Vídeo mostra soldados comemorando massacre do Carandiru em SP; PM investiga
Um vídeo postado em rede social mostra um grupo de policiais militares comemorando o massacre do Carandiru e enaltecendo o coronel Ubiratan Guimarães, comandante da operação que deixou 111 presos mortos na Casa de Detenção, zona norte de São Paulo, em 2 de outubro de 1992.
A Polícia Militar informou que "o vídeo não era do conhecimento da instituição. A corporação acrescentou que as imagens sugerem, em análise inicial, uma ação isolada de um grupo de alunos de curso de formação de soldados, inclusive sem a presença de instrutores".
A PM acrescentou também "que desaprova por completo o conteúdo do vídeo, e que o CPChoque (Comando de Policiamento de Choque) já determinou a imediata investigação do caso". Neste sábado (6), após a publicação da coluna, o ouvidor das Polícias, Cláudio Silva, informou que abriu procedimento para apurar o caso. Ele classificou de "absurdo" o ato dos PMs.
As imagens mostram os soldados do Choque formando uma roda, batendo palmas e gritando "Cavalaria", em referência ao Regimento 9 de Julho, a polícia montada, da PM. Um dos soldados puxa o canto e os demais repetem os refrões dele.
Os PMs também exaltam o Choque, dizendo, em forma de rima, que em 2 de outubro de 1992 "se apresentou o 1º Batalhão, aquele que acalmou a Casa de Detenção". A unidade citada no cântico é a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar).
A música diz que "logo pela manhã o clima já era tenso, e que a caveira já estava sorrindo para os detentos". Diz ainda que no presídio só tinha lixo, em alusão aos prisioneiros, e que havia sido dado uma ordem para "derrubar geral", ou seja, matar os detentos.
Em outro trecho, ainda dançando, os PMs falam sobre bombas, facadas, tiros e granadas e corpos mutilados e cabeças arrancadas. Dizem ainda que no presídio o cenário era de guerra, tipo Vietnã, e seguem com outra rima dando continência ao coronel Ubiratan.
Os policiais militares da escola de formação de soldados encerram a dança com outro verso dizendo: "grita ladrão, sua hora vai chegar, escola do Choque está saindo pra caçar".
O Massacre do Carandiru, ocorreu após a uma briga de presos no Pavilhão 9 da antiga Casa de Detenção. A Polícia Militar foi acionada para controlar a rebelião. O episódio teve repercussão mundial e foi manchete de jornais em vários países, inclusive na Europa e Estados Unidos.
Impasses jurídicos
O caso teve um vaivém jurídico durante décadas. O Tribunal do Júri condenou 74 policiais militares envolvidos no massacre, a penas de 48 anos a 624 anos de prisão.
Em novembro de 2022, o ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal), reconheceu as condenações e determinou o trânsito em julgado do processo. Mas um mês depois, o então presidente Jair Bolsonaro concedeu indulto aos PMs condenados.
Em janeiro de 2023, a ministra Rosa Weber, do STF, suspendeu parte do decreto assinado por Bolsonaro que perdoava os militares, até que o caso fosse analisado por Luiz Fux. No último dia 17, o ministro autorizou a Justiça de São Paulo a retomar o julgamento sobre o indulto.
Ele determinou que os desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo deem continuidade ao julgamento do indulto concedido por Jair Bolsonaro, independentemente do desfecho da ação que tramita no Supremo.
Segundo entidades de direitos humanos, em outubro de 1992, 66% dos presos da Casa de detenção eram condenados por roubo e 8% por casos de homicídio. Já 80% das vítimas do massacre eram prisioneiros provisórios, sem condenação.
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Quero receberNa avaliação de sociólogos e especialistas em segurança pública, a matança na Casa de Detenção foi o ponto de partida para a organização dos presos e o processo de criação do PCC (Primeiro Comando da Capital), a maior facção criminosa do Brasil.
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