Chegada de Gonet à PGR deve acelerar inquérito do 8/1
Do UOL, em Brasília
08/01/2024 04h00Atualizada em 08/01/2024 12h22
Somente "peixes pequenos" foram presos após a invasão às sedes dos três Poderes. A expectativa é que os 'tubarões" —financiadores, militares e mentores dos atos golpistas— sejam responsabilizados somente agora, com a chegada de Paulo Gonet à PGR.
O que acontece
Deputados do PT dizem que a Polícia Federal fará operações contra nomes de peso a partir deste mês. Eles também esperam que o inquérito seja concluído em curto prazo.
Os alvos seriam financiadores, mentores e militares, trazendo para a investigação pessoas com maior importância política e econômica. Até o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deve estar entre os alvos, avalia a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann.
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Um realinhamento político em Brasília coincide com a expectativa de um novo ritmo nas investigações. Esta movimentação começou no ano passado.
Blindagem de Aras
Em setembro de 2023, terminou o mandato de Augusto Aras na chefia da PGR (Procuradoria-Geral da República). Ele deixou o cargo desgastado pela pecha de "engavetador" de processos contra Bolsonaro, com quem era alinhado. Aras nunca foi um dos procuradores mais destacados do Ministério Público Federal, mas virou chefe graças a uma escolha pessoal de Bolsonaro.
Dentro da PF, havia o entendimento de que Aras dificultaria operações contra aliados do ex-presidente. Por este motivo, ações de maior repercussão foram adiadas para depois de sua saída, segundo apurou o UOL.
O sistema jurídico contém formas de driblar a blindagem imposta por Aras, mas impõe um custo político. O ministro do STF Alexandre de Moraes precisava contrariar pareceres técnico da PGR para atender aos pedidos de investigação da PF.
Este movimento fazia a oposição reclamar de perseguição política por parte do STF e alimentava esse tipo de narrativa nas redes sociais.
Nova era com Gonet
A expectativa com a entrada de Gonet é de um procurador sem compromissos com Bolsonaro e que remova amarras das apurações. Ele tomou posse em 18 de dezembro, mas só agora vai dar o tom de sua gestão.
A grande pergunta é qual providência ele dará ao relatório da CPI do 8 de Janeiro. Nesse documento, os parlamentares responsabilizaram Bolsonaro, oito generais e um ex-comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos.
Foram atribuídos quatro crimes ao ex-presidente e seu nome aparece 268 vezes no documento. O somatório das penas, em caso de condenação, chega a 29 anos. O deputado Rogério Correia (PT-MG), integrante da CPI, afirma que a comissão também dá respaldo político a denúncias contra militares de alta patente, financiadores e Bolsonaro.
Há um clima para cobrar respostas às invasões com os eventos que marcam um ano da tentativa de golpe de Estado. O entendimento é que a chegada de Gonet se dá num cenário favorável a ações de maior repercussão.
Já a oposição segue afirmando não haver provas contra o ex-presidente. Para eles, uma eventual prisão levará à criação de um mártir político.
Moraes comanda o calendário
As investigações se revelaram mais complexas e demoradas do que o esperado. A delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tornou a apuração mais complicada. Várias declarações e fatos precisavam ser checados.
A palavra final é de Alexandre de Moraes. O ministro do STF é coordenador dos inquéritos e está no comando dos trabalhos. Um alvo do STF afirmou ao UOL que "tudo acontece no tempo do Xandão". Ele preferiu não se identificar e declarou que a palavra final sempre é de Moraes.
Só peixe pequeno
Até agora, a PGR solicitou abertura de ação penal contra um único suspeito de financiar os atos golpistas. O pedido ocorreu em 14 de dezembro. Pedro Luis Kurunczi é de Londrina (PR) e teria fretado ônibus para pessoas irem acampar em frente à sede do Exército em Brasília.
Houve 2.170 prisões pelas invasões. Todos eram manifestantes que atenderam às convocações para participarem dos atos golpistas:
243 nas sedes dos Poderes em 8 de janeiro;
1.927 no acampamento em frente ao QG do Exército no dia seguinte.
Oposição vê 'narrativa da esquerda'
Para a oposição, não há provas das acusações contra Bolsonaro. A ausência de financiadores e organizadores presos seriam um reflexo disso, segundo senadores da oposição que conversaram com o UOL.
A responsabilidade pelas invasões é do governo Lula, afirma o senador Magno Malta (PL-ES), que foi vice-presidente da CPI do 8 de Janeiro. Ele justificou que houve alertas dos serviços de inteligência e não foram tomadas providências.
Inação de G.Dias foi flagrada em câmeras. Ele acrescentou que o ministro responsável pela proteção do Palácio do Planalto estava no local na hora da invasão e nada fez. Imagens do circuito de segurança mostraram o então ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Gonçalves Dias, inoperante enquanto manifestantes quebravam o Planalto.
O senador Esperidião Amin (PP-SC) reclamou que a CPI não apurou a omissão do governo Lula. Ele ressaltou que não foi permitido ouvir o ministro da Justiça, Flávio Dino, para saber por que a Força Nacional não foi acionada.
Amin ainda criticou o Ministério da Justiça por não fornecer as imagens de seu circuito interno de segurança. Também havia mais de 200 homens na sede do Ministério da Justiça e eles não foram chamados.