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Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, é preso

Do UOL, em São Paulo e no Rio*

18/06/2020 06h45Atualizada em 18/06/2020 14h19

Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, foi preso na manhã de hoje em Atibaia, cidade do interior paulista, numa ação conjunta do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) e do MP-SP (Ministério Público de São Paulo). Ele foi transferido para o Rio, onde chegou pouco depois das 12h, fez exame de corpo de delito no IML (instituto Médico Legal) e já se encontra detido no presídio de Benfica, na zona norte.

Queiroz foi localizado e preso em um imóvel que pertence a Frederick Wassef, advogado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e de seu filho Flávio. Ontem, Wassef esteve na posse novo ministro das Comunicações, Fabio Faria (PSD), que contou com a presença do presidente.

A prisão preventiva —com prazo indeterminado— foi decretada pelo juiz Flávio Itabaiana Nicolau, da 27ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio. A operação, batizada de Anjo, cumpre outras medidas autorizadas pela Justiça relacionadas ao inquérito que investiga suposto esquema de rachadinha, em que servidores da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) devolveriam parte de seus salários ao então deputado Flávio Bolsonaro, que exerceu mandato de 2003 a 2019.

Policiais também realizaram busca e apreensão na casa de Atibaia e em um imóvel em Bento Ribeiro, na zona norte do Rio, pertencente a uma funcionária do gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).

18.jun.2020 - Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, desembarca de helicóptero policial no Rio, acompanhado de policiais, após ser preso em Atibaia (SP) - Reprodução/Globo News - Reprodução/Globo News
18.jun.2020 - Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, desembarca de helicóptero policial no Rio, acompanhado de policiais, após ser preso em Atibaia (SP)
Imagem: Reprodução/Globo News

Polícia apreendeu celulares de Queiroz em Atibaia

O delegado da Polícia Civil de São Paulo Osvaldo Nico Gonçalves, que participou da prisão, disse que o caseiro do imóvel de Atibaia informou que Queiroz estava na casa do advogado há cerca de um ano. A informação foi rebatida pelo próprio caseiro que, em entrevista à CNN Brasil, negou que Queiroz estivesse morando no mesmo terreno há muito tempo.

"Tem pouco dias que está aí, quatro dias que veio ver um negócio de saúde. O rapaz aqui estava em tratamento de saúde, estava ficando aqui para se tratar de saúde, estava com câncer, essas coisas, câncer de próstata", afirmou o caseiro.

De acordo com o delegado, Queiroz estava sozinho na casa quando os policiais chegaram. "A reação dele [Queiroz] foi tranquila, não esboçou reação. Só falou que estava um pouco doente", declarou o delegado. Queiroz trata de um câncer.

Gonçalves afirmou ainda que foram apreendidos com Queiroz dois celulares, documentos e uma pequena quantia em dinheiro —o valor não foi revelado.

Queiroz foi levado para o Palácio da Polícia, no centro de São Paulo, para procedimentos legais e, em seguida, transferido para o Rio.

No Twitter, Flávio disse que encara a prisão com "tranquilidade" e que "a verdade prevalecerá" "Mais uma peça foi movimentada no tabuleiro para atacar Bolsonaro. Em 16 anos como deputado no Rio nunca houve uma vírgula contra mim. Bastou o presidente Bolsonaro se eleger para mudar tudo! O jogo é bruto!", escreveu.

Jair Bolsonaro ainda não se pronunciou. Hoje de manhã, ele ignorou apoiadores que o aguardavam e passou direto pela portaria do Palácio da Alvorada. No local, o mandatário costuma parar todos os dias a fim de conversar com seus seguidores.

A reportagem não conseguiu contato com as defesas de Queiroz e Wassef.

Em nota, o MP-RJ informou que contra outros suspeitos obteve na Justiça decretação de medidas cautelares como busca e apreensão, afastamento da função pública, comparecimento mensal em juízo e proibição de contato com testemunhas. São eles:

  • Matheus Azeredo Coutinho, servidor da Alerj;
  • Luiza Paes Souza, ex-funcionária da Alerj;
  • Alessandra Esteve Marins, funcionária do gabinete do senador Flávio Bolsonaro e ex-funcionária da Alerj
  • Luis Gustavo Botto Maia, advogado

O UOL procurou Maia por telefone e e-mail. Ele ainda não respondeu.

Procurado, o gabinete de Flávio Bolsonaro ainda não se pronunciou sobre a assessora Alessandra Marins.

O UOL não conseguiu contato com Luiza Souza.

Procurada, a Alerj ainda não forneceu informações sobre as atividades de Coutinho na casa.

Quem é Fabrício Queiroz

Queiroz passou a ser investigado em 2018 depois que um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) indicou movimentação financeira atípica dele, que é amigo do presidente desde 1984.

Policial reformado ele, que havia atuado como motorista e assessor do então deputado estadual, movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. O último salário de Queiroz na Alerj fora de R$ 8.517. Ele também recebeu transferências em sua conta de sete servidores que passaram pelo gabinete de Flávio.

As movimentações atípicas, que vieram à tona num braço da Operação Lava Jato, levaram à abertura de uma investigação pelo MP do Rio.

Uma das transações envolve um cheque de R$ 24 mil depositado na conta da hoje primeira-dama Michelle Bolsonaro. O presidente se limitou a dizer que o dinheiro era para ele, e não para a primeira-dama, e que se tratava da devolução de um empréstimo de R$ 40 mil que fizera a Queiroz. Alegou não ter documentos para provar o suposto favor.

Em entrevista ao SBT em 2019, Queiroz negou ser um "laranja" de Flávio. Segundo ele, parte da movimentação atípica de dinheiro vinha de negócios como a compra e venda de automóveis. "Sou um cara de negócios, eu faço dinheiro... Compro, revendo, compro, revendo, compro carro, revendo carro. Sempre fui assim", afirmou na ocasião.

Tentativas de barrar a investigação

Flávio, que sempre negou irregularidades, tentou barrar a investigação, mas foi derrotado, e as apurações foram retomadas por decisão do ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Em abril, em outra derrotada para o senador, o ministro Felix Fischer, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), negou um pedido para que as investigações fossem suspensas.

Para os investigadores, o senador é chefe de uma organização criminosa que atuou em seu gabinete na Alerj entre 2007 e 2018, e parte dos recursos movimentados no esquema foi lavada em uma franquia de uma loja de chocolate da qual ele é sócio.

Promotores investigam ainda se a "rachadinha" teria sido usada para financiar uma milícia que era comandada pelo ex-policial Adriano Nóbrega, morto em fevereiro, e apontado pelo MP como chefe da milícia que controla a comunidade do Rio das Pedras, em Jacarepaguá.

Raimunda Veras Magalhães e Danielle, respectivamente mãe e ex-mulher de Adriano, eram funcionárias do gabinete. Os salários das duas na Alerj somaram, ao todo, R$ 1.029.042,48, dos quais pelo menos R$ 203.002,57 foram repassados direta ou indiretamente para a conta bancária de Queiroz, segundo o MP.

Além desses valores, R$ 202.184,64 foram sacados em espécie por elas. Segundo o MP, isso viabilizaria a "simples entrega em mãos" de dinheiro para o ex-assessor.

Em conversas de WhatsApp acessadas pelos investigadores, Danielle disse que o ex-marido ficava com parte do salário que ela recebia do gabinete.

Flávio é investigado sob suspeita de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Não há informações detalhadas sobre os próximos passos nem previsão de conclusão porque os processos correm sob sigilo.

*Com BBC