Vocês acreditam no Moraes?, questiona Bolsonaro a ministros em reunião
Do UOL, em São Paulo
09/02/2024 08h18Atualizada em 09/02/2024 12h48
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) questionou a ministros quais deles acreditavam nos magistrados do STF. Pergunta foi feita durante a reunião em que discutem uma "dinâmica golpista".
O que aconteceu
Bolsonaro apareceu dizendo que ministros do STF estavam "preparando tudo" para que Lula ganhasse as eleições no primeiro turno "na fraude". Ele citou nominalmente Alexandre de Moraes, Luis Roberto Barroso e Edson Fachin.
"Alguém acredita em Fachin, Barroso e Alexandre de Moraes? Se acreditar levanta braço. Acredita que eles são pessoas isentas? Que estão preocupados em fazer justiça, seguir a constituição?", questiona Bolsonaro. Nenhum dos ministros responde.
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Moraes tirou sigilo e disponibilizou o vídeo da reunião. Antes, trechos da gravação, foram obtidos e divulgados com exclusividade pela coluna de Bela Megale, de O Globo.
Gravação do dia 5 de julho de 2022 foi apreendida na casa do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid. Parte da transcrição está presente na decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes que embasou a operação de ontem, mirando a organização criminosa que atuou para tentar um golpe de Estado.
Moraes diz que a reunião "nitidamente, revela o arranjo de dinâmica golpista no âmbito da alta cúpula do governo, manifestando-se todos os investigados que dela tomaram parte". Ele também diz que todos os participantes ajudaram a difundir mentiras no período eleitoral sobre o então candidato Lula (PT), o TSE e os ministros do STF.
"Essa cadeira é uma 'cagada'". Bolsonaro diz que teve sorte ao se tornar presidente e que feito não se repetiria no Brasil. "Não vai ter outra 'cagada' dessa no Brasil. 'Cagada' do bem, quero deixar bem claro. Como é que eu ganho uma eleição, um fodido como eu? Deputado do baixo clero, escrotizado dentro da Câmara, sacaneado, gozado, uma 'porra' de um deputado."
Defesa e Bolsonaro diz que falas são "parte da democracia". Em postagem nas redes sociais, Fabio Wajngarten, que defende o ex-presidente, afirmou que Bolsonaro condena o uso da força. "Todas as opiniões do presidente são absolutamente públicas".
Nós sabemos que, se a gente reagir depois das eleições, vai ter um caos no Brasil. Vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira no Brasil. Agora, alguém tem dúvida que a esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições? Não adianta eu ter 80% dos votos. Eles vão ganhar as eleições
Jair Bolsonaro, em reunião com ministros em 5 de julho de 2022
O ex-presidente ainda cobra que ministros questionem o processo eleitoral ainda no primeiro turno: "Todos aqui têm uma inteligência bem acima da média. Todos aqui, como todo povo ali fora, têm algo a perder. Nós não podemos, pessoal, deixar chegar as eleições e acontecer o que está pintado, está pintado", começa.
Eu parei de falar em voto imp... em eleições, tem umas três semanas. Vocês estão vendo agora que... eu acho que chegaram à conclusão. A gente vai ter que fazer alguma coisa antes.
Jair Bolsonaro, em reunião com ministros em 5 de julho de 2022
'TSE errou ao chamar Forças Armadas'
O então presidente falou abertamente que o TSE errou ao chamar as Forças Armadas. O convite era para que a instituição integrasse o comitê de transparência eleitoral da Corte. Bolsonaro acreditava que a decisão iria beneficiá-lo.
O TSE cometeu um erro [inaudível] quando convidou as Forças Armadas para participar da comissão de transparência eleitoral. Cometeu um erro. Eles erraram. Pra nós, foi excelente. Eles se esqueceram que sou o chefe supremo das Forças Armadas?
Jair Bolsonaro, em reunião com ministros em 2022
Bolsonaro também aparece defendendo uma nota conjunta que diria que "a lisura das eleições são (sic) simplesmente impossíveis de ser (sic) atingidas". A ideia dele era de que o texto fosse assinado por integrantes da Comissão de Transparência do TSE, e que a nota fosse subscrita pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) para "dar credibilidade".
A operação
Jair Bolsonaro foi alvo de busca e apreensão. O mandado foi autorizado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Os agentes foram até a casa de Bolsonaro em Angra dos Reis (RJ) para recolher seu passaporte. Como o documento não estava no local, foi dado o prazo de 24 horas para a entrega. O passaporte foi apreendido no início da tarde, em Brasília, na sede do PL.
Valdemar Costa Neto foi preso em flagrante por posse ilegal de arma. O presidente do PL foi alvo de buscas na operação Tempus Veritatis, que mira suposta organização criminosa que tentou dar um golpe de Estado para manter Bolsonaro na presidência.
A PF também apreendeu o celular de Tércio Arnauld Thomaz, ex-assessor do ex-presidente. Ele estava em Angra com Bolsonaro.
O coronel Marcelo Costa Câmara e Filipe Martins, ex-assessores de Bolsonaro, também foram presos. A PF ainda prendeu Rafael Martins de Oliveira, major do Exército.
Ex-ministros de Bolsonaro são alvos de busca e apreensão. Entre os alvos da PF estão Braga Netto, Augusto Heleno, Anderson Torres e Paulo Sérgio Nogueira.
A defesa de Jair Bolsonaro (PL) criticou a apreensão do passaporte do ex-presidente e argumentou que ele sempre esteve à disposição da Justiça. "A medida se mostra absolutamente desnecessária e afastada dos requisitos legais e fáticos que visam garantir a ordem pública e o regular andamento da investigação, os quais sempre foram respeitados", diz a nota.