Rolex entregue a Bolsonaro foi feito sob encomenda, diz perito
Do UOL, em São Paulo
20/08/2023 21h29Atualizada em 21/08/2023 15h31
O Rolex recebido de presente pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi feito sob encomenda, de acordo com o perito que analisou a peça na Polícia Federal. As informações são do Fantástico, da TV Globo.
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O que aconteceu:
O governo Bolsonaro recebeu kits de joias feminino e outros dois masculinos, sendo um de ouro branco e outro de ouro rosé. Os conjuntos incluíam caneta, abotoaduras, anel, rosário islâmico e relógio.
O Rolex, que faz parte do kit de ouro branco, tem uma luneta (parte ao redor da peça) com 184 diamantes, e no mostrador (feito de madrepérola) as pedras preciosas ficam no lugar que seriam dos números. As peças masculinas, assim como as femininas dos kits recebidos, têm diamantes. A caneta de diamantes do kit de ouro branco, que custa R$ 100 mil, tem 1.120 pedras cravadas.
Relógios de alta precisão contam com pedras preciosas no mecanismo interno, como os rubis presentes no Rolex, já que as pedras não enferrujam. O relógio, como mostrou a perícia, também tem diversas camadas de segurança, desde números de série a símbolo gravados na peça, que comprovam a autenticidade dos itens.
O relógio mais caro dos kits é o rosé, da marca Chopard, avaliado em R$ 695 mil. A peça foi recebida em outubro de 2021 durante viagem do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, à Arábia Saudita. "Foram produzidos somente 25 unidades [desse relógio]", disse Wilson Akira Uezu, afirmando que "com certeza" o número pequeno de peças produzidas aumenta o valor.
Esse [o Rolex] é um relógio feito sob encomenda, de uma série especial e tem um calibre, mecanismo especial, para ele. Nesse caso foi muito fácil a gente identificar o relógio.
Wilson Akira Uezu, perito criminal federal
Entenda o caso:
O kit de ouro branco foi entregue a Bolsonaro em viagem à Arábia Saudita em 2019. As peças foram desmembradas e reunidas novamente apenas na perícia feita pela Polícia Federal.
Em 2022, os kits foram levados para fora do país em voo oficial. Na Pensilvânia, nos Estados Unidos, o tenente-coronel e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, vendeu o Rolex e outro relógio, da marca Patek Philippe. Este último tem a origem incerta. Os dois itens foram vendidos por US$ 68 mil, porém, apenas o Rolex foi avaliado em US$ 75 mil pela Polícia Federal.
O dinheiro recebido pela venda foi depositado na conta do pai de Cid, general Mauro Lourena Cid, nos EUA, e enviado aos poucos para o Brasil.
Já o kit de ouro rosé foi para uma casa de leilões em Nova York, onde foram resgatados em março pelo grupo do coronel Cid e entregues ao TCU (Tribunal de Contas da União).
Advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef foi atrás de recomprar os relógios vendidos, mas conseguiu readquirir apenas o Rolex. A outra peça continua desaparecida.
À emissora, o advogado de Cid, Cezar Roberto Bittencourt, disse ontem que o cliente não sabia que era ilegal vender as joias. "Acho que é um desconhecimento das regras normais. Claro, principalmente, para vender no exterior, que é uma coisa diferente."
"Ele [Cid] retirou o dinheiro e destinou a quem era de direito, a família presidencial, o presidente, a primeira-dama", disse o advogado de Cid, que afirmou que o cliente falará quando for autorizado por ele, já que o tema é uma "coisa perigosa" para a segurança dele e seus familiares. Em cooperação internacional, o FBI ajudará a investigar as contas e movimentações dos envolvidos no caso das joias.
Uma fonte da PF confirmou à emissora que no celular de Cid, a PF achou mensagem do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que indicam que o ex-presidente sabia das tentativas de Cid vender e depois resgatar as joias. A mesma fonte ainda apontou que a corporação está identificado outros presentes de alto valor dados pela Arábia Saudita aos membros do governo.
Procurados pela emissora, a defesa do pai de Mauro Cid preferiu não se manifestar. Já o advogado do ex-presidente anunciou que assumirá a defesa de Michelle Bolsonaro e não irá se pronunciar no momento sobre a ex-primeira-dama. Os advogados do ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque afirmaram que se manifestaram aos fiscais da Receita Federal, em Guarulhos. Frederick Wassef não retornou à solicitação da emissora.
Joias para Michelle
O primeiro conjunto analisado pela Polícia Federal foi o de joias femininas, destinadas à então primeira-dama Michelle Bolsonaro. Os itens, que deram origem à investigação no caso, foram apreendidas no Aeroporto de Guarulhos, na bagagem de um dos integrantes do ministério de Minas e Energia, em outubro de 2021, na volta de uma viagem à Arábia Saudita. Dentro da bagagem também havia uma escultura de cavalo, que se quebrou no transporte — não tinha nada dentro da peça, que foi produzida em uma loja de presentes na Itália.
As joias enviadas a Michelle contam com diamantes de tamanhos diferentes, nos formatos de coração, redondos e até gotas.
Apenas no conjunto de um colar enviado à Michelle, a perícia apontou 3.161 diamantes. E cada um foi avaliado individualmente, gema por gema, para descobrir o quilate deles. O valor estimado do colar é de R$ 4.150.584,00. A caixa de joias do colar ainda conta com um relógio todo de diamantes, da pulseira ao mostrador, avaliado em R$ 1 milhão.
Cada diamante é único, então, a gente teve que tratá-los de forma única. [São diamantes de boa qualidade?] Nossa, são de excelente qualidade. (...) Elas não são joias comerciais, até onde eu sei, não estão no catálogo da empresa, são exclusivas.
Fernanda Claas Ronchi, perita criminal federal