Ex-chefe da Receita falta pela 2ª vez a depoimento sobre 'Abin paralela'
O ex-secretário da Receita Federal José Barroso Tostes Neto faltou pela segunda vez ao depoimento na Polícia Federal na investigação sobre a "Abin paralela".
O que aconteceu
Depoimento estava marcado para esta segunda-feira (29). A Polícia Federal intimou o ex-secretário após ele pedir o adiamento do depoimento na semana passada.
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PF quer ouvir Tostes Neto sobre suposta ajuda para defesa de Flávio Bolsonaro. Áudio de reunião entre Jair Bolsonaro e as advogadas do senador, realizada em agosto de 2020, mostra que o então presidente orientou que elas falassem com Tostes Neto, na época chefe da Receita.
Ramagem sugeriu estratégia. Também participaram da reunião Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e o ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) Augusto Heleno. Áudios mostram Ramagem e Bolsonaro discutindo estratégias para a defesa do filho de Bolsonaro, que na época era investigado por suspeita de rachadinha.
Desde que o áudio veio à tona, Tostes Neto ainda não se manifestou. O UOL tentou contato com sua defesa, mas ainda não conseguiu retorno. O espaço está aberto a comentários.
Defesa alegou acesso ilegal. Na época da reunião, uma das estratégias da defesa de Flávio Bolsonaro foi acusar os auditores da Receita Federal de acessarem indevidamente os dados fiscais do senador. Investigação sobre Flávio teve origem em um relatório do Coaf feito por auditores da Receita que apontou movimentação financeira atípica do parlamentar.
Advogadas se encontraram com Tostes Neto após reunião com Bolsonaro. Juliana Bierrenbach e Luciana Pires se reuniram com Tostes Neto na Receita no dia seguinte ao encontro no qual foi sugerida a agenda. A defesa de Flávio Bolsonaro acabou conseguindo anular o processo das rachadinhas contra ele em 2021.
O áudio da reunião faz parte da investigação sobre a atuação da "Abin paralela". Polícia Federal aponta que agência de inteligência teria sido utilizada para perseguir desafetos, produzir dossiês, monitorar opositores e auxiliar as defesas dos filhos do ex-presidente.
Ramagem indica caminho para a defesa
Na reunião realizada em 2021, Ramagem propõe abrir procedimentos administrativos contra os auditores fiscais. Seria um passo para anular as investigações, e Bolsonaro concorda. O processo contra Flávio foi arquivado em 2022.
Bolsonaro pergunta quem mais resolveria o caso. A conversa indica que Bolsonaro teria utilizado de seu cargo para buscar ajudar a defesa do filho. Ele questiona com quem elas gostariam de falar para resolver o assunto. Em resposta, elas indicam que o melhor caminho seria o então chefe do Serpro, Gustavo Canuto. Na época, a defesa discutia uma estratégia para derrubar um relatório financeiro que apontava movimentações atípicas de Flávio Bolsonaro.
Após a revelação da gravação, Flávio Bolsonaro negou ter relação com a Abin. Segundo ele, a defesa focava em questões processuais, portanto, a Abin não teria nenhuma utilidade. Com o vazamento do áudio, ele criticou novamente a investigação. "O áudio mostra apenas minhas advogadas comunicando as suspeitas de que um grupo agia com interesses políticos dentro da Receita Federal e com objetivo de prejudicar a mim e a minha família. A partir dessas suspeitas, tomamos as medidas legais cabíveis."