aos trabalhadores que foram impedidos de se locomover até seus postos de trabalho por conta da greve."

Mais tarde, o prefeito disse que "acordo cedo, trabalho muito e respeito quem faz o mesmo". "Tem o meu repúdio os que agridem, os que impedem outros trabalhadores de trabalhar. Os que destroem a cidade, xingam e intimidam adversários de ideias."

Evento esvaziado de políticos

Diferentemente de eventos de 1º de Maio de anos anteriores organizados pela Força, o deste ano é marcado pela ausência de figuras políticas de relevância.

Tanto Paulinho quanto o secretário-geral da central, João Carlos Gonçalves, o Juruna, afirmaram que um suposto receio de reação às reformas poderia explicar a não aceitação do convite.

De acordo com Juruna, foram convidados Temer, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e seu afilhado, o prefeito João Doria (PSDB), além de "todos os senadores paulistas, deputados federais e estaduais e presidentes de todos os partidos".

"Apenas [o deputado federal] Orlando Silva (PCdoB-SP) confirmou presença. Pode ser que os que não vieram de fato tenham tido algum receio, já que vários já se posicionassem publicamente a favor das reformas, mas somos uma central do diálogo", defendeu o secretário-geral.

Indagado se algum figurão político viria, Paulinho riu, coçou a cabeça e respondeu: "Os caras não vêm. Eles são doidos?", riu. Em seguida, disse ter recebido a resposta de Temer sobre o não comparecimento.

"Queremos mudanças, e espero que o governo tenha ouvido as manifestações de sexta e as de hoje e, a partir de amanhã, sente para dialogar. Não adianta enfiar goela abaixo uma reforma que as pessoas não aceitam; o presidente Temer tem que entender que ele não é o dono do Brasil, ele é apenas o presidente, e, portanto, tem que dialogar", encerrou.

Deputado critica "dilmalização" de Temer

Já as críticas voltadas a Temer por nomes como o do deputado Paulinho da Força (SD), integrante da base do governo na Câmara, focaram medidas da reforma trabalhista --como a lei que amplia de maneira irrestrita as terceirizações --e a reforma previdenciária, que ainda não foi votada no Congresso. 

"O Brasil passa pela maior crise econômica da história, e a elite cismou que os trabalhadores têm que pagar a conta", disse o deputado, que reclamou ainda do corte da contribuição sindical pela reforma trabalhista. "Como vamos garantir os direitos dos trabalhadores se os sindicatos não têm recursos para negociar? E com essa reforma da Previdência, a grande maioria dos trabalhadores vai morrer antes de se aposentar", afirmou.

"Estão tentando jogar a crise nas costas dos trabalhadores. Temer não é o dono do Brasil: ele foi colocado lá, mas não pode fazer a dilmalização do país; ele não pode ser aquela pessoa que todo mundo odeia, mas pacificar o Brasil", afirmou.

"Estamos dispostos a negociar, e se o governo não mudar essa proposta, nós vamos parar o Brasil de novo. Daqui até lá podem tentar aprovar essa porr* dessa reforma", atacou. Em seguida, o parlamentar quis saber quem, na plateia, era favorável a uma nova greve geral. Boa parte dos presentes não ergueu o braço. 

Pela Associação Nacional dos Aposentados, o presidente João Batista Inocentini atacou a proposta de reforma previdenciária de Temer e destacou que ela "tira o direito de a juventude se aposentar com dignidade".

"Demos o troco na sexta-feira (28) e, a partir de amanhã, vamos montar acampamento no Congresso, se for preciso, para dizer que não aceitaremos essas reformas", completou. "Nem a ditadura conseguiu tirar os direitos da classe trabalhadora, por isso, não podemos admitir que, em uma canelada, 296 deputados queiram acabar com isso", declarou Torres, que já presidiu a Força.

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