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Em homenagem, Gilmar ataca Lava Jato e é elogiado por ter apontado 'abusos'

02.dez.2024 - Gilmar Mendes, do STF, discursa ao receber título de cidadão honorário do DF Imagem: Reprodução / CLDF

Do UOL, em São Paulo

02/12/2024 16h01

O ministro Gilmar Mendes e outras autoridades fizeram ataques à operação Lava Jato, nesta segunda-feira (2), durante uma homenagem ao decano do STF na Câmara Legislativa do Distrito Federal.

O que aconteceu

Gilmar Mendes recebeu hoje o título de cidadão honorário do DF. Nascido em Diamantino (MT), o ministro se mudou para Brasília em 1974, aos 19 anos —a homenagem marcou os 50 anos da sua chegada à capital federal. Estavam presentes o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), e o procurador-geral da República, Paulo Gonet.

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A cerimônia foi marcada por críticas à Lava Jato. Gilmar, que discursou por mais de 50 minutos, falou que a cidade de Curitiba ficou "mal afamada por conta desses episódios de Moro, Dallagnol e companhia", em referência ao ex-juiz Sergio Moro (União-PR), hoje senador, e ao ex-procurador Deltan Dallagnol, que atuaram na operação na capital paranaense.

A crítica ocorreu após duas autoridades no evento atacarem a Lava Jato. O deputado distrital Ricardo Vale (PT-DF), que presidiu a cerimônia, e o secretário Gustavo Rocha, chefe da Casa Civil do governo do DF, afirmaram que o decano do Supremo foi a primeira autoridade do Judiciário a criticar os "desmandos" e "abusos" da investigação sobre desvios na Petrobras.

O deputado do PT elogiou Gilmar por seu posicionamento em relação ao presidente Lula (PT). Ricardo Vale disse que a Lava Jato "criou um Código de Processo Penal próprio" e desviou as atenções midiáticas do país para Curitiba. Segundo o petista, Gilmar foi "a primeira autoridade judiciária a dizer, fora dos autos que o presidente Lula não tinha tido o julgamento justo, e que a execração pública a que ele foi submetido não correspondia à verdade".

O chefe da Casa Civil do DF afirmou que a Lava Jato "enganava as pessoas". Gustavo Rocha declarou que Gilmar "foi o primeiro a levantar a voz contra os abusos que estavam sendo cometidos" pela operação, e que o ministro teve uma atuação firme "contra a opinião pública, que naquele momento estava sendo enganada, encantada pelos participantes daquela força-tarefa".

Gilmar entrou no assunto ao afirmar que Curitiba foi um centro de debates sobre a redemocratização. Ele disse que participou de discussões na cidade, na década de 1970, sobre temas como a restauração do habeas corpus, em eventos promovidos pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) durante a presidência do jurista Raymundo Faoro, morto em 2003.

Não é a Curitiba que ficou mal afamada, deputado, por conta desses episódios de Moro, Dallagnol e companhia. Era a Curitiba que abria senhas para um novo Brasil que nós trilhamos, e que foi extremamente importante
Gilmar Mendes, durante homenagem na Câmara do DF

Foi o ministro Gilmar Mendes a primeira autoridade do Judiciário a se manifestar publicamente contra os desmandos que vinham ocorrendo na famigerada operação Lava Jato, que criou um Código de Processo Penal próprio para ela e desviou todo o noticiário nacional para Curitiba
Deputado Ricardo Vale (PT)

Na época em que a operação Lava Jato ainda enganava as pessoas, os cidadãos do Brasil, o senhor [Gilmar Mendes] foi o primeiro a levantar a voz contra os abusos que estavam sendo cometidos. Isso vai ser lembrado para sempre
Gustavo Rocha, chefe da Casa Civil do Distrito Federal

Gilmar elogiou Lava Jato no início

O ministro foi favorável à Lava Jato em seus primeiros anos. Em setembro de 2015, quando a operação ainda não estava no auge, Gilmar afirmou que ela havia atrapalhado planos do PT de "se eternizar no poder" por meio do financiamento ilegal de campanha. "A Lava Jato estragou tudo. Evidente que a Lava Jato não estava nos planos porque o plano era perfeito, mas não combinaram com os russos", declarou o ministro à época. "Infelizmente para eles, e felizmente para o Brasil, deu errado", completou.

Gilmar foi criticado pelo PT ao barrar a posse de Lula na Casa Civil, em março de 2016. O petista, que já era alvo da Lava Jato, foi nomeado pela então presidente Dilma Rousseff para assumir a articulação do governo. O ministro suspendeu a nomeação com o argumento de que a medida buscava dar a Lula foro privilegiado no STF e tirar o caso das mãos de Sergio Moro.

Com o tempo, porém, o ministro passou a criticar a Lava Jato e a tomar decisões contra a operação. Em entrevista ao UOL, em fevereiro de 2021, o ministro afirmou que "o lavajatismo é pai e mãe do bolsonarismo". Ao longo dos últimos anos, o ministro anulou várias decisões tomadas pela Justiça Federal do Paraná. A mais recente, em outubro deste ano, foi a de todas as condenações contra o ex-ministro José Dirceu.

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