Hacker confirma segurança das urnas: 'Ataque de fora seria impossível'
O hacker Walter Delgatti afirmou à CPI do 8 de Janeiro que, apesar dos pedidos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de aliados para tentar fraudar o sistema eleitoral, as urnas eletrônicas são seguras e invioláveis.
O que aconteceu?
Delgatti explicou que as urnas eletrônicas não são ligadas à internet e, por estarem offline, é "impossível" que agentes externos ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) consigam acessá-las.
O hacker afirmou que Bolsonaro teria deixado a seu critério decidir quais ilegalidades seriam cometidas para provar que a urna não seria segura ou demonstrar sua fragilidade. Ele teria se reunido com o então presidente no Palácio do Alvorada e conversado com ele por telefone em outra ocasião.
Ele também disse no depoimento que participou de cinco reuniões no Ministério da Defesa para receber informações da alta cúpula do setor de tecnologia da informação sobre as urnas eletrônicas. As Forças Armadas inspecionaram o sistema eleitoral com aval do TSE.
Inicialmente, a ideia era que ele fosse o garoto-propaganda da campanha de Bolsonaro. Mas o plano não foi para frente. A segunda ideia então era que ele gravasse um vídeo mostrando que as urnas não eram confiáveis.
Ele teria uma urna que seria emprestada pela OAB, colocaria um aplicativo feito por ele, com um código falso, e mostraria à população que seria possível apertar um número e sair outro. "Eu faria um código fonte meu, não do TSE, para a população ver que seria possível apertar um voto e imprimir outro", explicou.
A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) rebateu a informação, dizendo que "o Conselho Federal, as seccionais e as subseções da entidade não possuem urnas eletrônicas". "Em 2022, não houve eleição no sistema OAB, não sendo usada qualquer urna eletrônica pela Ordem, que também não solicitou empréstimo de urnas aos tribunais eleitorais."
Segundo o hacker, ele foi o responsável por elaborar o relatório de fiscalização do processo de votação que o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, enviou à Corte Eleitoral. O ofício não cita fraude eleitoral tampouco divergência nos boletins de votação emitidos pelas urnas.
À CPI, Delgatti disse que mantém as conclusões sobre a segurança das urnas eletrônicas escritas no documento: "Não há como comprovar que houve fraude". Ele reafirmou diversas vezes as urnas são seguras, porque o código fonte está guardado em uma sala-cofre sem acesso à internet.
Delgatti está preso
Preso desde o início de agosto, Delgatti é acusado de participar de um ataque contra o sistema do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) para emitir um falso pedido de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes.
Segundo o advogado dele, Ariovaldo Moreira, o hacker teria recebido R$ 40 mil da deputada Carla Zambelli (PL-SP) em pagamentos pelos serviços de hacker. A parlamentar teria feito depósitos que chegam a R$ 14 mil e o restante do valor foi feito em espécie. Ela nega as acusações.
Delgatti ficou conhecido como o hacker da "Vaza Jato" — ele invadiu os celulares de integrantes do Ministério Público e teve acesso às mensagens do ex-juiz da Operação Lava Jato Sérgio Moro, atualmente senador, e do ex-procurador da República e deputado cassado Deltan Dallagnol. Ele já havia sido preso em julho de 2019 por esse caso.