Embaixador do meio ambiente e 'porto seguro': como PV tenta atrair Alckmin
De portas abertas para o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (sem partido, ex-PSDB), o PV tem como argumento nas conversas com o político a proposta de torná-lo uma espécie de "embaixador do meio ambiente", dando projeção internacional a ele.
Após deixar o PSDB, partido que ajudou a fundar e ao qual esteve filiado por 33 anos, Alckmin analisa convites de filiação do PSB, do PV e do Solidariedade, sendo que é mais provável a escolha por um dos dois primeiros. O ex-tucano é sondado para ser vice na chapa que será encabeçada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa pelo Planalto, atual líder das pesquisas.
"Entendo que ele, em virando embaixador do meio ambiente no Brasil, vai agregar o apoio internacional. Seria mais um ponto positivo a essa dobradinha Lula-Alckmin", diz Marcos Belizário, presidente estadual do PV em São Paulo, que tem conversando com o ex-governador sobre o tema. "Nós faríamos aqui no Brasil uma reunião trazendo todas as lideranças do Partido Verde internacional."
O que pode vir a pesar contra a construção da imagem de Alckmin como "embaixador" é sua ligação com o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que comandou a pasta da mesma área no governo do ex-tucano em São Paulo, além de ter sido seu secretário particular.
Salles, que já gerava incômodos por sua postura na pasta, também foi investigado enquanto estava na secretaria em São Paulo.
Para Belizário, Salles não deve ser um problema para o ex-tucano. "Quando o Geraldo tinha o Salles como secretário, a política pública ambiental era ditada pelo governador, com respeito. O contrário do [presidente Jair] Bolsonaro, que é o desmonte." Na saída de Salles do governo paulista, Alckmin elogiou o trabalho do seu então secretário.
Incentivo de aliados
Belizário relata que tem conversado com o governador constantemente. "Não passa 15 dias que nós não tomamos um café ou almoçamos juntos", diz. O mais recente foi na metade de janeiro. E, nesses diálogos, Alckmin estaria se mostrando empolgado com a possibilidade de se filiar ao PV.
Segundo o presidente do PV paulista, o ex-governador chegou a exibir em seu celular mensagens que recebeu de apoiadores e lideranças políticas incentivando sua ida ao PV.
"Ouço da boca dele. Primeiro, que é o partido que ele gostaria de estar. Segundo, ele abre o celular e mostra as mensagens de pessoas politicamente ligadas a ele, do PSDB, evidentemente, em grande parte, do interior, sugerindo que ele venha para o PV", diz."E não é uma campanha feita por nós."
Belizário não esconde que está "muito otimista com a possibilidade" de ter Alckmin no PV.
Ele seria nossa estrela e tem o apoio da grande maioria do partido, que entende que o caminho hoje é ir com Lula
Marcos Belizário, presidente do PV-SP
Belizário relata conversas com lideranças do PT em São Paulo sobre os planos do PV envolvendo Alckmin e diz que a reação é positiva.
Procuradas, lideranças do PT preferem manter cautela e dizer quem nem Lula é pré-candidato a presidente ainda.
Sem condicionantes
Na análise de Belizário, um ponto positivo para o PV na briga com o PSB para ser a nova casa de Alckmin está no fato de o partido não ter pretensões para as disputas majoritárias nesta eleição, o que tem sido o ponto de desgaste entre o PT e o "concorrente".
"Não temos condicionantes. O que é positivo para o PT e para o próprio Geraldo."
Junto com o PCdoB, os três partidos dialogam para formar uma federação. Se ela for concretizada, o quarteto terá atuar como um único partido por, no mínimo, quatro anos. Os desejos de PT e PSB por candidaturas em alguns estados têm atrapalhado uma definição.
A expectativa é que Alckmin tome uma decisão no final de fevereiro. Ele tem até 2 de abril para estar filiado a um partido e se colocar em condições de participar da eleição de outubro.
"A gente sabe da dificuldade de uma decisão que é vida política dele. A gente sabe que, no futuro, ele pode virar um presidente ou um governador. Então, é uma decisão muito difícil", diz Belizário.
"Porto seguro"
Na opinião do dirigente, outra situação que contaria a favor do PV é a possibilidade de o partido ser um "porto seguro" para Alckmin. Isso aconteceria, caso, no final, as conversas para que ele seja vice de Lula não se concretizem —cenário, por sinal, visto hoje, como improvável.
Mas, para isso, alguns fatores são necessários, como o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ou o STF (Supremo Tribunal Federal) estenderem o prazo para que se protocole o pedido de criação de federação, hoje definido para 1º de março. A articulação para que a mudança aconteça já é feita por PT, PSB, PV e PCdoB, que pensam em pedir para que a extensão seja até 31 de maio —a solicitação ainda não foi formalizada.
Com a federação, os partidos integrantes só podem indicar um candidato a presidente ou ao governo estadual. Se a federação não for confirmada, Alckmin, estando filiado ao PV, poderia pensar em disputar o governo paulista ou mesmo o Planalto, posições em que o partido não tem candidatura.
"No PV —vamos supor que aconteça alguma coisa no período pós-filiação—, o Geraldo teria todas as cartas para tomar as decisões dele", diz Belizário. "Essa questão do porto seguro para ele é fundamental."
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