Com fundo eleitoral de R$ 147 mi, PSDB busca fusão e conversa com 4 siglas

O PSDB vai decidir em fevereiro sobre uma eventual fusão do partido, segundo o presidente nacional da legenda, Marconi Perillo. Os tucanos têm feito conversas com o MDB, PSD, Podemos e Republicanos — as duas primeiras siglas têm discussões mais avançadas com as lideranças.

O que aconteceu

Definição ocorrerá em fevereiro com a retomada dos trabalhos no Congresso. No PSDB, a ideia é que a nova configuração a ser adotada pelo partido passe a valer a partir de março. Além da fusão, a incorporação ou revisão da federação formada desde 2022 com o Cidadania são outros desfechos possíveis.

Parlamentares e ex-governadores tucanos têm feito reuniões e sido consultados sobre mudança. Presidentes e outras lideranças do partido também participam das conversas, segundo Perillo. O deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) convocou uma reunião no final do ano passado com o presidente do MDB, Baleia Rossi, e também discutiu o tema com a presidente do Podemos, Renata Abreu.

Partido que se fundir com PSDB ficará com fundo partidário de R$ 147 milhões. Além dos três governadores, os tucanos têm 13 cadeiras na Câmara dos Deputados e um senador: Plínio Valério (AM). A legenda que se unir a eles também leva o tempo de TV do qual a legenda dispõe na propaganda partidária e aquela veiculada no período eleitoral.

Benefícios do PSDB são estratégicos para os partidos em 2026. Por isso, mesmo com o desempenho pífio da legenda nas últimas eleições, os tucanos têm sido pleiteados por grandes siglas, como MDB e PSD. "Eles unem recursos humanos e até recursos financeiros para atuarem com maior força nas próximas eleições. Os partidos que decidem por uma fusão têm maior robustez para o cenário competitivo dos demais partidos", explica Renato Ribeiro de Almeida, coordenador da Abradep (Academia Brasileira de Direito Eleitoral).

Estamos conversando internamente e com vários partidos que têm nos procurado. A decisão que tomamos é que a gente vai aprofundar esse diálogo interno e externo após a retomada dos trabalhos do Congresso Nacional. Em fevereiro, pretendemos anunciar alguma decisão.
Marconi Perillo, presidente da federação PSDB-Cidadania

Possível saída de governadores gera "desespero" entre tucanos. Uma pessoa próxima ao partido diz que, sem grandes nomes, a legenda perde poder de barganha nas negociações em curso. Por outro lado, há interesse dos governadores em usar o movimento para se aproximar de Lula (PT). A exceção seria Eduardo Leite (PSDB-RS), que foi cobiçado no pleito de 2022 pelo PSD.

PSDB "foi ficando pequeno", disse Raquel Lyra. Ao jornal Folha de S.Paulo, a governadora de Pernambuco afirmou que a situação mostra "que algo está errado", mas não quis confirmar ida para PSD —nos bastidores, a mudança dela é tratada como a mais provável. O governador Eduardo Riedel (PSDB-MS) é outro que deve migrar para o partido de Gilberto Kassab.

Lideranças tucanas negam que a fusão possa acontecer por medo de perder governadores. Perillo disse ao UOL que o partido trabalha para que a mudança "seja coletiva, e não individual ou de forma oportunista".

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PSDB tem perdido protagonismo desde as eleições de 2022. Na ocasião, Rodrigo Garcia (hoje sem partido) não passou para o segundo turno na disputa do governo de São Paulo —depois de 27 anos, o partido pela primeira vez deixou de governar o estado paulista. No ano passado, a legenda perdeu toda sua bancada na Câmara de Vereadores paulistana.

Disputas locais

Negociações envolvem disputas locais (veja o mapa). Em lugares como São Paulo, tucanos tendem a preferir hoje a união com o PSD, que é mais forte no estado. Já em Minas, o mesmo motivo move a preferência para o MDB. Há ainda casos como Rio Grande do Sul, em que o MDB é atualmente o principal rival dos tucanos.

Escolha por um dos partidos beneficia integrantes específicos do PSDB. Há estados em que o MDB tem lideranças consolidadas e, segundo apurou o UOL, os tucanos temem que novos membros da sigla não seriam colocados como prioridades em decisões para pleitos.

Disputas políticas também passam por afinidade política. O PSD no Ceará é ligado ao PT de Lula, a quem o PSDB faz forte oposição. O governador Helder Barbalho (MDB-PA) também é próximo do presidente e tem participado das discussões de fusão com os tucanos.

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O PSDB não deve e não vai tomar decisões pautadas em questões locais. Vamos pensar e focar no que o Brasil quer e precisa. Quando isso ocorreu [pensar na disputa local], deu no que deu e saímos do jogo político.
Aécio Neves, deputado federal do PSDB

A briga entre PSD e MDB sobre quem irá sacramentar a fusão pode dar a eles um espaço importante na política. Com os R$ 147 milhões do fundo eleitoral do PSDB, qualquer uma das siglas que seguir com os tucanos ficará entre os três maiores partidos em termos de dinheiro —perdendo apenas para PL de Jair Bolsonaro e o PT de Lula, segundo os dados das eleições de 2024.

Republicanos e Podemos também são apontados como possíveis parceiros do PSDB numa eventual fusão. Procurados, representantes dos partidos não retornaram à reportagem. Já Paulinho da Força, presidente nacional do Solidariedade, disse que as conversas com os tucanos são para formar federação e que a sigla não está no projeto de fusão.

Situação impacta Cidadania

Caso eventual mudança se confirme, federação PSDB-Cidadania deve se desfazer. De acordo com Comte Bittencourt, presidente nacional do Cidadania, a tendência é que, com a separação, o partido volte a existir de forma isolada a partir de março. "Não estamos participando de nenhuma conversa de fusão", disse ele.

Apesar de parceria de dois anos, partidos não se entenderam. Nos bastidores, questões como a saída de nomes como Dr. Furlan (MDB) —prefeito de capital mais votado do país em 2024— em Macapá e do governador João Azevedo (PSB) na Paraíba geraram descontentamento por parte de membros do Cidadania.

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Apoio a Eduardo Paes (PSD) no Rio também foi motivo de discórdia. Na última eleição, a federação optou por Marcelo Queiroz (PP), que terminou com o 3º lugar na disputa e menos de 80 mil votos. Interlocutores dizem que Aécio não quis apoiar Paes por conta do prefeito reeleito não tê-lo apoiado em 2014.

A experiência da federação não foi positiva para o Cidadania. Não se construiu uma identidade programática.
Comte Bittencourt, presidente nacional do Cidadania

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