Escola Vladimir Herzog desiste de modelo cívico-militar em SP após pressão
Criticada por pedir ao governo estadual a adoção do modelo cívico-militar de ensino, a Escola Estadual Jornalista Vladimir Herzog, em São Bernardo do Campo (SP), desistiu da mudança.
O que aconteceu
A decisão foi tomada ontem (21) pela unidade de ensino. A mudança ocorreu após a repercussão nos últimos dias, com a reação da família do jornalista, que foi assassinado pela ditadura militar na década de 1970, e do instituto Vladimir Herzog. A Secretaria de Educação de São Paulo confirmou a desistência, que partiu da própria escola.
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Após a informação de que a escola desejava aderir ao modelo, o Instituto Vladimir Herzog protestou. "É uma afronta inadmissível a mera cogitação de que seja militarizada uma escola que leva o nome de Vladimir Herzog, jornalista brutalmente assassinado por agentes da ditadura civil militar", disse, em nota.
Na semana passada, 302 escolas estaduais se manifestaram favoravelmente ao modelo. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) quer implantar a educação cívico-militar em 45 escolas paulistas no próximo ano.
O pedido dos 302 diretores, porém, é insuficiente para ratificar a mudança no modelo de ensino. Alunos, professores e outros membros da comunidade escolar precisam ser ouvidos em três consultas públicas.
O Ministério Público e a Defensoria Pública querem barrar o programa. Eles protocolaram uma ação civil pública pedindo sua suspensão, contrariando orientação do Ministério da Educação.
Para o sindicato dos jornalistas, a medida é inconstitucional. "É uma aberração que só interessa a setores de extrema direita que pretendem militarizar o ensino e abrir caminho ao fascismo", diz em nota.
Vemos com bons olhos o recuo da direção da escola, especialmente porque demonstra a importância do vigor das manifestações e da pressão social.
Instituto Vladimir Herzog, em nota
O assassinato
Herzog era jornalista da TV Cultura em 1975 quando foi chamado para se apresentar ao DOI-CODI. O órgão de repressão da ditadura decidiu não liberar o jornalista, que acabou torturado e assassinado na prisão.
Na época, o Exército alegou suicídio. Chegou a divulgar uma foto em que Herzog aparecia enforcado com os joelhos rentes ao chão. Em 1978, porém, a Justiça responsabilizou a União pela detenção, tortura e morte do jornalista.
Em 2013, seu atestado de óbito mudou para "lesões e maus-tratos sofridas em dependência do Exército". Em 2018, a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Estado brasileiro pelo homicídio.