Topo

PF: General com plano para matar Lula 'assessorou' Bolsonaro após derrota

Presidente Jair Bolsonaro conversa com eleitores no cercadinho do Palácio da Alvorada

Colunista do UOL e oo UOL, em Brasília e São Paulo

19/11/2024 12h32Atualizada em 19/11/2024 17h59

O general da reserva Mario Fernandes, que tinha em seus aparelhos eletrônicos um plano para assassinar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes, comemorou quando Jair Bolsonaro (PL) aceitou o "assessoramento" dele, segundo a Polícia Federal, e rompeu o silêncio para falar com apoiadores 40 dias após a derrota para Lula em 2022.

O que aconteceu

General foi preso nesta terça-feira (19) suspeito de ser um dos principais articuladores do plano golpista e homicida. Ele foi detido no Rio, onde estava para assistir à formatura de um filho, que é capitão em um curso de aperfeiçoamento do Exército.

Investigação da PF reuniu vários elementos, incluindo mensagens, arquivos encontrados em buscas e depoimentos do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid. Eles apontam que Mario Fernandes teria estado no Palácio do Planalto num dia em que Bolsonaro estava presente. Na ocasião, o plano golpista foi impresso lá. O militar seria, nas palavras de Cid, um radical que teria insistido no golpe antes mesmo do segundo turno.

Relacionadas

A PF recuperou conversas de Fernandes com Cid que indicam que o general "assessorou" Bolsonaro para dar seu primeiro discurso após a derrota para Lula em 2022. O ex-presidente ficou recluso após o segundo turno e só falou com apoiadores do cercadinho do Alvorada no dia 9 de dezembro. Mensagem de Fernandes para Cid no mesmo dia comemora o fato e aponta que o discurso teria sido uma sugestão do próprio general.

PF encontrou novas mensagens nas quais Mario afirma ter se encontrado com Bolsonaro dia 8 de dezembro. Em mensagem de Whatsapp para Mauro Cid naquele dia, Fernandes afirmou ter se encontrado com Bolsonaro e ouvido do então presidente que a diplomação de Lula, no dia 12 não seria uma "restrição" e que "qualquer ação nossa pode acontecer até dia 31".Ele também indicou ser o elo com os manifestantes, incluindo representantes do agronegócio e dos caminhoneiros, grupos que estavam na linha de frente das manifestações em frente aos quartéis-generais em 2022. PF ainda encontrou várias mensagens do general com acampados no QG de Brasília que reforçam isso.

"Força, Cid. Meu amigo, muito bacana o presidente ter ido lá na frente ali no Alvorada e ter se pronunciado, cara. Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento. Porra, deu a cara pro público dele, pra galera que confia, acredita nele até a morte. Foi muito bacana mesmo, cara. Todo mundo vibrando. Transmite isso pra ele. E vou te colocar aqui abaixo um texto que eu recebi do Lucão, que é o Duílio, que é um caminhoneiro famoso aí pra caramba, que tá lá no QG já há mais de 30 dias. E aí possa, ele se emocionou, tava com a família aí, e assistiu hoje lá in loco, presencialmente, as palavras do presidente, cara. Olha aqui, o texto abaixo que ele mandou. Se tu avaliar que é coerente, mostra pro presidente também, cara. Força!
Mensagem do general Mario Fernandes para Mauro Cid em 9 de dezembro de 2022

Foi em um HD externo de Fernandes que a PF encontrou planos para assassinar Lula, Alckmin e Moraes e também para instituir um "gabinete institucional" após a morte deles. Segundo a PF, os documentos indicam que a operação ocorreria no dia 15 de dezembro de 2022, três dias após a diplomação de Lula. Na sequência, no dia 16, seria instaurado um "Gabinete Institucional de Gestão de Crise" institucional". A PF chegou a mapear que ao menos um dos militares investigados esteve nas imediações da residência oficial de Alexandre de Moraes na véspera da data em que estava prevista a execução no plano golpista.

General Mario Fernandes se encontrou com Bolsonaro antes de pronunciamento Imagem: Reprodução

PF aponta que plano era detalhado e que foi impresso por Fernandes no Planalto no dia 9 de novembro e depois levado ao Alvorada. Chamado de "Punhal Verde Amarelo" plano tinha detalhes como, cenários possíveis, reconhecimento operacional, número de pessoas e recursos necessários para a execução das autoridades, que segundo a PF eram identificadas pelos apelidos "Jeca" (Lula) e "Joca" (Alckmin).

Os metadados do documento denominado "PUNHAL VERDE E AMARELO", indicam que o planejamento foi elaborado pelo general da reserva MARIO FERNANDES, que na época dos fatos, era o Secretário-Executivo da Secretária-geral da Presidência da República. O documento, conforme descrito na IPJ n. 44/2024, traz em formato de tópicos o planejamento de uma operação clandestina, com demandas de reconhecimento operacional a serem realizadas, demandas para preparação e condução da ação (recursos necessários), demandas de pessoal a ser utilizado e condições de execução.

Trecho da representação da PF sobre o plano golpista encontrado com general Mario Fernandes

O general da reserva Mario Fernandes Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Além disso, general da reserva seria a ponte com os manifestantes golpistas acampados em frente ao QG do Exército. General era da turma conhecida como "kids pretos" nome dado aos integrantes das Forças Especiais do Exército, militares de elite do Exército brasileiro, treinados para ações de sabotagem e insurgência popular, conhecidas como "operações de guerra irregular", segundo reportagem da revista piauí. Eles integram o chamado Copesp (Comando de Operações Especiais).

General Mario Fernandes, em diálogo com Mauro Cid Imagem: Reprodução

A defesa de Bolsonaro foi procurada, mas não se manifestou até o momento. O UOL questionou o advogado Fabio Wajngarten, que representa Bolsonaro, se o ex-presidente tinha conhecimento dos planos do general Mario Fernandes apontados pela PF. Se houver manifestação, ela será incluída no texto.

Mauro Cid responde ao general Mario Fernandes Imagem: Reprodução

O que disse Bolsonaro a apoiadores em 9 de dezembro de 2022

Após 40 dias de silêncio e reclusão, o então presidente decidiu falar para seus apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada. O UOL registrou o discurso naquele dia. Confira os principais trechos.

Elogio aos protestos e atos golpistas:

O que aconteceu? Aconteceu algo que a gente não esperava em condições normais. O que aconteceu eu nunca vi no mundo. O povo ir à rua para um presidente ficar. Eu só vi, ao longo de 67 anos, o povo ir às ruas para tirar presidente, nunca vi para ficar.

Chefe das Forças Armadas:

Tenho certeza que entre as minhas funções garantidas na Constituição é ser o chefe supremo das Forças Armadas. As Forças Armadas são essenciais em qualquer país do mundo. Sempre disse ao longo desses quatro anos que as Forças Armadas são os últimos obstáculos para o socialismo. As Forças Armadas, tenho certeza, estão unidas, e devem, assim como eu, lealdade ao nosso povo, respeito à Constituição e são um dos grandes responsáveis pela nossa liberdade.

Futuro nas mãos dos apoiadores:

Quantas vezes nos irritamos quando alguém diz a verdade para nós? E hoje estamos vivendo um momento crucial, uma encruzilhada Quem decide o meu futuro, para onde eu vou, são vocês. Quem decide para onde vão às Forças Armadas são vocês, para onde vai a Câmara e o Senado, são vocês também. Eu só posso ser feliz se vocês também forem felizes, e devemos pensar exatamente dessa maneira: qual o futuro do brasil? Eu não vou falar do outro lado político, mas vou falar: qual o futuro do Brasil? O que aconteceu? Por que chegamos a esse ponto? Demoramos a acordar? Nunca é tarde para acordamos e sabemos da verdade. Logicamente, quanto mais tarde você acorda, mais difícil é a missão. Não é eu autorizo, não. É o que eu posso fazer pela minha pátria.

Devemos ver o que aconteceu em outros países. [Transmissão trava] Exatamente os mesmos erros, nada está perdido. O final, somente com a morte.

Nunca saí de dentro das quatro linhas da Constituição e acredito que a vitória será também dessa maneira. Dou a minha vida pela minha pátria.

Nós temos como mudar o futuro da nossa nação. Com o mesmo ingrediente, ninguém pode fazer um bolo diferente. Desse ingrediente que temos agora pela frente nós já sabemos lá atrás o que aconteceu. Vocês também estão aqui, não é por mim. É pelo país de vocês. Esse país que não existe nada igual no mundo todo, então o que eu digo a vocês, vamos acreditar, vamos nos unir, criticar só quando tiver certeza, buscar alternativas

Acredita na vitória:

Sabemos que o tempo voa. Cada minuto é um minuto a menos. Vamos fazer as coisas certas, diferentemente de outras pessoas. Vamos vencer, se manifestando de acordo com as nossas leis, vocês são cidadãos de verdade. Está na hora de parar de ser tratado como outra coisa aqui no Brasil. Acredito em vocês, vamos acreditar em nosso país. Se Deus quiser, tudo dará certo no momento oportuno

Silêncio após as eleições:

Estou há praticamente 40 dias calado. Dói, dói na alma. Sempre fui uma pessoa feliz no meio de vocês, mesmo arriscando a minha vida no meio do povo, assim como arrisquei em Juiz de Fora em setembro de 2018. Quase que eu deixei essa terra, se a facada tivesse sido fatal, vocês sabem quem seria o presidente do Brasil.

Patriotismo:

Se estou aqui, é porque, primeiro, acredito em Deus e segundo lugar porque devo lealdade ao povo brasileiro. Ao longo de quatro anos, vocês melhor me conheceram. Nós despertamos o patriotismo no Brasil O povo voltou a admirar a sua bandeira, voltou a acreditar que o Brasil tem jeito. Não é fácil você enfrentar todo um sistema.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

PF: General com plano para matar Lula 'assessorou' Bolsonaro após derrota - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade


Política