Não mandamos, dependemos, diz Lula a ministros sobre relação com Congresso
O presidente Lula passou um recado claro na aos ministros durante a primeira reunião ministerial do novo governo no Palácio do Planalto hoje: é preciso ser político, mas não pode fazer "coisa errada".
Em um discurso de cerca de 15 minutos aos 37 ministros, Lula ressaltou que a boa relação com o Congresso é vital para o governo e descartou que divergências entre as pastas sejam algo negativo.
É preciso que a gente saiba que é o Congresso que nos ajuda, nós não mandamos no Congresso, dependemos do Congresso --e por isso, cada ministro tem que ter a paciência e a grandeza de atender bem cada deputado ou cada deputada que o buscar."
Lula, em reunião ministerial
A fala de Lula vai de consonância a uma pauta que ele vem pregando desde a eleição: não negar a política.
"Senão, quando a gente vai pedir um voto, vai falar com um deputado ou senador, ele diz: 'Eu não vou votar, porque fui em tal ministério, nem me receberam, me deram um chá de cadeira de quatro horas, o ministro nem serviu um cafezinho ou uma água'. Eu não quero isso", instruiu.
Cada um de vocês tem a obrigação de manter a relação mais harmônica com o Congresso Nacional. Não tem importância que você divirja de um deputado ou de um senador. A gente não está propondo um casamento, a gente está propondo aprovar uma tese ou fazer uma aliança momentânea em torno de alguma assunto que interessa ao povo brasileiro."
Na presença dos líderes do governo e do PT no Senado, os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Jaques Wagner (PT-BA), Lula prometeu: "Vou fazer a mais importante relação com o Congresso que eu já fiz".
O presidente deixou claro, no entanto, que essas relações não deveriam incluir barganhas ilícitas e quem as fizesse estaria fora.
Todo mundo sabe da nossa responsabilidade, da nossa obrigação de fazer as coisas da melhor forma possível. Quem fizer coisa errada, a pessoa, da maneira mais educada possível, será convidada a deixar o governo. E, se cometeu algo grave, deve se colocar diante das investigações e da própria justiça."
A declaração acontece após a revelação de que a ministra do Turismo, Daniela Carneiro (União Brasil), tem relação com o ex-PM Juracy Alves Prudêncio, o Jura, condenado por homicídio e apontado como chefe de uma milícia na Baixada Fluminense.
A nomeação da deputada foi fruto de um acordo com o União Brasil, que conseguiu emplacar outros dois ministros. O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, afirmou ontem que, por enquanto, "não há fatos relevantes" que justifiquem a demissão dela.
Muitos de vocês são resultado de um acordo político. Não adianta ter o governo tecnicamente mais formado em Harvard possível e não ter um voto na Câmara dos Deputados e no Senado.
A intenção da reunião foi alinhar os anúncios do governo e aparar arestas após recentes divergências públicas envolvendo os ministérios.
- A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, respondeu hoje a uma fala de Simone Tebet, chefe do Planejamento, que disse ter dificuldade para achar mulheres pretas para trabalhar na pasta.
- Fernando Haddad, à frente da Fazenda, havia dito que 30 dias de isenção de imposto sob combustíveis seriam suficientes, mas Lula prorrogou o ato por outros 60 dias.
- Rui Costa e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, negaram que o governo esteja estudando rever a reforma da Previdência aprovada em 2019, após o ministro da Previdência, Carlos Lupi, criticar a "antirreforma"
- Simone Tebet ficou com o Ministério do Planejamento, apesar de ter demonstrado interesse na área social do governo, que foi para o petista Wellington Dias.
- Ela aceitou comandar o Planejamento, mas não terá controle do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, que ficam sob a Fazenda, de Haddad.
Lula deve fazer reunião com governadores. O presidente agendou um encontro com os governadores de todos os estados e do Distrito Federal no dia 27 deste mês.
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