Camarotes da CBF reúnem Bolsonaro, governistas e oposição em jogo do Brasil
Antonio Temoteo
Do UOL, em Brasília
07/06/2019 11h00Atualizada em 07/06/2019 11h45
Governo, oposição e partidos do chamado Centrão (DEM, PSD, PL, PP, PTB, entre outros) têm se digladiado no Congresso Nacional e devem medir forças nas próximas semanas na votação da reforma da Previdência na comissão especial e depois no plenário da Câmara dos Deputados.
Não são poucos os episódios em que os ânimos se exaltam nos debates travados nos plenários da Câmara e do Senado Federal.
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Com dedos em riste, parlamentares oposicionistas acusam o presidente Jair Bolsonaro (PSL) de promover um retrocesso no sistema de aposentadorias com a reforma, enquanto governistas dizem que a proposta garantirá estabilidade para a economia voltar a crescer.
Apesar de estarem em lados opostos no espectro político, uma única entidade é capaz de reunir no mesmo local políticos de diversas correntes ideológicas: a CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
Na última quarta-feira, pelo menos 19 parlamentares de 11 partidos assistiram ao amistoso entre Brasil e Qatar no camarote da CBF, no Estádio Nacional Mané Garrincha.
Deputados, senadores, ministros e Bolsonaro
Dos 19 parlamentares, 17 eram deputados e dois senadores. A reportagem identificou políticos filiados ao PT, PDT, PCdoB, PSB, Podemos, DEM, PSD, PSDB, Novo, PRB e PSL.
Além deles, Bolsonaro estava em um espaço ainda mais reservado, acompanhado do filho Jair Renan, do ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, e do secretário especial de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Fabio Wajngarten.
Os deputados Hélio Lopes (PSL-RJ) e Marco Feliciano (Podemos-SP), além do senador Izalci Lucas (PSDB-DF), também estavam no espaço reservado para o presidente da República.
O coordenador técnico da seleção brasileira, Edu Gaspar, acompanhou a partida próximo de Bolsonaro.
O presidente foi ovacionado pelos torcedores. Ele retribuiu os gritos de "mito" com sorrisos e acenos.
Por duas vezes, um pequeno grupo tentou xingar Bolsonaro, mas as manifestações foram abafadas pela maioria dos presentes com gritos de apoio a ele.
Camarote com comida e bebida
Duas pessoas que trabalhavam no camarote e usavam crachás com a logomarca da entidade máxima do futebol brasileiro afirmaram ao UOL que os espaços eram reservados apenas para convidados.
Comida e bebida eram liberadas. Entre as bebidas, os parlamentares saborearam água, refrigerantes do patrocinador, suco de morango e de abacaxi com hortelã.
Mesas de frios com queijos, pães de queijo, salgados diversos, doces e palmitos também foram oferecidos. Os garçons circulavam com bandejas e ofereciam aos convidados risoto de linguiça caipira, farfalle ao molho funghi e salsichas.
Os deputados petistas Afonso Florence (BA), José Guimarães (CE) e Carlos Zarattini (SP) se sentaram em uma mesa e aproveitaram do banquete oferecido pela CBF.
O deputado Alexandre Frota (PSL-SP), de calça e tênis preto e um casaco amarelo, passou a maior parte do tempo sentado parte externa do camarote. "Ficou legal o estádio, hein!", disse para duas pessoas que o acompanhavam.
Só um deputado vestiu a camiseta da seleção
O deputado Orlando Silva (PC do B-SP) e o líder do DEM na Câmara, Elmar Nascimento (BA), conversaram durante bastante tempo antes do jogo.
O deputado João Henrique Campos (PSB-PE) aproveitou para registrar o jogo nas redes sociais. Já o colega de Câmara Afonso Motta (PDT-RS) aproveitou o jogo para testar os conhecimentos futebolístico de uma criança que estava sentada ao seu lado.
Quem também circulou pelo local foram a deputada Shéridan (PSDB-RR) e os deputados Vinícius Poit (Novo-SP), André Figueiredo (PDT-CE) e Efraim Filho (DEM-PB).
O deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) foi o único a usar a camiseta amarelinha da seleção brasileira.
O parlamentar Joaquim Passarinho (PSD-PA) estava com uma camiseta do Remo, clube do estado. Calado durante o jogo, só perdeu a paciência com os erros do atacante Everton, que substituiu Neymar, lesionado.
Dentro do camarote, o deputado Júlio Cesar Ribeiro (PRB-DF) estava interessado em saber se o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também estava no local. A pessoa com quem Ribeiro conversa disse não saber. Maia não foi visto pela reportagem no local.
Algoz da CBF, Romário também foi
Crítico ferrenho da CBF, o ex-jogador e senador Romário (Podemos-RJ) também estava no local.
Como revelou o UOL em abril, o "Baixinho" se articulou nos bastidores para impedir a posse do presidente da CBF, Rogério Caboclo.
Após ação sem sucesso do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) e uma representação no Ministério Público Federal (MPF), integrantes da equipe do político procuraram procuradores da esfera fluminense buscando caminhos e possíveis liminares que pudessem impedir a posse.
Procurada pelo UOL para esclarecer se o espaço era reservado para convidados, quantos parlamentares foram convidados, porque foram convidados e quanto foi gasto no evento, a CBF não se manifestou até a publicação da reportagem.