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Entenda o que pesa a favor e contra a federação PT-PSB

Presidentes do PT, Gleisi Hoffmann, e PSB, Carlos Siqueira, conversaram com jornalistas após reunião, em Brasília, com PCdoB e PV sobre federação partidária Imagem: 26.jan.2022 - Divulgação/PSB

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

30/01/2022 04h00

Mais do que uma corrida contra o tempo para sua formação, a possível federação entre PT, PSB, PCdoB e PV pesa os prós e contras que terão de administrar caso ela seja formalizada.

De um lado, descontentamentos regionais e possível privilégio a lideranças já estabelecidas. Do outro, a perspectiva de formar uma bancada mais forte e a chance de melhorar o desempenho em regiões em que os partidos são mais fracos.

Hoje, a concretização da federação é vista como difícil pelos partidos em razão do prazo. Eles precisam protocolar o pedido de formação até 1º de março. Por isso, o grupo já pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) que esse prazo seja estendido até 5 de agosto ou, ao menos, 31 de maio. O Supremo analisará o pedido na quarta-feira (2).

Esse período maior ajudaria o quarteto a resolver questões que travam a federação. Caso ela seja formada, PT, PSB, PCdoB e PV deverão atuar como um só partido por, no mínimo, quatro anos. Questões envolvendo candidaturas para a eleição deste ano e o próximo ciclo de eleições municipais, em 2024, são responsáveis por pontos mais sensíveis de discussão.

"Pelo menos no caso do PSB, ainda há um debate interno de prós e contras", disse o presidente nacional do partido, Carlos Siqueira, a jornalistas na última quarta-feira (26) em Brasília. "Mas as coisas estão caminhando na possibilidade de ela vir a existir."

O UOL ouviu lideranças nacionais e regionais dos partidos, que elencaram os pontos positivos e negativos de se formar uma federação, que teria uma chapa formada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido) para a disputa presidencial —a expectativa é que Alckmin se filie ao PSB ou ao PV.

Pró-federação

  • Maior entrada

No PT, a análise é de que o partido tem bancada grande nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Sul. Na sequência, há estados com dois, um ou nenhum deputado.

"Nesses quatro estados maiores, podemos ajudar o PSB. Nos outros, podemos ser ajudados pelo PSB. Pernambuco é um exemplo onde temos dois deputados. Se tivermos uma federação com eles, podemos aumentar", diz o deputado federal Carlos Zarattini (PT).

  • Organização

Secretário-geral do PT, o deputado federal Paulo Teixeira diz que a federação pode ajudar a organizar os partidos. Na análise dele, com a federação, as agremiações "vão ter que votar juntas, ir para a mesma eleição, discutir programa". "Ela organiza programaticamente os partidos. Dá mais densidade e retira essa pulverização do sistema político brasileiro."

Para o presidente do PT do Acre, Cesário Campelo Braga, a união poderá "dirimir divergências partidárias". "A federação vai fazer com que a gente esteja mais próximo e possa fazer esse debate."

Se formalizada, a direção da federação será formada com base no tamanho dos partidos na Câmara, com rodízio na presidência, disse a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, ao lado de Siqueira. "Não quero que nenhum partido seja diminuído, mas também não dá para permitir que o PT seja diminuído para fazer a composição."

Hoje, a discussão levaria a uma divisão nestes termos: 54% das cadeiras de direção para o PT, 30% para o PSB, 8% para o PV, e 8% para o PCdoB. Mas os resultados das próximas eleições poderiam gerar uma reconfiguração. Para a tomada de decisões, aliás, seria necessário o apoio de dois terços do grupo.

  • Partidos que pensam de maneira semelhante

"Os partidos que estão se aglutinando têm uma aproximação programática", diz Décio Lima, presidente do PT em Santa Catarina, e pré-candidato ao governo. "Podemos ter tido divergências, mas temos um conteúdo muito próximo entre nós." A união, na visão dos líderes dos partidos, agora se faz em "defesa da democracia", em crítica ao governo de Jair Bolsonaro (PL).

Teixeira complementa, dizendo que, "hoje, você faz alianças com A, B, C". "Na federação, você faz um núcleo de aliança importante."

Contra federação

  • PT e PSB ganham juntos

Membros de PT e PSB dizem que o "ganha-ganha" só acontece caso os dois estejam juntos na federação. Se houver união apenas entre um deles e os partidos pequenos, as legendas maiores não teriam tanto a ganhar, beneficiando apenas PV e PCdoB, que, sozinhos, não teriam força para ajudar PT ou PSB em estados em que estes não têm predominância.

  • Eleição majoritária

O estado de São Paulo é o principal exemplo do problema, em que PT e PSB, caso a federação aconteça, devem disputar a cabeça de chapa para o governo paulista, problema já previsto para a eleição para a Prefeitura de São Paulo em 2024. Em Pernambuco, já há sinais de problemas para a eleição ao Senado, em que PT e PCdoB devem pleitear a vaga.

Entre os petistas, há a ideia de que questões como essas vão se resolver a partir do diálogo, lembrando que disputas por ser cabeça de chapa são comuns inclusive dentro do PT. Nas eleições para a Prefeitura de São Paulo, é comum ter vários postulantes dentro do partido a ser o candidato petista.

"Para construir unidade dentro do meu partido, que é o PT, também é um processo. Vocês sabem que também tem divergência. Mas isso é da política", diz Hoffmann.

Alexandre Padilha, deputado federal do PT, diz que "dor de cabeça" o partido teve quando teve de lidar com um Congresso fragmentado, com "partido que se alia na eleição e, durante o dia, não tem qualquer compromisso com o governo." "O PT só tem a ganhar com uma regra de compromisso mais estável dos partidos."

  • Filiados contrários

Diretórios estaduais de PT e PSB têm se mostrado contra a federação. É o caso do diretório petista em São Paulo e o do PSB no Espírito Santo, por exemplo.

"Federação não é nada mais que uma coligação disfarçada. Com graves problemas porque são coisas que vão ser feitas agora que vão durar por quatro anos", diz Alberto Gavini, presidente do PSB capixaba, que complementa falando que a federação "desrespeita particularidades locais". Ele já contabiliza que o partido irá perder aliados no Espírito Santo, comandado hoje pelo PSB, caso a federação seja formalizada.

Segundo Teixeira, as lideranças da federação estão dialogando com os estados. "Estamos fazendo um equilíbrio. Mas o tema nacional é muito relevante."

  • Alianças verticais, não horizontais

O problema com aliados de fora da federação mencionado por Gavini também é citado por Lima, pré-candidato ao governo catarinense. "A federação retira a horizontalidade. Ela é um negócio impositivo."

  • Menos diversidade

Na federação, haverá uma chapa única de deputados. O receio de alas dos partidos é de que, nessa configuração, apenas quem já tem cargo ou já é uma liderança consolidada terá chances de vitória nas eleições legislativas, diminuindo a possibilidade de renovação para diversidade nas Casas.

"Na federação, visualizo que a gente pode perder um pouco dessa representação", diz o presidente do PT do Acre. "Isso, para mim, em um problema seríssimo. Porque os partidos acabam priorizando os homens brancos mais velhos. Essa representação pode acabar sendo penalizada."

Para Lima, a federação "agride a pluralidade", que não seria tratada como prioridade nesse cenário. "Ela concentra. E, naturalmente, traz prejuízos para muitas pautas."

  • Mais uma estrutura

Além dos partidos, também será preciso criar estruturas burocráticas para a federação, como um presidente dela, estabelecer uma sede. "Parece ser fácil [fazer federação], mas, na prática, é difícil. Traz mais problemas do que solução", diz Gavini.

Para o presidente do PSB capixaba, o ideal seria fazer a união com partidos como "PT, PDT no campo da relação pessoal, no campo político". A federação, na opinião dele, pode trazer prejuízos aos candidatos do partido. "As nossas chapas para deputados já estão montadas", diz. "Vamos esperar para ver no que vai dar e estabelecer nossa estratégia quando houver definição."

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