'Fornada' contra judeu e ebola para imigração: as falas polêmicas de Le Pen
Colaboração para o UOL
07/01/2025 14h33
Morreu nesta terça-feira (7) Jean-Marie Le Pen, o fundador do partido Frente Nacional (hoje rebatizado por Reunião Nacional sob a liderança de sua filha, Marine Le Pen) e considerado "pai" da extrema-direita francesa.
Conhecido por sua atitude quase teatral em discursos sempre marcados por polêmicas, Le Pen foi condenado na Justiça diversas vezes pelas declarações tidas como racistas, antissemitas e xenofóbicas. Relembre algumas delas:
'Ocupação nazista não foi inumana'
Em 2005, Le Pen disse à revista de extrema-direita Rivarol que "na França, pelo menos, a ocupação alemã não foi especialmente inumana, mesmo que tenham ocorrido diversos excessos — inevitáveis em um país de 550 mil km²".
Se os alemães tivessem cometido execuções em massa em todo o país, como afirma a visão convencional, não teria havido necessidade de campos de concentração para os deportados políticos.
'Fornada' contra judeu
Em uma nova alusão de mau gosto às câmaras de gás do Holocausto em 2013, Le Pen alfinetou um crítico seu, o cantor judeu Patrick Bruel:
Faremos uma fornada da próxima vez.
Ebola para acabar com a imigração
Durante um evento de campanha em Marselha, em 2014, Le Pen sugeriu que o vírus ebola poderia resolver "a explosão populacional" do planeta e, consequentemente, os "problemas de imigração" da Europa.
O sr. Ebola poderia resolver isso em três meses. [...] Em nosso país, e em toda a Europa, conhecemos um fenômeno cataclísmico — uma invasão migratória, meus amigos, de que estamos vendo apenas o começo.
Ele ainda disse temer que a população francesa fosse "substituída por imigrantes" e considerou a religião um agravante para o problema.
[O Islã] tem uma vocação dominadora, ainda mais quando eles se sentem fortes e numerosos.
Ligação entre homossexualidade e pedofilia
Em um dos vídeos semanais que compartilhava em seu site em 2016, Le Pen acusou homossexuais de promoverem a pedofilia.
O rebaixamento das regras morais é uma constante de uma sociedade decadente, e creio que a pedofilia, que encontrou as suas cartas de nobreza — mesmo que proibidas — na exaltação da homossexualidade, coloca em questão todas as profissões que abordam a infância e a juventude.
No ano anterior, um jornalista da AFP já havia reportado que ele teria afirmado, em reunião da Frente Nacional, que havia muitos homossexuais em seu partido. "Eles não me incomodam, desde que não ponham as mãos na minha braguilha ou nas dos nossos meninos e meninas." Ainda segundo ele, ser homossexual não era crime, mas uma "anomalia biológica".
'Raças não são todas iguais'
Em entrevista ao jornal francês Le Monde, em 2007, o político defendeu antigas observações consideradas racistas pela opinião pública francesa com novos comentários, um deles capacitista.
Uma pessoa velha não é igual a uma jovem, uma pessoa com uma perna só não é uma estrela da dança. Você não consegue contestar a desigualdade das raças, o que eu tenho apontado quando digo que é óbvio que negros são muito melhores do que brancos ao correr, mas brancos são melhores nadando.
Confissão de tortura
Apesar de ter negado sua declaração posteriormente em sua carreira política, Jean-Marie Le Pen confessou à revista Combat, em 1962, que torturou prisioneiros e apoiadores (da independência) da Argélia quando era legionário do exército francês.
Torturei porque era necessário. Quando alguém é trazido a você, alguém que plantou 20 bombas que podem explodir a qualquer momento e que não vai falar, você usa todos os métodos a seu dispor para fazê-los falar.
Presença 'fedida' de ciganos
Durante uma entrevista coletiva em Nice, em 2013, Le Pen fez comentários rejeitando a presença dos povos romani — também conhecidos genericamente como "ciganos" — na cidade, reportou a Al Jazeera na época.
Parece que vocês têm um problema com diversas centenas de 'roma' que têm uma presença irritante e, digamos, fedida, nesta cidade.
'Câmaras de gás foram um detalhe'
Em entrevista ao canal francês BFMTV-RMC, em abril de 2015, Le Pen fez o comentário que provocaria a sua expulsão do partido que fundou. O político categorizou as câmaras de gás, responsáveis pelo extermínio de milhões de judeus durante a Segunda Guerra, como um "detalhe na história" — e voltou a defender o argumento em entrevista posterior.
O que disse corresponde ao meu pensamento, que as câmaras de gás foram um detalhe da guerra, a não ser que você admita que foi a guerra que era um detalhe das câmaras de gás. [...] Eu acredito que esta é a verdade e isso não deveria chocar a ninguém. Instrumentalizaram este caso contra mim introduzindo um pouco de antissemitismo, mas eu desafio qualquer um a citar uma frase antissemita que eu tenha dito em minha vida política. A guerra é horrível, sabe, um fragmento de granada que rasga sua barriga, uma bomba que o decapita, uma câmara que o sufoca, tudo isso é muito desprezível, é verdade.
Nação 'mestiça' colocou França em risco
Em 2002, o político discursou que a cultura francesa estava em risco por causa de ideias americanas, conforme reportado pelo The New York Times. O motivo?
A América é uma nação mestiça.
Segundo Le Pen, crítico da miscigenação também cultural dos EUA, a União Europeia ajudava a disseminar e implementar estas ameaças à França.
Isolamento para quem tem Aids
Em 1987, Le Pen opinou no programa de TV "A Hora da Verdade" que pacientes com Aids fossem isolados em centros exclusivos e chocou ao afirmar:
Quem sofre de Aids, ao transpirar o vírus pelos seus poros, ameaça a estabilidade da nação. A Aids pode ser espalhada através do suor, saliva e do contato. É um tipo de lepra.