Lula recebe faixa de catadora e chora; após discursos, anuncia revogaço
Do UOL, em São Paulo e em Brasília
01/01/2023 16h03Atualizada em 01/01/2023 22h11
Cinco pontos para entender o dia da posse de Lula:
- Lula subiu a rampa do Palácio do Planalto ao lado da mulher, Janja da Silva, da cachorra Resistência e de representantes da sociedade civil --incluindo um professor, uma criança negra, um metalúrgico, uma pessoa com deficiência e o cacique Raoni.
- Recebeu a faixa presidencial da catadora de materiais recicláveis Aline Sousa, mulher negra, ao som da música "Amanhã", de Guilherme Arantes.
- Em discurso no Congresso, Lula defendeu a democracia, mas fez duras críticas a Bolsonaro --sem citar nominalmente seu antecessor. Disse que o último governo "dilapidou o Estado", falou em "devastação" da soberania, mas afirmou que não haverá revanchismo.
- Após receber a faixa, discursou à multidão no Planalto. Começou lembrando do período em que esteve preso em Curitiba, chorou ao falar da miséria e foi enfático ao defender o combate às desigualdades. Antes, ele já havia chorado duas vezes.
- Mais tarde, no primeiro ato como presidente, Lula assinou um "revogaço", pedindo revisão de decretos de armas e sigilos. Também liberou pagamento do Auxílio Brasil e deu posse aos 37 ministros.
Hoje, depois do terrível desafio que superamos, devemos dizer: democracia para sempre. Para confirmar estas palavras teremos de reconstruir em bases sólidas a democracia em nosso país."
No 1º discurso, no Congresso
Ainda que nos arranquem todas as flores, uma por uma, pétala por pétala, nós sabemos que é sempre tempo de replantio, e que a primavera há de chegar. E a primavera chegou."
No 2º discurso, no Planalto
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Como foi a posse
- Apesar da preocupação com a segurança, Lula e Alckmin, acompanhados de Janja e Lu Alckmin, saíram no cortejo em um Rolls-Royce.
- Eles saíram da Catedral e foram até o Congresso. No caminho, o petista chorou.
- Lula e Alckmin assinaram os termos de posse e o novo presidente discursou.
- Do Congresso, seguiram para o Palácio do Planalto.
- O petista recebeu a faixa presidencial de representantes da sociedade civil e fez um segundo discurso voltado aos apoiadores.
- Depois, cumprimentou chefes de Estado, assinou despachos, deu posse aos ministros e tirou fotos.
Como foi a passagem de faixa
Na rampa do Planalto, Lula estava acompanhado de um menino negro da zona leste de São Paulo, Francisco, 10; do cacique Raoni Metuktire; da catadora Aline Sousa, 33; do metalúrgico Weslley Rodrigues; do professor Murilo de Quadros Jesus; da cozinheira Jucimara Fausto dos Santos; do militante Flávio Pereira e de Ivan Baron, que teve paralisia cerebral em decorrência de uma meningite.
Sem Bolsonaro, que viajou para os Estados Unidos, Aline foi quem entregou a faixa. Em seguida, Lula cumprimentou todos e chorou novamente. Por fim, chamou Alckmin e todos levantaram as mãos, juntos.
Como foram os discursos
1º discurso, no Congresso: democracia, reconstrução e revogaço
Aos parlamentares, Lula afirmou que a mensagem do seu terceiro mandato é de "esperança e reconstrução" —uma referência, inclusive, ao slogan do governo "União e Reconstrução".
O grande edifício de direitos, de soberania e de desenvolvimento que esta Nação levantou, a partir de 1988, vinha sendo sistematicamente demolido nos anos recentes. É para reerguer este edifício de direitos e valores nacionais que vamos dirigir todos os nossos esforços."
O novo presidente repetiu promessa de campanha de "valorização permanente do salário mínimo" e destacou que vai acabar com a "vergonhosa fila do INSS".
Vamos dialogar, de forma tripartite, governo, centrais sindicais e empresariais, sobre uma nova legislação trabalhista. Garantir a liberdade de empreender, ao lado da proteção social, é um grande desafio nos tempos de hoje."
Também citou a pandemia de covid-19 e prestou solidariedade às mais de 700 mil vítimas da covid-19. "A responsabilidade por esse genocídio hão de ser apuradas e não devem ficar impunes", afirmou.
Insistiu que sua equipe de transição fez um diagnóstico "estarrecedor" sobre a situação do governo e que um relatório será enviado a deputados, Senadores e ao Judiciário.
Estamos revogando os criminosos decretos de ampliação do acesso a armas e munições, que tanta insegurança e tanto mal causaram às famílias brasileiras. O Brasil não quer mais armas; quer paz e segurança para seu povo."
Parlamentares e apoiadores aplaudiram a chegada do petista. Do lado de fora, uma multidão acompanhou a cerimônia.
Negar a política, desvalorizá-la e criminalizá-la é o caminho das tiranias. Minha mais importante missão, a partir de hoje, será honrar a confiança recebida e corresponder às esperanças de um povo sofrido, que jamais perdeu a fé no futuro nem em sua capacidade de superar os desafios. Com a força do povo e as bênçãos de Deus, haveremos der reconstruir este país."
2º discurso, no Palácio do Planalto: choro, prisão e justiça social
No parlatório, o petista iniciou sua fala citando a vigília em Curitiba durante o período em que esteve preso. À frente de apoiadores e militantes, ele se emocionou.
Quero começar fazendo uma saudação especial a cada um e a cada uma de vocês, uma forma de lembrar e retribuir o carinho e a força que recebi todos os dias do povo brasileiro representado pela vigília Lula livre, num dos momentos mais difíceis da minha vida."
Ao falar de fome e desigualdade, o presidente chorou e precisou parar para tomar água e enxugar as lágrimas.
Há muito tempo não víamos tamanho abandono e desalento nas ruas. Mães garimpando o lixo em busca de alimento para seus filhos. Famílias inteiras dormindo ao relento, enfrentando o frio, a chuva e o medo. Crianças vendendo bala ou pedindo esmola quando deveriam estar na escola vivendo plenamente a infância que tem direito."
Lula garantiu que ele e Alckmin trabalharão para acabar com a situação de desigualdade no país em seus diferentes aspectos, como social, raça e gênero.
Ninguém será cidadão ou cidadã de segunda classe, ninguém terá mais ou menos amparo do Estado, ninguém será obrigado a enfrentar mais ou menos obstáculos apenas pela cor de sua pele."
Durante o discurso, a multidão gritou "sem anistia", quando o novo presidente criticou a gestão Bolsonaro. O presidente voltou a falar em união e reconstrução.
É hora de reatarmos os laços com amigos e familiares, rompidos pelo discurso de ódio e pela disseminação de tantas mentiras. Chega de ódio, fake news, armas e bombas. Nosso povo quer paz para trabalhar, estudar, cuidar da família e ser feliz. A disputa eleitoral acabou."
Lula seguiu depois para receber os cumprimentos de apoiadores, chefes de Estado, entre outros participantes convidados.
Os primeiros despachos
Além do decreto de armas e do Auxílio Brasil, Lula assinou para:
- Prorrogar por 60 dias a isenção de impostos nos combustíveis;
- Indicar que os ministros enviem propostas de desestatização da Petrobras, Correios e EBC (Empresa Brasil de Comunicação);
- Revogar medida do governo anterior que incentivava garimpo ilegal na Amazônia, entre outros;
- Pedir que a CGU reavalie decisões de Bolsonaro que colocaram 100 anos de sigilo em documentos e informações;
- Revogar decreto que segregava crianças com deficiência;
- Solicitar que a Secretaria-Geral envie proposta de recriação de programa que incentiva atividades da categoria.