Comandante diz que Exército não punirá general que defendeu intervenção militar
Do UOL, em São Paulo
20/09/2017 02h34Atualizada em 20/09/2017 13h04
O comandante do Exército brasileiro, general Eduardo Villas Bôas, disse que não haverá punição ao general Antonio Hamilton Martins Mourão, secretário de economia e finanças da corporação, pelas declarações em que sugere a possibilidade de intervenção militar no país. Em palestra numa loja maçônica de Brasília na sexta-feira (15), Mourão respondeu a uma pergunta sobre a eventualidade de uma intervenção militar constitucional. Na resposta, ele disse que os militares poderão ter de "impor isso [intervenção]" e que essa "imposição não será fácil".
"Esta questão está resolvida internamente. Punição não vai haver. A maneira como Mourão se expressou deu margem a interpretações amplas, mas ele inicia a fala dizendo que segue as diretrizes do comandante. E o comando segue as diretrizes de promover a estabilidade, baseada na legalidade e preservar a legitimidade das instituições", disse Villas Bôas em entrevista ao programa "Conversa com Bial", da TV Globo, na madrugada desta quarta-feira (20).
Questionado sobre se, com a declaração, Mourão não teria quebrado a hierarquia militar, Villas Bôas disse que entre as atribuições das Forças Armadas está aplicar a lei e a ordem para defesa da pátria e das instituições, o que só poderá ocorrer por requisição de um dos poderes ou na iminência de um caos. "Quando ele fala de aproximações sucessivas, ele fala também das eleições que se aproximam [em 2018]. É preciso ver o ambiente em que ele estava. Ele não fala pelo alto comando", afirmou Villas Bôas.
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Villas Bôas citou ainda o Rio de Janeiro como exemplo de intervenção feita pelo Exército a pedido do Poder Executivo daquele Estado.
Sobre o período da ditadura militar (1964-1985), Villas Bôas disse ainda que é "necessário entender aquele momento nas circunstâncias que haviam ali." Para ele, o mundo, que vivia o período da Guerra Fria, passava por um período de "intensa polarização de pensamento, que levou a uma exigência da própria sociedade para que se fizesse uma intervenção". Para o general, o Brasil teria hoje instituições sólidas que "dispensam a tutela da sociedade".
Por outro lado, Villas Boas destacou o desenvolvimento econômico do país que houve no período. "Durante o governo militar o Brasil passou da 47ª para a 8ª maior economia do mundo", disse. "Nós tratamos de tirar todos os ensinamentos que a história nos proporcionou e hoje tratamos de aplicar para orientar o nosso caminho".
Amazônia, Rio de Janeiro e Haiti
Villas Bôas comentou ainda a situação da Amazônia. Para ele, as informações sobre a floresta passam por um "filtro politicamente correto" antes de chegar ao público. "A abordagem da questão deve levar em conta primeiro a condição humana das pessoas que vivem ali. Quando isso é negado, o próprio índio acaba sucumbindo aos ilícitos. Coloca-se uma redoma em cima de uma comunidade, pensando que se vai preservar uma cultura. Em todas a vezes em que visitei aldeias indígenas, sempre o líder da comunidade chegava para mim com uma lista de exigências: luz elétrica, internet. É preciso dar as ferramentas para que a comunidade evolua preservando suas tradições", disse.
Com relação à ação militar no Rio de Janeiro, o general disse que há uma "incompreensão" sobre o papel das Forças Armadas na situação. "Há o pressuposto de que a presença do Exército vai resolver o problema e não é isso. Cabe às Forças Armadas criar o ambiente para permitir que outros vetores do Estado atuem na comunidade. No Rio de Janeiro isso não está acontecendo. E se não ocorrer, podemos deixar o Exército a vida inteira e não vai adiantar", disse.
Sobre a força de paz brasileira no Haiti, que está em processo de finalização, o general disse que a operação foi um "absoluto sucesso, que em grande parte vem da nossa maneira de ser". "O mesmo militar que de dia está patrulhando, de noite estava jogando uma pelada com o povo de lá".
Villas Bôas ressaltou que esse sucesso no entanto se refere à ação do Exército brasileiro, mas não de reconstrução do país. "Nesse ponto, a situação evoluiu muito pouco e saímos do país com a preocupação de que o povo de lá consiga caminhar comas próprias pernas."
O general comentou ainda sobre a presença de gays e transexuais na corporação. Segundo ele, o Exército "segue a lei e já temos transexuais". "Inclusive em cursos de combatentes. Existe no exército e está assimilada com naturalidade. Não vou dizer que eventualmente não haja alguns problemas, mas tratamos de forma natural, que ocorre dentro da Força, assim como no restante da sociedade."