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Ex-ministro detalha plano bolsonarista gestado na eleição de Trump

Gilson Machado Neto e Gilson Machado Guimarães participam de evento de Trump com Eduardo Bolsonaro Imagem: Arquivo pessoal / Gilson Machado

Do UOL, em São Paulo

10/11/2024 05h30

Enquanto a mesa central de um espaço de eventos no resort de luxo Mar-a-Lago, em Palm Beach, mostrava Donald Trump a poucos minutos de comemorar a vitória que o confirmou como novo presidente dos Estados Unidos, três brasileiros tiravam uma selfie para registrar o entusiasmo com o plano político desenhado para o futuro do Brasil.

O ex-ministro do Turismo de Jair Bolsonaro, Gilson Machado Neto, e o filho dele, Gilson Machado Guimarães, ambos filiados ao PL, estavam sentados em um mesa bem perto do palco em que se encontrava Trump e seu entourage. Pai e filho "rezavam" pelo presidente recém-eleito e projetavam que a vitória poderia "trazer coisas boas" para o Brasil. Na mesa ao lado, estava o deputado federal Eduardo Bolsonaro.

O que aconteceu

Os três foram os únicos políticos brasileiros a participar do evento. Foram quatro dias de viagem aos Estados Unidos para, segundo os envolvidos, planejar os próximos dois anos da extrema direita.

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Os quatro dias que Gilson pai, Gilson filho e Eduardo Bolsonaro ficaram nos EUA não foram apenas para comemorar a volta do republicano à Casa Branca. Foram marcados almoços e jantares com conversas estratégicas para o início de 2025 e 2026. "A gente vai voltar em 2026 e vai voltar forte", crava o ex-ministro de Bolsonaro.

O convite para participar da comitiva no resort de luxo de Trump veio no ano passado, segundo pai e filho. Guimarães diz que é próximo à família Bolsonaro desde 2016. "Estava na pré-campanha, temos uma relação boa, acompanhei Bolsonaro de perto na presidência", diz. Já o pai, que ficou conhecido na internet como "sanfoneiro de Bolsonaro" por ter aparecido em lives com o instrumento, se tornou um dos nomes mais próximos de Bolsonaro.

Encontro mostra alinhamento político entre políticos brasileiros e Trump. "Não víamos registros pessoais de parlamentares brasileiros com Trump desde que ele deixou a Casa Branca. Todos os outros encontros anteriores não foram com Trump, mas com deputados alinhados a ele", diz Guilherme Casarões, cientista político da FGV e coordenador do Observatório da Extrema Direita. "A participação deles na cerimônia tem um peso político e simbólico."

Plano é seguir a receita de Trump nos EUA e contar com a pressão sobre o STF para reverter a inelegibilidade de Jair Bolsonaro. "O que acontece nos Estados Unidos acontece no Brasil", acredita Machado Neto. O filho do ex-presidente aproveitou a eleição para traçar esse paralelo em suas redes sociais.

Musk, o 'grande aliado'

"Vamos usar as redes sociais para fortalecer nossa rede de comunicação e obter respaldo popular", diz Machado Neto. O "cabeça do movimento", segundo ele, é Eduardo Bolsonaro: "Ele não diz, ele determina". Segundo Machado Neto, uma das frases ditas por Eduardo a ele durante a viagem foi: "A gente tem que fortalecer quem não negocia com a liberdade de expressão".

Eduardo Bolsonaro se refere ao episódio envolvendo o ministro do STF Alexandre de Moraes e o bilionário Elon Musk. O embate ganhou reforço nos EUA quando parlamentares republicanos ergueram uma foto de Moraes no Congresso, alegando que ministros do STF teriam usado cargos para silenciar a liberdade de expressão no Brasil ao se referir à suspensão do X determinada pelo ministro. "Temos um grande aliado, que é o Elon Musk", diz o ex-ministro.

"Apoio total de Elon Musk" para os próximos passos. "A gente planeja acionar o STF através da Câmara com um projeto pela anistia dos presos envolvidos no 8 de Janeiro e contra a inelegibilidade de Bolsonaro com apoio total de Elon Musk", disse Machado Neto ao UOL.

Plano bolsonarista passa pelo fortalecimento da extrema direita no Congresso e Senado. A meta é seguir o mesmo roteiro desenhado por Trump, que conseguiu maioria no Senado e terá vantagens na Câmara. O republicano também encontrará cenário favorável na Suprema Corte graças aos magistrados que indicou no último mandato, o que lhe garantiu conservadora. Segundo ele, a meta é eleger um senador em cada estado. "Queremos colocar um nome forte em cada estado", diz.

Bolsonaro recebeu convite para ir à posse do republicano. A expectativa dos bolsonaristas que estavam na comitiva é que Bolsonaro consiga ir à cerimônia que reconduzirá Trump à Casa Branca. "Tem que acabar com esse negócio de reter passaporte. Acho que ele vai conseguir ir para a posse", disse.

Bolsonaro depende da autorização de Moraes para viajar. O documento dele foi apreendido em meio às investigações de uma tentativa de golpe para impedir a posse de Lula em 2022.

Musk próximo a Trump reforça pressão contra ministros brasileiros. Segundo Casarões, a figura do bilionário pode dar um peso maior se o objetivo for avançar em alguma tática "personalizada" contra Alexandre de Moraes. "Mas essas possibilidades de pressão sobre o STF podem ocorrer independentemente do lugar que ele ocupe no governo", diz.

Os dois primeiros caminhos são possíveis com o Trump com maioria nas casas legislativas. Se ele decidir priorizar o Brasil, teria um custo baixo ao avançar com essas medidas e com potencial de ganhar uma lealdade por parte de um eventual futuro governo brasileiro.
Guilherme Casarões, cientista político da FGV

Hambúrguer, salada e Trump

Eduardo, Gilson pai e Gilson filho se encontraram nos EUA na segunda-feira (4). Na terça-feira (5), os três se juntaram a 75 outras pessoas em uma sala reservada para convidados de Trump com quatro telões. Lá, Trump acompanhou a apuração dos votos nos estados. "Quando a gente viu que íamos ganhar as eleições, fomos para o Convention Center para acompanhar de perto", diz Guimarães. Ao lado, mais 250 convidados do republicano acompanharam os resultados.

Trump ficou no backstage, e bolsonaristas, ao lado do palco. Machado Neto diz que minutos depois que o republicano começou a discursar, antes mesmo de a vitória ser oficialmente confirmada, ele, o filho e Eduardo Bolsonaro se juntaram aos outros apoiadores de Trump que participavam do evento. "Com Trump, não tive oportunidade de conversar. Depois ele passou de mesa em mesa e o parabenizamos pela vitória", disse.

Almoço antes de retornar ao Brasil teve hambúrguer e salada. O encontro entre o sanfoneiro de Bolsonaro e Eduardo teve cerca de 1h40 de duração no pier de Palm Beach e serviu para ambos planejarem os próximos passos da extrema direita no Brasil. "Vamos alinhar o futuro com nosso líder, que é o Bolsonaro. Nossa prioridade é Bolsonaro elegível para 2026 e o Brasil pacificado." Para ele, pacificar significa dar anistia aos condenados pelos ataques aos Três Poderes.

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