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Como clãs suspeitos de bancar atos golpistas agem para manter poder em MT

Deputado Xuxu Dal Molin (PSC-MT) com o ex-ministro Braga Netto, em ato bolsonarista - 7.set2022 - Reprodução/Twitter
Deputado Xuxu Dal Molin (PSC-MT) com o ex-ministro Braga Netto, em ato bolsonarista Imagem: 7.set2022 - Reprodução/Twitter

Do UOL, em São Paulo

21/11/2022 04h00

Na eleição para a prefeitura de Sorriso (MT) de 2020, o patriarca do clã Rovaris fez uma aposta onde não havia a possibilidade de derrota. Ao financiar as candidaturas dos dois principais concorrentes, Valdocir Rovaris, um milionário empresário do agronegócio de 71 anos, garantiu a influência no poder público sem que precisasse depender do resultado das urnas.

Hoje, quem está à frente dos negócios da família é um dos filhos dele, Atilio Rovaris, um piloto amador de rally responsável por doar R$ 500 mil para a campanha de Jair Bolsonaro (PL). Ele é um dos maiores financiadores do presidente na corrida eleitoral vencida por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e esteve em maio deste ano em um encontro do setor com Bolsonaro em Brasília.

A família teve as contas de uma de suas empresas, a Transportadora Rovaris, bloqueadas por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal). O órgão rastreou 43 empresas e pessoas físicas suspeitas de bancar os atos golpistas após o segundo turno. Mais da metade dessas contas é de empresas de Sorriso (MT), município com 92 mil habitantes apontado como uma das potências do agronegócio no país.

O "eleito" do agronegócio. A prática adotada pela família Rovaris não é a única usada para manter o poder político na cidade. Os clãs do agronegócio também têm apoiado alguns candidatos de sua preferência. Foi o caso do deputado estadual Xuxu Dal Molin (PSC), que teve as suas candidaturas financiadas por quatro clãs suspeitos de bancar os atos golpistas no país.

Em 2018, ele se elegeu deputado estadual com o apoio de Moyses Bocchi, que doou R$ 20 mil para a sua campanha. O empresário é ligado à empresa Berrante de Ouro Transportes Ltda, que teve as suas contas bloqueadas pelo STF por apoiar os atos golpistas.

Na eleição para a prefeitura de Sorriso, em 2020, Dal Molin recebeu R$ 30 mil de Valdocir Rovaris, que, por outro lado, repassou outros R$ 50 mil para a campanha do adversário dele, Ari Lafin (PSDB), que acabou eleito.

Neste ano, Dal Molin tentou se reeleger deputado estadual, mas não conseguiu. Na campanha, recebeu R$ 50 mil de Sergio Bedin, que teve a sua conta pessoal bloqueada pelo STF por suspeita de financiar atos golpistas. O político local ainda arrecadou doações de Moyses Bocchi (R$ 5 mil), e de Ilo e Nelsi Pozzobon (que doaram R$ 440 cada) —todos integram a lista do Supremo.

Outro candidato com apoio do clã. Dal Molin não é o único candidato apoiado pelos clãs. Em 2022, as famílias Rovaris, Bedin e Bocchi doaram, juntas, R$ 170 mil a um candidato que não se elegeu. É Acacio Ambrosini (Republicanos), um vereador de Sorriso que tentou vaga de deputado federal, mas não conseguiu.

Tanto Ambrosini quanto Xuxu Dal Molin fizeram, em suas redes sociais, publicações de incentivo aos atos golpistas em frente aos quartéis no estado. Dal Molin postou no Facebook, no dia 5 de novembro, um vídeo que mostra um comboio de caminhões chegando Batalhão do Exército na capital Cuiabá.

Apoio aos diretórios. As famílias também costumam doar para diretórios estaduais de determinadas legendas em MT. Em 2018, por exemplo, o antigo DEM (atual União Brasil) recebeu R$ 160 mil de membros das famílias Rovaris, Bedin e Bocchi.

O que dizem os citados

O administrador da Berrante de Ouro, empresa ligada à família Bocchi, afirmou que os advogados da empresa já estão recorrendo da decisão de Moraes e que demais manifestações serão feitas nos autos do processo. "Nossas manifestações são legais e não estamos impedindo o direito de ir e vir de ninguém", disse um representante da empresa.

Procurada, a família Rovaris disse que só iria se manifestar sobre o caso após os seus advogados de defesa terem acesso aos dados da ação do STF. Os outros citados não foram localizados. Assim que houver novos posicionamentos, eles serão incluídos na reportagem.

Dal Molin e Ambrosini, os principais candidatos apoiados pelos investigados, também foram procurados, mas não responderam até a publicação da reportagem. Se houver manifestações, elas serão incluídas no texto.