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Vereadora cita desrespeito após ser eleita para 'embelezar' mesa da Câmara

A vereadora Iasmin Roloff (PT) diz que foi eleita contra a sua própria vontade para segunda vice-presidente da mesa diretora da Câmara Municipal de Canguçu (RS) - Vivian Domingues Mattos / Câmara de Vereadores de Canguçu
A vereadora Iasmin Roloff (PT) diz que foi eleita contra a sua própria vontade para segunda vice-presidente da mesa diretora da Câmara Municipal de Canguçu (RS) Imagem: Vivian Domingues Mattos / Câmara de Vereadores de Canguçu

Giorgio Guedin

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

28/12/2021 21h22Atualizada em 28/12/2021 21h35

A vereadora de Canguçu (RS) Iasmin Roloff (PT) diz que foi eleita contra a sua própria vontade para ocupar o posto de segunda vice-presidente da mesa diretora da Câmara Municipal no próximo ano legislativo. Ao menos três legisladores usaram como justificativa "embelezar a mesa", causando reações da única mulher parlamentar e de outros colegas da cidade gaúcha.

Naquele momento me senti desrespeitada enquanto mulher, pois não foi um desrespeito apenas comigo, foi com o público feminino. No momento que se vota numa mulher apenas pela sua aparência, torna invisível toda sua trajetória e capacidade de construção e inteligência.
Iasmin Roloff, vereadora do PT, em entrevista ao UOL

O fato aconteceu no dia 22 de dezembro, última sessão do ano no legislativo local. Depois de transcorridas quase quatro horas de sessão, os parlamentares iniciaram as votações para a mesa diretora. O município tem 15 vereadores —oito da base governista, seis da oposição e a vereadora Roloff, que se declara independente. Ela colocou o seu nome na disputa e foi escolhida como candidata pela oposição.

O vereador Francisco Vilela, líder do PP, declarou o voto de seu partido em Roloff: "Nós votamos em dama, nós votamos em dama. A Iasmin", declarou.

Fora do enquadramento do vídeo da sessão transmitida pela internet, é possível ouvir outra voz afirmando "para embelezar essa mesa".

A votação prossegue com os vereadores anunciando os nomes, até chegar a vez do legislador da oposição Arion Braga (PP). "[Voto na] vereadora Iasmin para embelezar essa mesa aí. Ter um 'tchan' feminino, senhor presidente. Tem todo nosso apoio", afirmou o parlamentar.

Na primeira votação, para presidente da mesa diretora, a petista perdeu a disputa para Marcelo Maron (PTB), por 8 votos a 7.

A discussão recomeça com a votação para a segunda vice-presidência da Casa. Durante os votos nominais, Oraci Teixeira (PSB) afirmou: "Como diz o vereador Arion Braga, para embelezar a mesa, [voto na] vereadora Iasmin Roloff Rutz".

Na sequência, Silvio Neutzling (MDB) justificou o voto com as mesmas palavras: "Da mesma forma, para embelezar a mesa, vereadora Iasmin".

Roloff protesta na sessão

Após o resultado que culminou na vitória da vereadora —ela não tinha colocado o seu nome na disputa pelo posto de segunda vice-presidente—, a mesma pediu o uso da palavra.

"Vereadores, por favor, quando forem votar em mim, que votem pela minha capacidade intelectual, e não pela minha beleza. Obrigada", reclamou.

Após o protesto da petista, teve início uma discussão, com bate-boca entre alguns parlamentares.

Questionada pelo UOL sobre se aceitará o cargo de segunda vice-presidente ou se entrará com alguma ação contra os colegas da Câmara, ela respondeu que analisará "qual a melhor forma de proceder".

Parlamentar mais jovem de Canguçu

Eleita vereadora em 2020, aos 22 anos, com 928 votos, Roloff é a parlamentar mais jovem na cidade de Canguçu, com população estimada de 56 mil habitantes, sendo 44 mil aptos a votar.

Agricultora, venceu a primeira disputa ao Legislativo municipal com uma campanha baseada na agricultura familiar, além da representatividade feminina e dos jovens.

"No início do ano ocorreram alguns episódios de se referirem a mim no diminutivo. Naquele momento suportei essas situações, me fortaleci e busquei colocar no plenário, para todos os colegas, que me sentia desrespeitada enquanto mulher. A partir disso alguns mudaram suas atitudes", recordou.

Ela considera um desafio ser vereadora em uma cidade de menor porte. "É um grande desafio, pois nem sempre sou compreendida, tenho ideias diferentes, novas formas de pensar a política, e isso acaba por incomodar os acomodados", reiterou.

Outro lado

Procurado pelo UOL, o parlamentar Francisco Vilela (PP) afirmou que não vai se manifestar por enquanto. O vereador Arion Braga (PP) pediu para ligar "meia hora depois" e não atendeu mais a reportagem.

Sobre a declaração, o vereador Oraci Teixeira (PSB) disse que não tem nada para relatar, mas justificou a escolha. "Votei nela por saber que ela tem capacidade e competência para o cargo que ela ia assumir", afirmou ao UOL. "Eu não tenho nada a declarar sobre essa situação ali. Simplesmente a vereadora está querendo se promover agora. Isso já foi longe demais. É um processo democrático para a presidência da casa."

O vereador Silvio Neutzling (MDB) não atendeu às ligações.