Collor diz que Bolsonaro faz "toma lá dá cá" e iniciou crise ao tomar posse
Do UOL, em São Paulo
28/04/2020 11h14Atualizada em 28/04/2020 13h29
O ex-presidente da República e atual senador Fernando Collor de Mello (PROS-AL) disse hoje, em entrevista ao jornalista e colunista do UOL Josias de Souza, que o Brasil vive uma crise política desde a posse de Jair Bolsonaro (sem partido).
"Nós vivemos hoje no meu entender uma crise institucional. Ela está instalada e tem gravidade porque tem esse episódio da pandemia, que está gerando exasperação na sociedade pelos efeitos da ordem econômica, da fome. A crise política começou quando o presidente tomou posse. O presidente não entendeu ainda que o presidente é líder político da nação, e como líder político ele tem que fazer política", avaliou.
O senador afirmou, ainda, que a política deve ser feita por "canais institucionais": os partidos políticos e os políticos eleitos.
Collor disse ainda identificar um momento de "toma lá, dá cá" no governo, referindo-se a negociações feitas nos últimos dias entre Bolsonaro e o chamado centrão, grupo que reúne parlamentares de partidos como o PP, PL, Solidariedade e Republicanos.
Desde o início do mês, o presidente tem se aproximado de partidos do centro com ofertas de cargos na administração pública como parte de uma tentativa para criar uma base no parlamento. Collor classificou a prática como "deletéria" (isto é, que tem efeito danoso ou nocivo) e afirmou que entendimentos como esses "devem ser feitos à luz do dia".
Governo sem maioria não termina mandato, diz Collor
Collor, que foi alvo de um processo de impeachment em 1992, disse ver semelhanças entre a sua situação à época e o momento em que se encontra o presidente Jair Bolsonaro.
Sofri o que sofri, o meu impedimento, e tomei uma lição. Governo que não tem maioria no Congresso Nacional, no sistema presidencialista, não consegue terminar o seu mandato. Esse filme que eu já vi. Essa falta de entendimento com o Congresso, já vi no que isso resultou. E não gostei do que vi, não tenho nenhum gosto que aconteça novamente.
Mesmo assim, na avaliação do senador, Bolsonaro "tem que ajudar" a melhorar a situação. "O presidente cria conflitos do nada", disse.
Collor foi alvo de processo de impeachment, mas acabou renunciando ao cargo antes de aprovado o pedido. Em 2016, Dilma Rousseff (PT) também sofreu impeachment e deixou o cargo.