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Cidade de MT tem mais da metade de suspeitos de financiar atos golpistas

Manifestantes protestam contra o resultado das eleições presidenciais em Sorriso (MT) - 31.out.2022 - Lucas Torres/SóNoticias
Manifestantes protestam contra o resultado das eleições presidenciais em Sorriso (MT) Imagem: 31.out.2022 - Lucas Torres/SóNoticias

Do UOL, em São Paulo

18/11/2022 04h00

Sorriso, uma cidade com cerca de 92 mil moradores no interior de Mato Grosso tem mais da metade dos suspeitos de financiar os atos golpistas —os atos contestavam a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno da eleição presidencial.

Das 43 contas bancárias bloqueadas por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal), 23 são de pessoas físicas e empresas do município, que tem a economia movida pelo agronegócio.

Em Sorriso, Bolsonaro vem obtendo uma larga vantagem nas urnas. Em 2018, o atual presidente teve 75,48% dos votos válidos no segundo turno, contra 24,53% do ex-ministro Fernando Haddad (PT). Quatro anos depois, também no segundo turno, ele venceu Lula por 74,34% a 25,66%. Em ambas as disputas, Bolsonaro ultrapassou 70% já no primeiro turno.

Doações para Bolsonaro. Empresários da cidade ligados às contas bloqueadas doaram R$ 894 mil para a campanha de Bolsonaro, segundo levantamento feito pelo UOL Notícias.

Na lista de bloqueios do STF, há ainda 12 contas bancárias de pessoas ou empresas de outras seis cidades de Mato Grosso.

Apenas sete suspeitos de financiar os atos golpistas ficam em outros estados: três delas no Paraná e duas em São Paulo. Goiás e Rio de Janeiro completam a lista, com um bloqueio em cada estado.

Quem foram os doadores com contas bloqueadas? Entre as empresas de Sorriso, está a transportadora Rovaris, chefiada pelo empresário bolsonarista Atilio Elias Rovaris.

Piloto amador da rally, ele está na lista dos maiores financiadores de Bolsonaro na disputa pelo Planalto neste ano, com uma doação de R$ 500 mil.

Argino Bedin, de camisa amarela, com o presidente Jair Bolsonaro, durante visita a Sorriso (MT) - Alan Santos/PR/18.set.2020 - Alan Santos/PR/18.set.2020
Argino Bedin, de camisa amarela, com o presidente Jair Bolsonaro, durante visita a Sorriso (MT)
Imagem: Alan Santos/PR/18.set.2020

A família Bedin. Seis pessoas da família Bedin, também ligada ao agronegócio e com contas de quatro de pessoas físicas bloqueadas pelo STF, doou quase R$ 200 mil para a campanha. O maior repasse foi feito pelo empresário Sérgio Bedin, que arcou com a metade desse valor.

Argino Bedin, que teve a sua conta bloqueada, aparece em uma foto com Bolsonaro, em uma visita do chefe do Executivo à cidade de setembro de 2020. Em entrevista ao site "O Joio e o Trigo", abriu voto a Bolsonaro e disse ter se mudado para a região em 1979 "durante o processo de colonização da região, impulsionado pela ditadura civil", segundo o texto.

Na entrevista, defendeu o presidente. "Até debaixo d'água, eu defendo o governo Bolsonaro." Ele disse, ainda, que o período da ditadura militar "trazia segurança para toda a população" e "só não era bom para quem não queria trabalhar."

O regime deixou 434 mortos ou desaparecidos em 21 anos, de acordo com levantamento da CNV (Comissão Nacional da Verdade). Além disso, a ONG Human Rights Watch calcula que 20 mil pessoas tenham sido torturadas durante o período.

Família Pozzobon e o número 22. Ilo e Nelci Pozzobon, que chefiam a Fermap Transportes, também sediada na cidade, doaram, juntos, quase R$ 150 mil. No repasse feito por Ilo, uma curiosidade: o valor exato foi de R$ 122.222,22, em referência ao número 22 usado nas urnas pelo candidato.

A lista de empresas e pessoas com contas bloqueadas em Sorriso (MT):

Família Bedin

  • Sergio Bedin
  • Roberta Bedin
  • Rafael Bedin
  • Argino Bedin
Família Lermen
  • Alexandro Lermen
  • Alexandro Lermen
  • Dalila Lermen
Empresas
  • Gape Serviços de Transportes Ltda
  • Kadre Artefatos de Concreto e Construção
  • Mz Transportes De Cargas Ltda
  • Potrich Transportes
  • Sipal Industria e Comercio Ltda
  • Transportadora Chico Ltda
  • Transportadora Lermen Ltda
  • Transportadora Rovaris Ltda
  • Trr Rio Bonito T. R. R. Petr. Ltda
  • J R Novelo
  • Agrosyn Comercio E Rep. De Insumos Agric
  • Arraia Transportes Ltda
  • Carrocerias Nova Prata Ltda
  • Castro Mendes Fábrica De Peças Agrícolas
  • Cerâmica Nova Bela Vista Ltda
  • Fermap Transportes Ltda
  • Fuhr Transportes Eireli

O que dizem os citados

Em nota, o Banco Rodobens disse que foi "surpreendido ao verificar que consta em tal relação", e que ainda não teve acesso aos autos, mas que não teve qualquer participação nos atos.

"Antecipando uma análise interna, identificamos que supostamente, dentre os caminhões, encontravam-se clientes com financiamentos na modalidade de leasing operacional, onde a propriedade é do Banco e o cliente arrendatário tem a posse direta do caminhão e pode optar, ao final do contrato, pela aquisição do bem, ou seja, não são bens de uso do Banco Rodobens", diz o comunicado.

O administrador da Berrante de Ouro, que se identificou apenas como Cristiano, afirmou que os advogados da empresa já estão recorrendo da decisão de Moraes e que demais manifestações serão feitas nos autos do processo. "Nossas manifestações são legais e não estamos impedindo o direito de ir e vir de ninguém", disse.

Josênia de Rossi, administradora da Kadre Artefatos De Concreto E Construção, se disse revoltada e disse que a empresa pretende recorrer da decisão.

O UOL Notícias tenta contato com os demais citados. Caso haja resposta, o texto será atualizado.