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Mundurukus reagem a estudo sobre mercúrio: 'A gente vai morrer de fome'

Coloração branca no rio indica proximidade com o garimpo Imagem: João Paulo Guimarães

João Paulo Guimarães

Colaboração para o UOL, no Pará

24/01/2023 04h00

O caminho para Sawré Muybu, aldeia munduruku a uma hora de Itaituba (PA), é feito de lancha. A água do rio Tapajós é levemente esverdeada no início da travessia, mas, à medida que a lancha se aproxima da área de garimpo, vai ganhando uma coloração branca.

"É a lama do garimpo", diz a liderança Alessandra Munduruku.

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Uma pesquisa da Fiocruz iniciada em 2019 analisou fios de cabelo de 200 indígenas de três aldeias mundurukus: Sawré Muybu, Poxo Muybu e Sawré Aboy.

Todos os testados apresentam algum grau de mercúrio no organismo. A substância é utilizada no garimpo ilegal.

Teste de Rosilda Munduruku, de 43 anos, indica concentração muito alta de mercúrio no cabelo: 20,2 mcg/g Imagem: João Paulo Guimarães

"A gente vai morrer de fome"

A indígena Maria Leusa descobriu que seu leite materno está contaminado pelo mercúrio e tem prejudicado a saúde de seu filho.

Liderança respeitada, ela já sofreu ameaças de morte, teve a sua casa queimada por garimpeiros em Jacareacanga (PA) e chegou a ter uma arma apontada para sua cabeça.

Mercúrio no leite materno e pescado. Crianças de 10 anos de idade chegaram a registrar uma concentração muito alta, de 18,9 mcg/g de mercúrio. Isso acontece porque o mercúrio pode ser passado por mães lactantes aos bebês através da amamentação, e também pelo pescado, que é a base da nutrição munduruku.

Crianças do povo Munduruku, no Pará, apresentam alta concentração de mercúrio no organismo, diz estudo da Fiocruz Imagem: João Paulo Guimarães

A pesquisa também quantificou a concentração de mercúrio nas espécies de peixes consumidas pelo povo indígena. Piranha-preta, peixe-cachorro e mandubé apresentaram concentração perigosa do metal.

Espécies de peixes do Rio Tapajós consumidas pelo povo Munduruku apresentam alta concentração de mercúrio Imagem: João Paulo Guimarães

"A gente está morrendo sem perceber. O que a gente vai comer agora? O que as grávidas vão dar pros seus filhos se não for o leite ou peixe? A gente vai morrer de fome", diz a indígena.

"O que as grávidas vão dar pros seus filhos se não for o leite ou peixe?", questiona Maria Leusa Imagem: João Paulo Guimarães

O resultado do estudo, produzido a partir de um pedido dos próprios indígenas, foi apresentado à Aldeia Sawré Muybu em uma assembleia em setembro do ano passado.

Os valores de referência variam de 1 a 20 mcg/g, com a seguinte classificação:

  • Baixo: de 1 a 2mcg/g;
  • Aceitável: de 2 a 6 mcg/g;
  • Alto: de 6 a 10 mcg/g e
  • Muito alto: de 10 a 20 mcg/g.

Sintomas. Aldira Akai, 32, relata sentir dores de cabeça, no corpo e episódios de esquecimento. O laudo que recebeu indica 8,9 mcg de mercúrio por grama de cabelo. O número é considerado alto na tabela da Fiocruz.

A análise permite avaliar o nível de mercúrio absorvido pelo organismo nos 30 dias anteriores à coleta.

Aldira Akai Munduruku relata sintomas da contaminação por mercúrio; seu teste indica alta concentração do metal no organismo Imagem: João Paulo Guimarães

Errata: este conteúdo foi atualizado
A unidade de medida de concentração de mercúrio no corpo humano é mcg/g, não mg/g. A informação foi corrigida.

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