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Médico de SP que defendeu cloroquina ganha eleição polarizada no CFM

O médico Francisco Cardoso (à esq.) e o empresário Luciano Hang (à dir.) em vídeo pedindo voto à chapa 2 na eleição para o CFM em São Paulo Imagem: Reprodução/Instagram

Do UOL, em São Paulo

07/08/2024 22h26Atualizada em 10/08/2024 10h10

O infectologista Francisco Cardoso será o representante de São Paulo no Conselho Federal de Medicina após uma disputa polarizada, que envolveu mensagens apócrifas e até denúncia à PF.

O que aconteceu

Chapa de Cardoso, autointitulada a "única chapa de direita para o CFM" teve 37,97% dos votos válidos. Em segundo lugar, veio a chapa da pediatra Melissa Palmieri, com 34,13%. A eleição se encerrou às 20h desta quarta-feira (7).

Veja os resultados da eleição para o CFM em São Paulo:

Relacionadas

  • Chapa 2 - Força Médica: 37,98%
  • Chapa 3 - Consciência CFM: 34,13%
  • Chapa 1 - Por Uma Categoria Médica Mais Forte: 15,25%
  • Chapa 4 - Experiência e Inovação: 12,64%

Cardoso ficou conhecido por defender o uso de medicamentos para tratamento precoce da covid-19 na CPI da Covid no Senado. "De todos os remédios testados, o que apresentou inicialmente o melhor desempenho foi a cloroquina e sua prima farmacológica, a hidroxicloroquina", disse ele em sessão em junho de 2021 — contrariando a OMS, que concluiu que o medicamento não funciona contra a doença e pode causar efeito adverso.

Médicos de todos os estados e no Distrito Federal elegeram um conselheiro titular e um suplente para os próximos cinco anos, até 2029. A participação era obrigatória para todos os profissionais de até 70 anos.

Eleição em São Paulo virou caso de polícia

O CFM informou, em julho, que acionou a PF para apurar mensagens nas redes sociais que imitavam comunicados institucionais pedindo voto. Segundo o conselho, os conteúdos usavam a logomarca e a identidade visual do órgão sem autorização.

Além das mensagens possivelmente enganosas, médicos também disseram ter recebido SMS de número desconhecido. Vários profissionais relataram ter recebido uma mensagem pedindo apoio à "única anti-L 13". O texto dizia: "Conselho Federal de Medicina 2024: Chapas de SP que votaram no L (13): 1,3 e 4. Única chapa anti-(L-13): 2. Apoie chapa 2: dias 06/07 agosto."

Médicos dizem ter recebido mensagem orientando voto para eleição do CFM em São Paulo Imagem: Reprodução/Instagram

Candidatos das demais chapas condenaram a mensagem. "Vários colegas receberam essa mensagem sem qualquer consentimento prévio, além da mensagem ter um cunho eleitoreiro", disse Melissa Palmieri, da chapa 3. "A eleição para o conselho de medicina deve ser despolitizada, visar a ética, a moral e a legalidade."

Titular da chapa 2, Francisco Cardoso negou autoria do disparo. "Desconheço, não sei de onde veio", respondeu ele ao ser questionado sobre o SMS pela reportagem. "Procurei várias pessoas e ninguém no meu entorno recebeu essa mensagem."

O médico disse, porém, que deixa seu posicionamento político claro. "Sou conhecido por ser o único [candidato] que não apoia o atual governo", disse. "Um exemplo: o presidente da República trabalha para todos, não só para quem o elegeu, mas isso não quer dizer que ele não possa ter um posicionamento. É a mesma coisa."

Chapa 2 publicou fotos e vídeos nas redes sociais com apoio do dono das lojas Havan, Luciano Hang. "Precisamos de pessoas que defendam a vida e a autonomia médica", diz na propaganda o empresário, que apoiou o governo de Jair Bolsonaro (PL).

Por que eleição no CFM importa

Resoluções da entidade regem atuação médica. Por exemplo, o CFM aprovou a proibição da assistolia fetal, procedimento usado em interrupções de gravidezes com mais de 22 semanas.

Restrição poderia dificultar o acesso a abortos nas situações previstas pela lei. A norma foi suspensa pelo STF após ação do PSOL, que argumenta que ela é inconstitucional. A medida ainda será analisada no plenário da Corte.

Decisões anteriores também geraram polêmica. Em 2022, o CFM restringiu a prescrição de CBD medicinal, e em 2021, foi alvo de uma ação da Defensoria Pública da União após permitir uso de medicamentos sem comprovação científica no tratamento de pacientes com covid.

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