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Com Nunes no Vaticano, São Paulo pode ter bispo da Universal como prefeito

Atílio Francisco (Republicanos) é vereador desde 2001 Imagem: Lucas Bassi/Rede Câmara SP

Do UOL, em São Paulo

02/05/2024 04h00

A cidade de São Paulo pode ter pela primeira vez um bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus como prefeito, de forma temporária.

O que aconteceu

Segundo vice-presidente da Câmara, Atílio Francisco (Republicanos), 72, deve ser o prefeito durante cinco dias. O vereador deve assumir a cadeira do Executivo na cidade em razão de uma viagem do prefeito Ricardo Nunes (MDB) ao exterior.

Nunes vai ao Vaticano neste mês. O prefeito foi convidado pelo papa Francisco para a Conferência da Crise do Clima à Resiliência Climática com outras lideranças do mundo. A previsão é de que o emedebista fique fora do país entre os dias 13 e 17 — ele deve retornar ao Brasil em 18 de maio.

Caberia ao vice assumir a cadeira, mas a cidade não tem essa figura desde 2021. O cargo era de Nunes até a morte de Bruno Covas (PSDB), em maio daquele ano.

Na ausência de prefeito e vice, em tese assumiria o presidente da Câmara. Milton Leite (União Brasil), entretanto, já declarou estar em campanha pela vaga de vice na chapa de Nunes à reeleição. Embora negue, ele também pode concorrer ao seu oitavo mandato como vereador.

Primeiro vice-presidente também não vai assumir. João Jorge (MDB) é pré-candidato à reeleição na Câmara, o que também o impede de ocupar a cadeira de prefeito. A reportagem apurou que ele deve viajar para fora do país no mês que vem.

Para cumprir as regras eleitorais, o cargo do Executivo fica com Atílio, que não deve disputar as eleições neste ano. Segundo uma resolução do TSE de 1996, existe restrição à candidatura de vereadores quando, nos seis meses anteriores à eleição, substituírem o prefeito.

Não há necessidade dos pré-candidatos saírem da cidade, explica especialista. "Basta oficializar que não vai assumir por um questão pessoal qualquer, ou mesmo a eleitoral. Não é uma assunção automática", afirmou Andreive Ribeiro, advogado especialista em direito eleitoral.

"Estou tranquilo", disse prefeito ao UOL sobre tempo que ficará fora. Nunes afirmou que o papa convidou 20 prefeitos que têm ações relevantes de sustentabilidade e meio ambiente.

Manobra para evitar "alto escalão" não é algo inédito. Em 2018, Cármen Lúcia, então presidente do STF, assumiu a Presidência em agenda oficial de Michel Temer (MDB) no Peru. Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (então DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), também viajaram ao exterior porque eram candidatos à reeleição.

Caso assumissem a Presidência, ambos se tornariam inelegíveis pelas regras eleitorais. O mesmo ocorreu em 2022 quando Jair Bolsonaro (PL) se ausentou do Brasil e foi seguido pelo vice Hamilton Mourão (Republicanos) e pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Rodrigo Pacheco (PSD), presidente do Senado, assumiu o cargo, na época.

Quem é Atílio

Atílio está em seu sexto mandato como vereador. Teólogo projetista e ex-presidente da ABC (Associação Beneficente Cristã), ele tem uma trajetória política também ligada à igreja. Atualmente, é também vice-presidente da comissão de finanças na Câmara.

Entre os projetos em que foi autor, está a lei que criou o Dia da Cultura Evangélica, a ser comemorado em 9 de julho. O vereador se diz defensor da tarifa zero para estudantes e participou da comissão do idoso na Câmara, além de outras discussões como do plano diretor e cidade limpa. A reportagem tentou contato com Atílio, mas não teve retorno.

Com a ida temporária de Atílio para prefeitura, o vereador Alessandro Guedes (PT) deve assumir a presidência da Câmara. A Casa não é comandada pelo partido desde 2016.

Milton Leite (União) ao lado do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) Imagem: Lucas Bassi/Rede Câmara SP

Milton Leite nas eleições

"Estou em campanha na rua para vice-prefeito. Já disse que não serei vereador", afirmou o presidente da Câmara durante uma reunião do colégio de líderes. Ele tem dito entre os vereadores e nos bastidores que é pré-candidato a vice de Nunes e vai lutar pela vaga.

O União Brasil ainda não oficializou o apoio à reeleição do prefeito. Um anúncio eliminaria o deputado federal Kim Kataguiri do pleito — ele tem tentado fazer vingar sua pré-candidatura, inclusive internamente no partido.

Já o prefeito disse que Leite "não é o favorito" na disputa para seu candidato a vice. Em entrevista à rádio Bandeirantes, Nunes também elogiou o trabalho do presidente da Câmara e a importância de suas movimentações para a gestão municipal. "Ele conseguiu votar tudo o que eu quis", afirmou.

Milton Leite está na chefia da Câmara desde 2017.

A campanha é pra vice-prefeito, tem que participar um pouco, ir na rua pedir voto pro povo. Se não lograr êxito, não sei. Desistir, jamais. Há a possibilidade de o prefeito se licenciar no mês de maio. Diante dessa possibilidade, eu não assumirei porque a disputa a vice há impedimento.
Milton Leite durante reunião do colégio de líderes na Câmara

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