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"É agora ou nunca", diz Aécio a Jucá em grampo que PGR diz ser ação para barrar Lava Jato

Aécio Neves (PSDB-MG), agora afastado, em sessão no Senado - Pedro Ladeira/Folhapress
Aécio Neves (PSDB-MG), agora afastado, em sessão no Senado Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Aiuri Rebello

Do UOL, em São Paulo

30/05/2017 20h10

"Eu acho que é agora ou nunca, né?", diz o senador Aécio Neves (PSDB-MG) em um celular grampeado. "Passou do limite, porra. Já devia ter sido", responde o interlocutor, o também senador Romero Jucá (PMDB-RR). A conversa foi interceptada pela Polícia Federal no dia 13 de abril às 15h48, cerca de 48 horas depois da divulgação do conteúdo das delações premiadas da Odebrecht pelo ministro relator da Operação Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), Edson Fachin.

O diálogo faz parte da denúncia contra Aécio feita pela PGR (Procuradoria-Geral da República) ao tribunal, no âmbito da delação premiada dos irmãos Wesley e Joesley Batista, donos da J&F Investimentos, que controla marcas como Friboi, Seara e Havaianas.

De acordo com a PGR (Procuradoria-Geral da República), o diálogo integra tratativas dos dois com outros senadores para tentar interferir na Operação Lava Jato. "Além dos anteriores, outros diálogos e tentativas de contato foram aparentemente motivados pelas colaborações premiadas divulgadas às vésperas. A conversa entre os senadores Aécio Neves e Romero Jucá discorre supostamente sobre tal assunto", diz a procuradoria na denúncia, na qual pede a prisão de Aécio (não concedida pelo ministro Fachin, que apenas o afastou do mandato no Senado). A assessoria do senador afastado nega que tenha havido alguma irregularidade no diálogo (leia mais abaixo).

Na denúncia oferecida contra Aécio, os procuradores da República lembram o diálogo de Jucá com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, no qual o atual líder do governo no Senado afirmava que a solução era o impeachment da então presidente Dilma Rousseff, como forma de "estancar a sangria" da Operação Lava Jato no meio político. Machado gravou a conversa escondido e depois ofereceu à PGR na negociação de sua delação premiada.

A PGR afirma que as duas conversas estão relacionadas e tratam do mesmo assunto: meios de frear as investigações e seus resultados. Antes da delação dos irmãos Batista, Aécio respondia a cinco inquéritos na Operação Lava Jato, a mesma quantidade de Jucá. No diálogo interceptado pela PF, não é possível aferir exatamente sobre o que os dois senadores conversam, apenas que tentam organizar uma reunião entre eles e outros senadores.

Na conversa, Jucá chama Aécio de "meu presidente" e é tratado por este como "meu irmão". Veja a transcrição do diálogo feita pela PF abaixo:

Aécio - Alô...
Jucá - Fala, meu presidente!
Aécio - Fala, meu irmão, tudo bem? E aí?
Jucá - Tudo firme, na luta, né?
Aécio - ... (incompreensível)...
Jucá - Com tranquilidade, mas...
Aécio - É um dano, né?
Jucá - É. Você vai estar aqui quando em Brasília?
Aécio - Eu tô programando de voltar... na verdade eu tô em Brasília, no aeroporto, embarcando. E vou... chegar na segunda à noite, tô aqui na terça e segunda à noite e terça-feira o dia inteiro. (Incompreensível)... essa semana é meio morta aqui, num vai?... (incompreensível)...
Jucá - Eu não sei, né? Mas eu acho que a gente... a gente precisava...
Aécio - Conversar.
Jucá - O Jader chega na segunda, eu combinei com ele. Eu acho que a gente precisava na segunda dar uma conversada.
Aécio - Vamos de... vamos ver se na segunda à noite... então... deixa alguma coisa organizada aí.
Jucá - Deixar marcado.
Aécio - Eu tive com o Eunício ontem e falou um pouco da conversa que vocês tiveram aquele dia... (incompreensível)... A última. Eu tô... eu vou fazer o possível para chegar segunda aí mais no início da noite.
Jucá - Tá.
Aécio - Me dá uma ligada pra marcar alguma coisa.
Jucá - Tá, tá.
Aécio - Também eu acho que é agora ou nunca, né?
Jucá - Não, não... deixa eu te falar... ééé... passou do limite, porra. Já devia ter sido.
Aécio - Claro.
Jucá - Agora vamos discutir tudo isso, né? Tá? É importante.
Aécio - Você vê... mas você vê condições?
Jucá - Vejo... vejo...
Aécio - Também vejo. Também acho que... essa forma como está sendo feito isso aí... essa banalização geral da política.
Jucá - Vejo... vejo... é.
Aécio - Então tá bom. Um abraço.
Jucá - Um abraço, OK. Tchau.

Aécio teria plano para frear operação Lava Jato

Band Notí­cias

Aécio trabalhava para frear Lava Jato, diz PGR

No dia 20 de abril, uma semana depois da conversa com Jucá e nove dias após a divulgação das delações da Odebrecht, o senador José Serra (PSDB-SP) ligou para Aécio e demonstrou preocupação com a crise política. No diálogo interceptado pela PF, os dois falam de conversar com o presidente Michel Temer para trocar o ministro da Justiça para alguém "forte", supostamente para controlar a PF. Neste domingo (28), o presidente Michel Temer decidiu tirar Osmar Serraglio do Ministério da Justiça e nomear Torquato Jardim, que estava no Ministério da Transparência.

No dia 26 de abril, outra interceptação da PF no celular de Aécio gravou uma conversa dele com o ministro Gilmar Mendes, do STF. Na conversa, ele pede ajuda para convencer o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) a seguir a posição dele na votação do projeto que trata da lei de abuso de autoridade. Gilmar concorda. Neste dia, mais tarde, o Senado aprovou, na Comissão de Constituição de Justiça e no plenário, o projeto que modifica a lei.

Nesta terça-feira (30), o jornal "Folha de S.Paulo" mostrou que Aécio afirmou ao empresário Joesley Batista ter pressionado o presidente Michel Temer, com outros empresários, para que fossem feitas mudanças na Polícia Federal que incluíam a substituição do diretor-geral do órgão, Leandro Daiello.

A conversa foi gravada pelo próprio Joesley no hotel Unique, em São Paulo, em 24 de março, e anexada ao acordo de delação que o grupo J&F fechou com a PGR. Aécio disse a Joesley que o governo deveria aproveitar a crise gerada pela Operação Carne Fraca para a troca, que seria uma boa desculpa par mexer no comando da PF.

Em outro grampo, no dia 24 de abril, Aécio fala com o diretor-geral da Polícia Federal, delegado Leandro Daiello. Eles conversam sobre a remarcação de um dos depoimentos de Aécio na PF. O senador tenta agendar uma audiência com Daiello para o mesmo dia, "até por em razão do que está por vir ainda", diz Aécio. O diretor-geral da PF compromete-se a recebê-lo.

'Conversa não tem nada de excepcional', afirma assessoria

Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do senador Aécio Neves afirma que o encontro com o diretor-geral da PF não aconteceu. A assessoria de imprensa da Polícia Federal não respondeu às perguntas da reportagem. 

A assessoria de Aécio discorda da PGR e diz que a conversa não traz nenhum teor comprometedor. "Os senadores Aécio Neves e Romero Jucá eram, à época da gravação, presidentes de partidos com uma extensa agenda de temas a serem discutidos", afirma a resposta enviada ao UOL.

"A conversa não trata de assunto excepcional ou impróprio, não cabendo, portanto, ser considerada indício de qualquer ilícito. Trata-se de uma dentre tantas outras havidas entre senadores", afirma a nota da assessoria.

O UOL procurou o senador Romero Jucá, por meio de seu gabinete e assessoria de imprensa, durante toda a tarde de terça-feira, mas não obteve retorno das ligações e recados até a publicação desta reportagem. Assim que se manifestar, sua defesa sobre a conversa será incluída no texto.