Wassef diz que áudios de mulher de Queiroz foram tirados de contexto
O advogado Frederick Wassef afirmou hoje que os áudios da mulher de Fabrício de Queiroz, divulgados por reportagem da revista "Veja", foram retirados de contextos e que ele não mantinha uma relação próxima com o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ)
Wassef negou ainda ser a pessoa apelidada de "Anjo", citada nas mensagens trocadas entre Márcia Aguiar, a mulher de Queiroz, e a advogada Ana Flávia Rigamonti, contratada pelo advogado para fazer companhia ao ex-assessor.
"O tal áudio da mulher de Queiroz não desmente nada do que eu disse. Basta ouvir. E o mesmo sobre outros áudios. Não se pode tirar mensagens de voz de fora do contexto e criar versões, ainda mais quando se refere ao "Anjo". Não existe nenhum fato novo em nada até aqui e meu nome não é Anjo", lê-se no comunicado divulgado por Wassef.
A mulher de Fabrício Queiroz, Márcia de Aguiar, afirmou em áudios divulgados hoje pela revista Veja que a "família está desmoronada" e que não aguentava mais a situação em que se encontra. Os registros seriam de novembro de 2019.
As mensagens teriam sido colhidas diretamente do celular de Márcia. Segundo a revista, ela conversava com a advogada Ana Flávia Rigamonti, contratada pelo advogado Frederick Wassef, dono do sítio onde o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) foi preso em Atibaia (SP).
Na conversa, Márcia ainda declara que voltou a se sentir depressiva e que é uma mulher forte, mas que não está sabendo como lidar com a questão.
"A nossa família está desmoronada, Ana, e eu estou assim emocionalmente abalada. A minha depressão sei que voltou, porque eu vivo chorando pelos cantos. Eu vivo chorando, entendeu? Na minha vida eu sempre fui uma mulher muito forte, mas eu não estou aguentando essa onda sozinha", diz ela em uma das gravações, de novembro.
"Só que eu não estou aguentando, você está entendendo? Não estou aguentando. Está muito difícil, amiga, está muito difícil, está muito difícil. Só Deus sabe. Só Deus para me ajudar a seguir. Porque não tenho vontade de fazer nada, nada, nada, de fazer comida, de fazer nada. Não tenho vontade de sair, vontade de me arrumar. Não tenho. Cheguei a um estágio emocional, amiga, que está...", declara Márcia, em outra gravação.
Além de falar que está emocionalmente abalada, a mulher do Queiroz, segundo a Veja, ainda insinua que o marido era coagido a não dar esclarecimentos para a imprensa. Ela também disse à advogada que se preocupava com a saúde emocional do companheiro.
"A gente não é foragido. Isso está acabando comigo, amiga, acabando. De boa mesmo. Está acabando. Está me destruindo por dentro. Eu estou aqui desabafando, porque não consigo passar isso para ele. Porque se eu passar o estado emocional que estou, como estou falando com você, para o Queiroz, ele vai ficar desesperado. Porque a força dele é em mim aqui?", afirma Márcia, em outra gravação divulgada.
Como resposta, Ana Flávia disse para Márcia que Queiroz reclamou da situação para o "Anjo", que os investigadores acreditam ser Wassef. O advogado já negou o apelido.
"Eu sei que ele não está bem. Igual você falou: ele tenta mostrar que ele está bem e tudo. Mas a gente sabe que ele está preocupado. E não é para menos, né? Ele se distrai aqui, cozinhando, arrumando a casa, essas coisas. (?) Ele mesmo falou para o Anjo: 'Olha, eu não estou aguentando mais. Quero ir para minha casa'", respondeu Ana Flávia.
Em outro áudio divulgado pela revista, a advogada afirmou:
"Ele [Queiroz] tenta não transparecer, mas está estressado, sim. Ele falou para o Anjo que não aguenta mais isso, que está cansado e que ele quer ir embora. Eu também falei para o Anjo: 'Olha, essa história de alugar casa aí, eu não vou atrás. Não vou. A não ser que você sente e dê o dinheiro."
A Veja aponta que os investigadores acreditam que Márcia possa ser o elo mais frágil da cadeia de blindagem e que, sob pressão, poderia fazer denúncias sobre o esquema da rachadinha e se a família Bolsonaro se beneficiou com isso.
O caso e a prisão domiciliar
Queiroz foi inicialmente detido em 18 de junho na casa de Frederick Wassef, então advogado do senador Flávio Bolsonaro, em Atibaia (SP).
O ex-assessor é suspeito de operar um esquema de "rachadinhas" — apropriação de salários de funcionários — no antigo gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). O nome de Queiroz veio à tona em dezembro de 2018, quando o Estadão revelou que ele fez movimentações financeiras "atípicas".
Menos de um mês após Queiroz ser preso, o presidente do STJ, João Otávio de Noronha, aceitou, no dia 9 de julho, um pedido da defesa do ex-assessor.
No habeas corpus, os advogados de Queiroz pediram a conversão da prisão preventiva em domiciliar. Como argumento, citaram o estado de saúde do ex-assessor e o contexto de pandemia, além de criticarem fundamentos da medida autorizada pela Justiça.
Na ocasião, Noronha estendeu a prisão domiciliar para Márcia, que estava foragida. "Por se presumir que sua presença ao lado dele (Queiroz) seja recomendável para lhe dispensar as atenções necessárias", argumentou o presidente do STJ.
O presidente do STJ decidiu sobre o caso durante o plantão do Judiciário, sendo responsável pela análise de casos considerados urgentes.
A decisão de Noronha foi derrubada na última quinta-feira pelo relator do habeas corpus, Felix Fischer, que retornou às atividades do tribunal nesta semana.
Ao derrubar a prisão domiciliar do casal, Fischer apontou que o casal já supostamente articulava e trabalhava "arduamente" para impedir a produção de provas ou até mesmo a destruição e adulteração delas nas investigações de um esquema de rachadinha. Na avaliação de Fischer, as manobras de Queiroz e Márcia para impedir a localização pela polícia "saltam aos olhos".
No dia 14 de agosto, o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidiu devolver o ex-assessor e sua mulher para a prisão domiciliar. Agora, com a decisão, a prisão domiciliar do casal foi restaurada.
Leia na íntegra a nota divulgada por Wassef:
"Eu, Frederick Wassef, não mantinha contato frequente com Fabrício Queiroz, conforme publicado nesta matéria. O tal áudio da mulher de Queiroz não desmente nada do que eu disse. Basta ouvir. E o mesmo sobre outros áudios. Não se pode tirar mensagens de voz de fora do contexto e criar versões, ainda mais quando se refere ao "Anjo". Não existe nenhum fato novo em nada até aqui e meu nome não é Anjo. Eu não contratei Ana Flávia Rigamonti para ser companhia de Queiroz e ninguém nunca foi pressionado a nada. Não disse que ter contato com Queiroz fosse representar obstrução de Justiça. Procurei manter distanciamento possível por outros motivos. Nunca escondi Queiroz e ele nunca esteve escondido, porque nunca foi procurado ou foragido. As autoridades públicas do Rio não estavam atrás de Queiroz. Se tivessem apenas intimado, ele se apresentaria no dia seguinte. Fabrício Queiroz é vítima de uma prisão ilegal e arbitrária, baseada em mentiras que não existem no processo. Basta ler os fundamentos da prisão. Este é um processo político e não jurídico.
Não sou afeito a teorias da conspiração. Tudo o que disse que iria acontecer neste caso aconteceu. Disse que iriam armar uma fraude para envolver o Presidente na morte de Marielle Franco e aconteceu. Disse que iriam assassinar o Adriano da Nóbrega e aconteceu. Disse que iriam tentar envolver o Presidente com temas de milícia e supostos grampos de milicianos e aconteceu. Tudo eu avisei antes de acontecer e, depois, aconteceu. Então, ter experiência profissional e informação não é o mesmo que ser afeito a teorias da conspiração."
Frederick Wassef emitiu um comunicado na tarde deste domingo, 23, em que rebate as informações publicadas por VEJA a respeito dos áudios da mulher de Fabrício Queiroz que contradizem declarações dadas anteriormente pelo advogado da família Bolsonaro. Proprietário da casa onde foi preso o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), Wassef havia dito que forneceu guarida para evitar que ele fosse morto e assegurou que não mantinha contato frequente com Queiroz, acusado de ser o operador financeiro de um esquema de "rachadinhas" do filho do presidente Jair Bolsonaro. As mensagens de áudio, no entanto, desmontam essa versão do advogado.
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