Nise diz ter se reunido com Wizard em reunião de 'conselho independente'
Rayanne Albuquerque e Hanrrikson de Andrade*
Do UOL, em São Paulo e em Brasília
01/06/2021 12h51Atualizada em 01/06/2021 14h14
A imunologista Nise Yamaguchi disse hoje na CPI da Covid ter se encontrado com o empresário Carlos Wizard em reuniões de um "conselho científico independente". A médica, que defende o uso de remédios sem eficácia comprovada para o "tratamento precoce" de pacientes diagnosticados com covid-19, também negou diante do colegiado que sugeriu a alteração da bula da cloroquina, negando a versão do presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
É um conselho científico independente, a gente se reunia em discussões sobre... Não, ele é uma pessoa que trabalhou com o doutor [Eduardo] Pazuello, em Roraima, e faziam ações sociais
Nise Yamaguchi
Yamaguchi disse ainda que ter se reunido com Arthur Weintraub, irmão do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub. Segundo afirmou a médica, Arthur e ela se reuniram em uma reunião da Presidência da República e participou de outras cerimônias que discutiram a prescrição de cloroquina por médicos.
Tanto Wizard quanto Arthur Weintraub irão prestar depoimentos como testemunha na Comissão Parlamentar de Inquérito, no Senado.
Motivos da convocação de Yamaguchi
Yamaguchi foi convocada a depor na Comissão Parlamentar de Inquérito após seu nome ter sido citado pelo presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antônio Barra Torres durante seu depoimento ao colegiado.
Segundo a versão apresentada por Barra Torres, a médica integrou uma reunião que discutiu a alteração da bula da cloroquina para que o medicamento fosse indicado aos pacientes diagnosticados com covid-19. O medicamento, amplamente recomendado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), não tem eficácia comprovada para combater ou prevenir os sintomas do coronavírus.
A mesma reunião foi citada pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que confirmou ter participado do encontro. Mandetta chegou a citar que um papel não timbrado propunha a mudança da bula da cloroquina e que havia um gabinete paralelo de aconselhamento ao presidente Bolsonaro sobre como as medidas de enfrentamento à pandemia deveriam ser conduzidas.
O colegiado da CPI tenta compreender se a tese da imunidade de rebanho — que prevê a contaminação em massa em busca de uma suposta imunidade coletiva — teria sido a estratégia adotada pela gestão federal ao invés de apostar na compra de vacinas.
* Com a colaboração de Ana Carla Bermúdez