Milei critica perseguição judicial a Bolsonaro, a quem chama de 'amigo'
Hygino Vasconcellos
Colaboração para o UOL, em Balneário Camboriú
07/07/2024 18h27
O presidente da Argentina Javier Milei criticou a "perseguição judicial" sofrida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro no Brasil. Porém, não fez referência direta a determinada pessoa.
O político participou neste domingo (7) do congresso conservador CPAC Brasil, que ocorria desde ontem em Balneário Camboriú, em Santa Catarina.
O que aconteceu
Milei disse que Bolsonaro "sofre perseguição judicial", porém não citou nomes. Declaração ocorreu após presidente da Argentina apresentar um panorama do "fracasso" do socialismo. "Como o socialismo é insustentável e necessariamente fracassa, os governos que seguem nele, terminam sendo rechaçados pela sociedade ou terminam violando a liberdade e jogando com a vida de seus cidadãos para se preservar no poder", disse o presidente argentino.
"Dispostos a torcer as regras", diz presidente argentino. Milei disse que as mesmas pessoas que "enchem a boca" para falar de democracia, pluralismo e opressão são os que "estão dispostos a torcer as regras inclusive interrompendo a ordem constitucional" para se manter no poder.
Antes de falar de Bolsonaro, o presidente argentino citou a situação da Venezuela e da Bolívia. Neste último caso, comentou do ocorrido em 2019, quando Evo Morales tentou concorrer a mais um mandato - ele já estava no poder há 13 anos. "Vejam a perseguição judicial que sofre nosso amigo Jairo Bolsonaro aqui no Brasil", disse o presidente argentino, sendo aplaudido.
Milei pede que o conceito de justiça seja recuperado. "Em nome da justiça social, estão cometendo atrocidades mais injustas. Em nome da justiça social estão expropiando riquezas construídas por gerações", disse o presidente. Para Milei, fazer justiça não é apenas que "todos sejamos iguais". "Justica é poder tentar uma vida melhor e realizar esse plano se possível. Justiça é que cada um sonhe em ser dono de sua vida ou como nós dizemos: que cada possa voltar a ser o arquiteto do seu próprio destino. Isso sim é justiça", complementou.
Em discurso, presidente argentino não faz citação a Lula. Nos dois dias do congresso conservador, o nome de Lula foi um dos mais falados nas palestras - e não faltaram imagens e frases jacosas. Porém, na fala de quase 30 min de Milei, não foi feita nenhuma menção ao político.
Socialismo até apresenta bons resultados no começo, mas não se sustenta a longo prazo, entende Milei. Segundo o presidente, inicialmente, são usadas reservas econômicas e outros ativos. "Em um primeiro momento a economia cresce. Mas quando o dinheiro acaba, tendem a aumentar os impostos. É uma bonança fictícia".
Milei foi recebido como "popstar". A entrada do presidente argentino lotou o auditório do Expocentro onde ocorria o CPAC Brasil. Até então o espaço - que tem capacidade para 3 mil pessoas - sempre tinha dezenas de cadeiras vazias ao fundo. Porém, isso não foi registrado hoje durante a fala de Milei. Ao ver o presidente argentino ingressar ao palco, o público se levantou e foi aos gritos. "Milei, Milei, Milei", gritaram.
Pacto com Bolsonaro. Após discursar, Milei foi em direção a Bolsonaro que estava no centro do palco. Os dois se abraçaram efusivamente e se voltaram para o público. Lado a lado, eles deram as mãos e por diversas vezes, as ergueram para cima e para baixo.
Milei chegou ao Brasil na noite de sábado. No vídeo divulgado nas redes sociais do ex-presidente, Milei e Bolsonaro aparecem na companhia do governador de Santa Catarina, Jorginho Mello. O momento foi registrado por meio de um vídeo por Eduardo Bolsonaro.
Bolsonaro entrega medalha de 'imorrível, imbrochável e incomível' a Milei. A medalha entregue pelo político brasileiro ao argentino tem os três "is". O objeto faz referência à fala em que Bolsonaro classificou a si mesmo como "imbrochável, imorrível e incomível". O presidente argentino é um dos palestrantes previstos para falar no evento.
Ex-presidente costuma entregar o objeto como presente para aliados. Em junho, Bolsonaro entregou a medalha para o prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Milei não participa de Cúpula do Mercosul, que inicia amanhã em Assunção, no Paraguai. É a primeira vez que a cúpula do Mercosul se reúne sem um dos chefes de estado. Enquanto o presidente da Argentina Javier Milei decide não participar da reunião, Luis Arce representa pela primeira vez a Bolívia como membro-pleno do bloco.
De acordo com o porta-voz Manuel Adorni, a agenda do presidente argentino está sobrecarregada e, por conta disso, ele não pretende participar da reunião com outros chefes de estado.