Perdão de Bolsonaro, Moro criminoso e Moraes grampeado: as frases do hacker
Do UOL, em São Paulo
17/08/2023 17h39Atualizada em 17/08/2023 18h25
Preso pela Polícia Federal após invadir os computadores do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), o hacker Walter Delgatti colocou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no centro do escândalo ao afirmar à CPI dos atos golpistas que receberia um indulto presidencial se invadisse as urnas eletrônicas. Segundo Bolsonaro, Delgatti está "fantasiando".
Delgatti afirmou também que Moraes já havia sido grampeado, que o senador Sergio Moro (União Brasil) é um criminoso — e o ex-juiz disse que ele é um "bandido" —, que o "ataque de fora [às urnas] seria impossível" e que, por cerca de quatro meses, ficou com as senhas fáceis do CNJ e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), do tipo "12345".
O que o hacker disse
O encontro com Bolsonaro. "Apareceu a oportunidade da deputada Carla Zambelli, de um encontro com o Bolsonaro, que foi no ano de 2022, antes da campanha. Ele queria que eu autenticasse... autenticasse a lisura das eleições, das urnas. E por ser o presidente da República, eu acabei indo ao encontro. [...] Lembrando que eu estava desemparado, sem emprego, e ofereceram um emprego a mim. Por isso que eu fui até eles", disse.
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A conversa, ela foi bem técnica, até que o presidente me disse. Falou assim: 'Olha, a parte técnica eu não entendo, eu irei enviá-lo ao Ministério da Defesa e lá, com os técnicos, você explica tudo isso'.
Walter Delgatti, hacker
Para convencê-lo, Bolsonaro teria prometido um indulto ao hacker. "A ideia ali era eu receber um indulto do presidente. Ele havia concedido indulto ao deputado [Daniel Silveira], e como eu estava investigado pela [operação] Spoofing [que vazou conversas da Lava Jato], impedido de acessar a internet e trabalhar, eu visava esse indulto, que foi oferecido no dia", afirmou.
Foi criado um plano para desacreditar as urnas, disse Delgatti. "Eu faria um código fonte meu, não do TSE, para a população ver que seria possível apertar um voto e imprimir outro", disse. Para isso, o hacker receberia uma urna eletrônica emprestada pela OAB e instalaria um aplicativo criado por ele.
O ex-presidente teria dado "carta branca" a Delgatti neste plano. "Ele [Bolsonaro] me deu carta branca para fazer o que eu quisesse, relacionado às urnas", disse o hacker.
Bolsonaro teria prometido proteção se o plano vazasse. "'Fique tranquilo, se algum juiz te prender, eu mando prender o juiz'. E deu risada", afirmou Delgatti sobre um diálogo por telefone com o ex-presidente.
À época, eu era o hacker da Lava Jato, né. Então, seria difícil a esquerda questionar essa autoria, porque lá atrás eu teria assumido a 'Vaza-Jato', que eu fui, e eles apoiaram. Então, a ideia seria um garoto da esquerda assumir esse grampo.
Walter Delgatti, hacker
Delgatti disse estar disposto a fazer uma acareação com Bolsonaro "a qualquer momento". Na acareação, dois depoentes com versões contraditórias são colocados frente a frente, em uma tentativa de esclarecer as divergências.
Invasão às urnas "seria impossível", disse Delgatti
O hacker afirmou que não havia meio de fraudar as urnas eletrônicas. "Até 2018, o código-fonte ficava online, mas após isso ele fica no computador offline em um cofre no TSE, em uma sala-cofre. Então, um ataque de fora hoje seria impossível", afirmou.
Delgatti teria passado quatro meses com as senhas do TSE e do CNJ.
A senha master, que tem acesso a tudo, era "123mudar". A segunda senha mais segura era "cnj123". E a terceira, 12345.
Walter Delgatti, hacker
Grampo em Alexandre de Moraes, presidente do TSE e ministro do STF. "A informação que eu tenho é que ele já estava grampeado. Já existia o grampo", disse Delgatti, que teria ouvido de Bolsonaro um pedido para assumir a autoria do crime.
E, nisso, eu estou preso hoje, porque a PF foi em casa, e eu contei a verdade, eu contei tudo o que aconteceu, eu entreguei as informações, como eu cheguei ao CNJ, tudo, e, por falar isso e entregar tudo, eu estou preso hoje.
Walter Delgatti, hacker
Delgatti, chamou Sergio Moro de "criminoso". O ex-ministro de Bolsonaro havia perguntado sobre os processos por estelionato contra o hacker. "Li as conversas de Vossa Excelência, li a parte privada, e posso dizer que o senhor é um criminoso contumaz, cometeu diversas irregularidades e crimes", disse Delgatti. Moro respondeu: "Bandido aqui é o senhor".
O hacker entrou na mira da CPI por suspeita de ter sido contratado pela deputada bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP) para invadir as urnas eletrônicas e o sistema do CNJ. Ela nega as acusações. A defesa dela diz que "somente se manifestará após integral conhecimento do conteúdo dos autos".