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Após Janot chamar Joesley de bandido, defesa de delator diz que ataque é "desleal"

O empresário e delator Joesley Batista - Jorge Araujo/Folhapress
O empresário e delator Joesley Batista Imagem: Jorge Araujo/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

20/09/2017 22h05Atualizada em 20/09/2017 22h08

A defesa do empresário Joesley Batista, um dos delatores do grupo J&F, afirmou na noite desta quarta-feira (20) estar "perplexa" com o fato de Rodrigo Janot, ex-procurador-geral da República, ter chamado Joesley de "bandido". "O doutor Rodrigo Janot ataca, violentamente, a pessoa de Joesley de maneira desleal e desproporcional, mais uma vez", disse o advogado criminalista Antônio Carlos Almeida Castro, o Kakay.

Em sua primeira entrevista após deixar o cargo, publicada nesta quarta-feira (20) pelo jornal “Correio Braziliense”, o antecessor de Raquel Dodge disse que, quando se faz acordo de colaboração, se “está negociando com bandido, bandi-dê-ó-dó”.

Na avaliação de Kakay, Janot agiu "de forma desleal, incorreta e injusta" ao rescindir o acordo de colaboração premiada e denunciar os delatores, com a consequente retirada da imunidade concedida. "É importante ressaltar que Joesley tratou o seu processo de delação com a Procuradoria-Geral da República, um ato de extrema importância e gravidade, confiando na boa-fé do agente público e chefe do MPF", argumentou.

O advogado também criticou a afirmação de Janot de que não atuou como procurador para criminalizar a política. Segundo Kakay, o ex-procurador pediu a abertura de inquéritos contra partidos "historicamente importantes e reconhecidos como pilares da redemocratização". "[Ele se referiu aos partidos] como se fossem uma organização criminosa, sem se preocupar com o óbvio: descrever os tais crimes cometidos e explicitar a necessária individualização da suposta conduta dos parlamentares ali indevidamente atacados", argumentou. 

Janot fala de "gosto amargo" por Joesley

Na entrevista desta quarta, Janot avaliou sentir um “gosto amargo” por Joesley ter escondido fatos durante as tratativas de acordo. No começo do mês, ainda à frente da PGR, Janot informou que estava revisando o acerto e pediu a prisão do empresário ao STF (Supremo Tribunal Federal) em função de omissão de informações. Joesley, que se gravou falando sobre esquemas envolvendo o acordo, se entregou à Justiça em 10 de setembro e está preso.

"O cara, porque é colaborador da Justiça, não deixa de ser bandido. As coisas têm que ser muito claras. A mesa de negociação é um lugar muito duro, um ringue mesmo", afirmou ao responder sobre se a prisão de Joesley trazia alívio ao MPF. Janot pediu a rescisão do acordo de delação da JBS na semana passada, mas o STF ainda precisa avaliar.

“Eles esconderam fatos. Trouxeram ‘A’ mas não nos trouxeram ‘B’. Porque não trouxeram “B”, está contaminado todo o acordo. Só que o fato de ele não trazer o ‘B’ não influencia nem tangencia o ‘A’. Não contamina. A rescisão me permite continuar usando a prova. Mas dá um gosto amargo, o sujeito [Joesley] não pulou o lado, continuou ao lado da bandidagem”, avaliou Janot.

O acordo de colaboração com o grupo J&F, de Joesley Batista, é tido por Janot como uma “escolha de Sofia”. “Eram crimes gravíssimos e em curso. Tomo conhecimento disso, vejo que tem indicativo de prova. Se eu não pego o material que eles tinham, eu não poderia investigar, eu teria que ficar quieto vendo esses crimes acontecerem ou então eu tinha que negociar a imunidade [pedida por Joesley]".